Capítulo 21

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Às 21h eu e Tina estamos na Nigth Rainbow.

O som barulho da música eletrônica, misturado ao som das vozes me deixa tonto. O palco do piso térreo é arrumado para um show, lá na pista de dança no piso inferior, toca um remix de Girls Just Want To Have Fun. O bar lá em cima está apinhado de gente.

- Acho que ele vai se apresentar aqui de novo - fala tina.

Ela raspou o cabelo bem baixinho. Usa um vestido de couro, bem curto e botas.

- Vamos pegar algo pra beber.

Subimos a escada em espiral  até o bar.

Tina pede uma batida de kiwi e abacaxi e eu um Martíni.

- Vamos dançar um pouco - fala Tina me puxando escada abaixo.

Nos movemos ao som de I Love It.

Ao olhar pra cima, vejo Ed com uma bebida na mão, nos olhando.

- Droga - falo.

- O que foi?

- Ed está aqui.

- Como?

Aponto com a cabeça e ela vira pra olhar.

- O que vai fazer agora?

Não sei o que falar.

- Talvez falar a verdade.

- O show da nossa adorável Ceryne Roubichoux vai começar em alguns instantes.

- É agora - falo e seguro a mão de Tina. Subimos a escada o mais rápido que podemos.

Ed se aproxima.

- Preciso falar com você - ele fala.

- Agora não - sou um tanto grosso.

Aquilo o atinge. Seus lábios tremem.

- Marcus, porque tá me evitando?

- Conversamos depois Edgar - tento parecer firme.

Seguro as lágrimas. Tina fica calada ao meu lado.

- Ok - ele fala e se vai.

Coloco aa mãos sobre o rosto.

- Fui um grande babaca né? - falo com a voz embargada.

- Muito, muito mesmo. Você cometeu um grande erro Marcus.

- Eu não fiz nada - falo.

Tina coloca a mão no meu rosto e da um tapinha.

- Você deu esperança.

Aquilo me atinge como um trem.

- As luzes se apagam e só o palco é iluminado.

A mesma queen da outra sexta, entra no palco.

- Das selvas tropicais do Brasil, ela vem, como uma linda Amazona.

A tal de Ceryne entra no palco. Usa um salto com estampa de onça. Seu vestido curto parece pele de animal. Seus cabelos cacheados estão repletos de flores.

Então começa a tocar uma musica, que o apresentador diz ser samba. Ceryne rebola e dança no ritmo.

- É ele? - fala Tina.

- Vamos descobrir.

- Um tributo a Carmem Miranda - a Drag fala e outras quatro mulheres entram vestidas com saias longas e frutas na cabeça.

No fim da apresentação, todos batem palmas, extasiados.

- É agora - falo e corro até o palco. Subo a pequena escada e passo por trás da cortina. Sigo o corredor até chegar em uma porta iluminada por varias lâmpadas.

Um cara, oriental se aproxima de mim.

- Gatinho, você não pode ficar aqui - ele fala.

- Cae! - grito e a porta abre.

Ceryne me olha.

- Tudo bem Lil - ele fala pro garoto - deixa ele entrar.

O cômodo é bem iluminado. Há um grande espelho e uma mesa cheia de maquiagens. Um arara está no canto, cheia de roupas.

A Drag senta na cadeira e pede que eu sente ao seu lado.

- Uma hora ou outra vocês iriam descobrir - Cae diz limpando a maquiagem - trabalho aqui em noites de sexta, pra ajudar nas minhas despesas aqui.

- Por que não contou antes Cae?

- Medo, talvez.  Já sofri demais por conta disso - ele abre os braços. Você não foi o primeiro com quem dividi o quarto, outros garotos vieram antes...descobriram com o que eu trabalhava ou não gostavam do meu jeito afeminado e iam até a coordenação para mudar de quarto. Eu fui maltratado. Um garoto que dividiu o quarto comigo uma vez, tentou me estuprar de noite. Eu gritei e logo vieram me ajudar. A vida do LGBT não é fácil. Ainda mas se você é afeminada, trans... Não sou trans, mas sou afeminado...isso já me deixa como alvo, bem mais que você, que é gay mas não é feminino.

Seguro sua mão. 

- Você não deveria ter escondido nada de mim nem da Tina. Somos seus amigos e vamos te apoiar em tudo.

- Você não vai pedir pra mudar de quarto?

- Claro que vou, não tenho nem roupa pra ficar no quarto de uma estrela.

Cae sorri, os olhos cheios de lágrimas.

- Seu bobo.

Nos abraçamos.

- Muito obrigado Marcus.

Tina logo entra.

- Sua safada - ela fala - não contou nada pra gente.

Cae ri e chama Tina pro abraço. Ficamos assim por um tempo.

Me esqueço, pelo menos por agora, do garoto que eu fiz chorar.





No Inverno do meu Coração (Romance Gay) - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora