Capítulo IV

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Ana ficara em casa o resto da semana. Ainda lembrava do episódio na clínica, e mesmo insistindo que estava tudo bem, seu pai não lhe permitiu fazer nenhum esforço naqueles dias.

O pai e a irmã, tinham-na buscado, pois ficará desacordada por três horas. Não gostou das caras deles ao lhes ver assim que acordou. A preocupação estampada provocou-lhe um reboliço interior.

Infelizmente, não sabia quem a ajudou ao desmaiar, contudo, serviu para uma instantânea reconciliação entre ela e a irmã. Inegavelmente, Tamara mais parecia uma mãe para os irmãos do que somente a irmã mais velha. Era atenciosa, esperta e muito maternal. Não se parecia muito com Ana, mas era sem dúvidas a filha mais bonita. Sempre educada e cortez, de fácil trato e bem humorada, sua presença nunca passava despercebida. Talvez essa fosse a maior diferença entre ela e Ana. Eram tão desproporcionais uma à outra que quem não as conhecesse jamais saberia que são irmãs.
Enquanto uma era tímida e introvertida, a outra era vivaz e alegre. Ana era solitária, tinha poucos ou nenhuns amigos, excepto a Michelle. Mas ela tinha ido para outra cidade estudar. Já Tamara, tinha muitos amigos. Mas a principal característica diferenciadora para o pai era o facto de que Tamara tinha uma fé imbatível e uma vontade de viver enorme, era positiva e muito amiga de Deus. Ana era o contrário. Seu papel vitimista afectava bastante sua autoestima, e a crença que Deus pode sarar qualquer ferida não fazia muito sentido para ela. Era pessimista e preferia caminhar entre as sombras do que viver a vida realmente. Coisas que o pai sempre lutou para quebrar com orações, jejuns e muita conversa, porém, parecia que nada resultava. Tentou convencê-la à terapia, mas ela não quis. Mas a sua fé em Deus era maior que o medo e a frustração. Disso tinha certeza.

De todos os filhos, Ana Maria era a mais delicada de cuidar. Não que fosse desobediente e rebelde, ao contrário, sempre obedecia e tentava fazer o que lhe era dito, apesar da personalidade forte em muitos aspectos. Porém, não era muito apegada a vida e não tinha muito amor próprio. Não tinha muita fé em Deus e não acreditava que Ele amava singular e incondicionalmente. Tinha dificuldades em relacionar-se com outras pessoas, principalmente as da sua idade. Além dos crises de ansiedade que tinha dado aos traumas de infância. No começo achava que era só timidez, mas depois, percebeu que a filha tinha sérios problemas de inserção e integração social. Com o tempo, arranjou a única amiga que teve por oito anos. Ele bem que a levou à profissionais fazendo com que uma temporária melhoria viesse, só que ela voltou a se fechar. Porém, suas esperanças que a filha se tornasse mais emocionalmente saudável nunca acabaram.

Ana refletiu o que se tinha passado, faziam quase 2 anos que não desmaiava. Mas a curiosidade em saber quem a tinha ajudado permanecia lá.

Nós dias em que ficara em casa, um formando do seu pai e seu colega, Adão, fazia questão de trazer todo conteúdo abordado. Infelizmente, Ana não estava muito correspondente às tentativas do pobre rapaz de tentar semear uma amizade.

Na noite de sexta-feira, Ana e Noah estavam deitados na cama dela, aproveitando a única noite estrelada da semana, já que chuveu durante o resto dela. Mas aquela, a chuva só tinha caído de dia.

— Vinte e oito, vinte e nove, trinta, trinta e um... — Respirou fundo, tentando absorver mais daquele cheiro gostoso e húmido que a chuva sempre deixava. — Trinta e três, trinta e quatro...

— Você pulou. - Gritou Noah acusador. Ana Maria olhou-o envergonhada. No que pensava quando decidiu contar estrelas com um menino de nove anos?

— Eu não pulei, você é que não está prestando atenção. — Falou certa de que uma discussão começaria em breve.

— Pulou sim. — Insistiu. — Era para ser trinta e dois, e você disse trinta e três. — Não acha que estou um pouco grandinho para ser enganado, maninha?

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