Às 21h eu e Tina estamos na Nigth Rainbow.
O som barulho da música eletrônica, misturado ao som das vozes me deixa tonto. O palco do piso térreo é arrumado para um show, lá na pista de dança no piso inferior, toca um remix de Girls Just Want To Have Fun. O bar lá em cima está apinhado de gente.
- Acho que ele vai se apresentar aqui de novo - fala tina.
Ela raspou o cabelo bem baixinho. Usa um vestido de couro, bem curto e botas.
- Vamos pegar algo pra beber.
Subimos a escada em espiral até o bar.
Tina pede uma batida de kiwi e abacaxi e eu um Martíni.
- Vamos dançar um pouco - fala Tina me puxando escada abaixo.
Nos movemos ao som de I Love It.
Ao olhar pra cima, vejo Ed com uma bebida na mão, nos olhando.
- Droga - falo.
- O que foi?
- Ed está aqui.
- Como?
Aponto com a cabeça e ela vira pra olhar.
- O que vai fazer agora?
Não sei o que falar.
- Talvez falar a verdade.
- O show da nossa adorável Ceryne Roubichoux vai começar em alguns instantes.
- É agora - falo e seguro a mão de Tina. Subimos a escada o mais rápido que podemos.
Ed se aproxima.
- Preciso falar com você - ele fala.
- Agora não - sou um tanto grosso.
Aquilo o atinge. Seus lábios tremem.
- Marcus, porque tá me evitando?
- Conversamos depois Edgar - tento parecer firme.
Seguro as lágrimas. Tina fica calada ao meu lado.
- Ok - ele fala e se vai.
Coloco aa mãos sobre o rosto.
- Fui um grande babaca né? - falo com a voz embargada.
- Muito, muito mesmo. Você cometeu um grande erro Marcus.
- Eu não fiz nada - falo.
Tina coloca a mão no meu rosto e da um tapinha.
- Você deu esperança.
Aquilo me atinge como um trem.
- As luzes se apagam e só o palco é iluminado.
A mesma queen da outra sexta, entra no palco.
- Das selvas tropicais do Brasil, ela vem, como uma linda Amazona.
A tal de Ceryne entra no palco. Usa um salto com estampa de onça. Seu vestido curto parece pele de animal. Seus cabelos cacheados estão repletos de flores.
Então começa a tocar uma musica, que o apresentador diz ser samba. Ceryne rebola e dança no ritmo.
- É ele? - fala Tina.
- Vamos descobrir.
- Um tributo a Carmem Miranda - a Drag fala e outras quatro mulheres entram vestidas com saias longas e frutas na cabeça.
No fim da apresentação, todos batem palmas, extasiados.
- É agora - falo e corro até o palco. Subo a pequena escada e passo por trás da cortina. Sigo o corredor até chegar em uma porta iluminada por varias lâmpadas.
Um cara, oriental se aproxima de mim.
- Gatinho, você não pode ficar aqui - ele fala.
- Cae! - grito e a porta abre.
Ceryne me olha.
- Tudo bem Lil - ele fala pro garoto - deixa ele entrar.
O cômodo é bem iluminado. Há um grande espelho e uma mesa cheia de maquiagens. Um arara está no canto, cheia de roupas.
A Drag senta na cadeira e pede que eu sente ao seu lado.
- Uma hora ou outra vocês iriam descobrir - Cae diz limpando a maquiagem - trabalho aqui em noites de sexta, pra ajudar nas minhas despesas aqui.
- Por que não contou antes Cae?
- Medo, talvez. Já sofri demais por conta disso - ele abre os braços. Você não foi o primeiro com quem dividi o quarto, outros garotos vieram antes...descobriram com o que eu trabalhava ou não gostavam do meu jeito afeminado e iam até a coordenação para mudar de quarto. Eu fui maltratado. Um garoto que dividiu o quarto comigo uma vez, tentou me estuprar de noite. Eu gritei e logo vieram me ajudar. A vida do LGBT não é fácil. Ainda mas se você é afeminada, trans... Não sou trans, mas sou afeminado...isso já me deixa como alvo, bem mais que você, que é gay mas não é feminino.
Seguro sua mão.
- Você não deveria ter escondido nada de mim nem da Tina. Somos seus amigos e vamos te apoiar em tudo.
- Você não vai pedir pra mudar de quarto?
- Claro que vou, não tenho nem roupa pra ficar no quarto de uma estrela.
Cae sorri, os olhos cheios de lágrimas.
- Seu bobo.
Nos abraçamos.
- Muito obrigado Marcus.
Tina logo entra.
- Sua safada - ela fala - não contou nada pra gente.
Cae ri e chama Tina pro abraço. Ficamos assim por um tempo.
Me esqueço, pelo menos por agora, do garoto que eu fiz chorar.
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No Inverno do meu Coração (Romance Gay) - CONCLUÍDO
RomanceTrês anos se passaram desde que Marcus Hayne perdeu o namorado em um trágico acidente. Agora, prestes a embarcar na Universidade, Marcus congelou o coração para qualquer relacionamento, para sempre. Afastado da família, o jovem rapaz passa seus dias...