Sexto

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- Um banho? - Ninguém poderia ter dito aquela palavra com maior ansiedade.

- De verdade. Com água quente e sabonete. - Naruto se encaminhou à porta, escancarando-a e arrastou uma grande tina para dentro. - Encontrei isso atrás da cabana e a limpei.

Sakura não se lembrava de ter se sentido tão agradecida quando abriu o presente dado pelo pai e encontrou o casaco de pele de raposa vermelho e comprido. Juntou as mãos sob o queixo.

- Ah, Naruto, obrigada.

- Não fique muito animada - aconselhou ele em tom queixoso. - Ficaríamos tão nojentos quanto os Oshiro se não tomássemos banho. Mas não o faremos todos os dias.

Sakura não permitiu que ele lhe estragasse o humor. Naruto não apreciava que as pessoas se mostrassem agradecidas. Bem, aquele era um problema dele. Por hora, fizera algo verdadeiramente atencioso para com ela. Que mais poderia fazer além de agradecer? Naruto devia saber o quanto aquilo significava para ela, mesmo que quisesse bancar o desmancha prazeres agora. Sakura encheu várias panelas e chaleiras com água da bomba e as carregou para o fogão a lenha, alimentando o fogo para apressar o processo. Em seguida, arrastou a tina pelo chão até posicioná-la diretamente em frente à lareira. O metal estava gelado, mas logo o fogo iria aquecê-lo. Sakura o observou fazer todos aqueles reparos com expressão ansiosa e depois com crescente preocupação.

- O que farei para, hm...

Sem dizer nada com expressão vazia, Naruto desdobrou um dos ásperos lençóis de musselina que fervera e arejara durante o dia. No teto da cabana havia vigas expostas. Ao que parecia os Oshiro penduravam carne nelas, pois havia vários ganhos de metal enterrados na madeira escurecida.

Naruto subiu em uma cadeira e espetou um dos ganchos em uma das pontas do lençol. Reposicionando a cadeira várias vezes, em pouco tempo havia produzido uma cortina que escondia a tina.

- Obrigada - agradeceu ela. Ficou feliz por aquela proteção, mas percebeu que com a luz da lareira, o lençol se tornava translúcido. A silhueta da tina era visível e a de quem estivesse dentro dela também.

Naruto também devia ter notado, pois desviou o olhar e esfregou as mãos nas laterais do corpo parecendo nervoso.

- Acho que a água deve estar aquecida

Sakura selecionou seu preciso kit de higiene pessoal que se limitava em um sabonete de agradável fragrância, um pequeno frasco de xampu e um aparelho de barbear. Pousou todos os itens sobre uma cadeira, próximo à tina.

Durante o dia, separara o pequeno estoque de roupas que lhes restava e as dobrou em pequenas pilhas em prateleiras separadas. Uma para ela e outra para Naruto. Selecionou uma camisola de seda sem mangas e uma camiseta de sua pilha e as dobrou sobre o espaldar da cadeira.

Quando tudo estava pronto, ela aguardou, acanhada, enquanto Naruto despejava com cuidado as panelas com água aquecida na tina. Nuvens de vapor subiam, mas Sakura não acreditava que estivesse insuportavelmente quente. Tinha de esfregar a sujeira e a fadiga acumulada durante quatro dias. Além disso, estava acostumada a tomar banhos de imersão relaxantes todos os dias na banheira de sua casa.

- Como vou me enxugar? - Perguntou Sakura. Naruto lhe atirou uma toalha áspera e puída da pilha de roupa de cama que lavara mais cedo.

- Encontrei duas dessas penduradas do lado de fora. Fervi-as também. Nunca foram mergulhadas em amaciante de roupa, mas são melhores que nada.

A textura da toalha estava mais para lixa, mas Sakura aceitou sem dizer nada.

- Acho que está bom - disse ele em tom brusco, esvaziando o conteúdo da última chaleira na tina. - Entre com cuidado. Não vá se queimar.

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