Oitavo

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Naruto se encontrava imóvel como um caçador espreitando um antílope. Os pés afastados fincados firmemente no chão , os cotovelos apoiados nos joelhos e os dedos em ventosas sob o queixo. Acima deles, os olhos azuis a observavam sem piscar. Aquela foi a primeira visão de Sakura quando acordou na manhã seguinte. Demonstrando surpresa, mas conseguindo não se sobressaltar, percebeu que a cortina que tão ingenuamente pendurara em torno de sua cama, fora arrancada e se encontrava em uma rodilha no chão.

Apoiou-se em um cotovelo e afastou, irritada, uma mecha de cabelos do rosto.

- O que está fazendo?

- Quero conversar com você.

- Sobre o quê?

- Nevou muito ontem à noite.

Sakura estudou o rosto inexpressivo à sua frente.

- Se está querendo construir um boneco de neve, não estou disposta - disse ela com ressentimento.

O olhar de Naruto não vacilou, embora ela percebesse o autocontrole de que lançava mão para não estrangulá-la.

- A neve é importante - retrucou Naruto com a voz calma. - Quando o inverno chegar, as chances de sermos resgatados se reduz drasticamente.

- Sei disso - replicou Sakura em um tom sério que condizia com o comentário. - O que não entendo é qual a gravidade disso neste exato momento.

- Porque antes de passarmos mais um dia juntos, temos que acertar algumas coisas e adotar algumas regras. Se iremos ficar presos aqui durante todo o inverno, o que parece uma perspectiva real, então temos que chegar a um entendimento sobre vários pontos.

Sakura se sentou, mas manteve o lençol erguido até o queixo.

- Como por exemplo?

- Como, por exemplo, nada de pirraças. - A testa de Naruto estava franzida em uma expressão reprovadora. - Não vou mais tolerar esse tipo de criancice de você.

- Oh, não vai? - Indagou Sakura, forçando um tom de voz doce.

- Não, não vou. Não é uma criança, portanto não aja como uma.

- Você pode me insultar, mas tenho que virar a outra face, certo?

Pela primeira vez, Naruto desviou o olhar, aparentemente encabulado.

- Acho que não deveria ter dito o que lhe disse ontem.

- Não, não devia. Não sei que pensamentos maléficos andou cultivando em sua mente suja, mas não me culpe por eles.

Naruto mordeu a lateral dos lábios.

- Estava furioso com você.

- Por quê?

- Principalmente porque... não gosto muito de você, mas ainda sinto vontade de dormir com você. E não estou me referindo apenas a adormecer a seu lado. - Se Naruto a tivesse esbofeteado, não se sentiria mais perplexa. Os lábios de Sakura se entreabriram em um ofego, mas ele não lhe deu a chance de dizer nada. - Não é o momento de fazer rodeios ou medir palavras, certo?

- Certo - repetiu ela com a voz rouca.

- Espero que aprecie minha honestidade.

- Aprecio.

- Muito bem, ponto concedido. Nós nos sentimos atraídos fisicamente um pelo outro. Para ser mais direto, queremos transar um com o outro. Isso pode não fazer sentido, mas é um fato. - Sakura desviou o olhar para o colo. Ele esperou até que sua paciência se esgotasse.

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