Terceiro

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Sakura despertou, surpresa por estar viva. A princípio, pensou que ainda estava escuro, mas ao erguer a cabeça por alguns centímetros, a pequena pele de mink escorregou e pôde ver que era dia. Porém, era impossível saber a hora. O céu estava escuro. Com uma sensação de medo esperou que a dor da perna penetrasse a mente, mas milagrosamente não sentiu nada. Ainda tonta devido ao conhaque que consumira, conseguiu se sentar. Por um horripilante momento pensou que não doía porque talvez Naruto a tivesse a amputado afinal. Porém, quando afastou a pele de veado, encontrou a perna intacta e o curativo feito com pedaços de tecido de algodão branco. Não havia sinais de sangue fresco. Certamente, não estava apta a correr uma maratona, mas se sentia bem melhor. O esforço para se sentar a cansara e Sakura caiu para trás em meio às peles, puxando-as até o queixo. A pele estava quente e seca, mas sentia frio. A febre ainda não cedera. Talvez fosse melhor tomar mais algumas aspirinas. Mas onde estavam? Naruto devia saber. Ele... Onde estava Naruto?

A letargia de Sakura desapareceu, enquanto ela voltava a se sentar. Os olhos buscando, frenéticos, ao redor da clareira. Nenhum sinal. Ele havia partido. O rifle de Naruto também não estava ali. O outro se encontrava ao alcance de sua mão. Na fogueira, as brasas acesas ainda proviam algum calor, mas seu protetor a havia abandonado. Forçando-se a controlar a histeria, concluiu que estava tirando conclusões precipitadas. Naruto não seria capaz. Não a teria tratado com tanto cuidado apenas para deixá-la sozinha em meio a selva. Teria?

Não poderia ser... A menos que fosse um bastardo sem coração. Mas não fora exatamente daquela forma que o julgara?

Não poderia ser... Era um homem severo. Durão. Cínico, certamente, mas não completamente destituído de emoção. Caso contrário, ele a teria abandonado no dia anterior. Então, onde estaria? Deixara-lhe um dos rifles. Por quê? Talvez aquele fosse o limite máximo de sua humanidade. Esforçara-se ao máximo para tratar de sua ferida. Provera-lhe meios de se proteger. Talvez agora fosse cada um por si. A sobrevivência do mais forte. Bem, ela morreria. Se não de febre, de sede. Não tinha água, comida ou abrigo. Dentro de pouco tempo o suprimento de galhos secos que ele cortara e empilhar ali perto, acabaria. Morreria congelada se esfriasse mais... Uma ova que morreria! De repente, Sakura se sentiu furiosa com o fato de ele tê-la abandonado. Mostraria a Naruto e ao pai. Sakura Haruno não era uma chorona fraca e acabada. Jogou as cobertas para o lado e vestiu a jaqueta de esqui. Por enquanto, não calçaria a bota esquerda, porque o par ainda se encontrava no fardo de peles, fora de alcance. Além disso, se um dos pés estava descalço, o outro também poderia ficar. Ainda mais quando gastara toda a energia para vestir o casaco.

Comida e água.

Eram aqueles dois itens essenciais e que teria de encontrar primeiro. Mas onde? Na melhor das hipóteses, os arredores eram intimidadores e, na pior, aterrorizantes. Num ângulo de 360 graus, tudo que conseguia ver era a mata virgem. Além das árvores próximas - algumas tão altas que não conseguia lhes enxergar o topo - havia infindáveis milhas de outras exatamente iguais. Antes que pudesse ir à busca de água, tinha de conseguir se levantar, o que lhe parecia uma tarefa impossível. Porém, trincou os dentes, determinada a fazê-lo.

Quando descobrissem seu corpo, não seria escondido debaixo de uma pilha de peles!

Esticando o braço o máximo que pôde, fechou os dedos em torno de um graveto que estava na pilha da madeira para alimentar o fogo e o trouxe para perto. Utilizando-o como apoio, ergueu-se, fixando a força no joelho esquerdo, enquanto mantinha o direito esticado à frente do corpo. Parou para tomar fôlego. O ar que lhe escapava da boca formava fumaça de vapor branco diante do rosto.

Repetidamente, Sakura tentou se erguer, mas não conseguiu. Não passava de uma gatinha fraca e recém-nascida. E insensata. Maldito Naruto Uzumaki! Não era de se admirar que a tivesse estimulado a beber tanto conhaque. Queria que ela desmaiasse para que não percebesse quando se esgueirasse para fora das cobertas e partisse como o patife miserável que era. Fazendo um último e hercúleo esforço, apoiou todo o peso no pé esquerdo e se levantou. A terra girava miseravelmente. Fechando os olhos, segurou o graveto que lhe servia de muleta em total desespero. Quando percebeu que era seguro abrir os olhos, soltou um guincho fraco de surpresa. Naruto estava parado do outro lado da clareira.

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