Capítulo II

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O sol brilhava alegremente enquanto Ana Maria olhava o céu azul. Era a última aula daquele dia, nunca esteve tão ansiosa para voltar para casa. Não tinha começado bem o dia, ainda estava aborrecida da pequena briga com o pai, e como se não bastasse, precisava aguentar Alana e as suas irritantes amigas. Olhou em volta e percebeu que ninguém ali falava mais do o mínimo com ela. Desde que Michelle havia ido embora, não tinha muita gente para conversar.

— Então, turma, não se esqueçam de consultar os livros que recomendei. — expressou roucamente a professora.

Os alunos simplesmente não entendiam por que uma mulher de mais de setenta e cinco anos de idade continuava dando aulas. Não que fosse má, pelo contrário, era uma professora catedrática, porém, estava ficando um pouco cansada pro exercício. Sem contar que muitas vezes confundia matérias das turmas do primeiro ano e do último.

Mal o sinal tocou, uma enxurrada de jovens passou por Ana que preguiçosamente arrumava suas coisas. Despreocupadamente, eles derrubaram sua bolsa e livros o que causou uma quebra instantânea dos seus preciosos óculos.

—Não!!! — Gritou chorosa. O que provocou a atenção da velha senhora.

— Aninha, está tudo bem? — Quando viu que a garota não respondia e mantia a cabeça baixa, decidiu aproximar-se. — Sabe, querida, você não precisa se vitimizar por tudo. A vida não é perfeita para ninguém. Ao em vez de viver numa bolha solitária, devia tentar se socializar.

Ana Maria não tinha o costume de ser mal educada, aquela vez no entanto, estava bem mais difícil conter as palavras. Sabia lá aquela velha mulher o que ela vivia?
Como poderia dizer que ela se colocava no lugar de vítima, sendo que sofria tanto? Mas primando pela cortezia e receando levar falta por indisciplina já que a Dra. Maria Eduarda tinha a sua longa lista de alunos mal comportados bem comentada. Não prolongou.

— Certo. — disse contida. E decidiu retirar-se quando ouviu: — Dos seus irmãos, você é sem dúvidas a que mais me lembra sua mãe. — Ana acenou levemente com a cabeça concordodando duvidosamente.

"Essa mulher sem dúvidas precisava da reforma urgentemente. E não digo apenas da aparência física". — Concluiu.

Ana saiu apressadamente da sala dirigindo-se ao banheiro, sua cabeça estava à mil. O que ela e a mãe tinham em comum, além de serem mãe e filha?
Havia sim certa semelhança física, como o formato do rosto, a altura e o próprio corpo; fora isso, não podiam ser mais diferentes. Enquanto sua mãe era confiante bem sucedida e cheia de vida, ela nada podia ser mais contrária. Não chegava nem à uma cópia barata da mãe. E como sentia falta dela. A sua infantil memória já não ajudava muito. Cada vez mais se recordava menos, se não fosse pelas fotos, ela mal se lembraria de como era por completo. Mas havia algo que sempre ficaria presente nela: o amor acompanhado da saudade que carregava no peito.

Sua existência não tinha muita utilidade, como ela mesma dizia. Não era muita coisa, na verdade não se achava nada. Não se achava bonita, não era a garota mais inteligente, não era talentosa, não chamava atenção nem do rapaz mais feio do círculo. As vezes, a menina se questionava o porquê continuava respirando. Ana se achava um total desperdício, mas o que não sabia, era que para Deus, ninguém é inútil.

Enquanto lavava o rosto, Ana Maria só imaginava quanta falta do óculos sentiria. Ainda eram recentes. Devia ter ouvido quando lhe foi dito para comprar mais de um par; Era tudo culpa dos estudantes que mais pareciam cachorros bebês.

— Olha se não é a esquisitona! — falou uma conhecida voz, fazendo-a voltar à terra.

— Oh, não seja mazinha, Mirena, Aninha é super sensível. — zombou Alana. — não entendo o porquê continua se dando o trabalho de respirar. — disse aproximando-se ameaçadoramente de Ana que inevitavelmente chocou contra a pia. —  ah, você é tão inútil. — sussurrou-lhe contra o ouvido. — se eu pudesse, te faria sumir como magia. Mas aí. - proferiu acariciando asperamente o cabelo de Ana que se encolhia ainda mais com o toque e a proximidade. Ela ainda teria pesadelos com a voz diabólica... — eu não teria a quem atormentar. — Continuou malévola. — O que foi? O gato comeu a sua língua. — gargalhou. — ups, esqueci que você não tem língua.

Ana não conseguia nem reagir. Parecia que quando as visse um peso se apoderava dela de maneira que ficava mais estática que o normal. Era incrível como Alana e as suas amigas tinham um efeito tão negativo nela. Como poderiam cursar pedagogia se detestavam tanto os outros?
Então, munida de uma coragem que não sabia que tinha, sussurrou:

— Deixem-me em paz. — proferiu trémula. O que causou uma cara de espanto seguida de gargalhadas estridentes das restantes.

— A ratinha falou! — gritou Nora, sem esconder a sua surpresa. — Que atrevimento, ela nos desafiou, Alana. — continuou maliciosa.

— Ela não teria tanta audácia, não é mesmo, ratinha? — Falou séria, olhando nos olhos de Ana sem desviar.

— Eu não fiz nada para vocês. — sussurrou — Só me deixem em paz, por favor. — gritou enquanto empurrou levemente Alana e tentava fugir.

— Vem aqui, você não irá fugir, ratinha. — segurou-a pelo braço forçosamente, impedindo-a de atravessar a porta. Ana que neste momento já estava com o rosto banhado em lágrimas novamente, viu a sua chance quando ouviu vozes do lado de fora. Soltou-se rapidamente recebendo um rosno irritado de Nora. — Nós ainda te alcançaremos, ratinha. — gritou brava.

A garota no entanto, só corria fugitiva sem ligar se esbarrava em alguém. Tudo o que queria era chegar à casa e ficar trancada. Sua vida resumia-se basicamente à isso.

— Vou sobreviver mais hoje!

NOTA: Olá de novo, espero que gostem da história, não farei uma lista com personagens, pois, ao longo da história, revelarei pouco a pouco sobre a personalidade de cada um. Como é o caso da Aninha.
Se vocês quiserem, posso fazer um cap explicando um pouco mais sobre a história dessa história e sobre mim como a mais recente escritora do watpadd. Gostaria muito de interagir com vocês, saber o que acham, se gostam, se tem algum erro, se é boa e original ou cafona... Sei lá...
Então é isso, pessoal. Comentem, sigam-me se me acharem digna, e convidem mais pessoas a lerem. 💋💋💋

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