Capítulo XVI

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Diferente da última noite, a manhã está ligeiramente mais quente e esperançosa.

Ana olhava as árvores com folhas alaranjadas contrastando com o leve sol que fazia. A sensação de leveza permanecia mesmo sabendo da repreensão que a esperava quando chegasse em casa. Estava confortável, havia dormido bem e acordado ainda melhor.

— Chegamos. — Paulo Jorge tirou-a dos devaneios que a rodeavam.

Eles desceram do carro que os conduziu na curta viagem, e, subitamente, o medo abraçou-a. Antes que ela inserisse a chave, a porta abriu, e Noah abraçou-a pelo tronco. A culpa invadiu a garota.

— Você voltou para mim! — Ele falou choroso.

Ana sentiu a ardência na garganta e o aperto no coração, não fazia ideia da situação caótica que a família passará na última noite.

Antes que ela respondesse o irmão, observou o rosto decepcionado do pai.

"Isso vai aquecer para mim". - pensou.

— Seja prudente, meu amigo. — Paulo proferiu sabiamente. — Eu preciso ir embora. Ana, pense na nossa conversa. — Ele piscou cumplicemente para ela e saiu.

— Pai, eu...

— Não quero ouvir. — Ele falou entristecido. — Adão, terminamos por hoje. — Subiu e dirigiu-se ao seu quarto chateado.

Só então ela percebeu a presença do amigo em casa, e lembrou que aproveitando as férias, ele estava estudando Teologia com o seu pai nas manhãs que ele estava livre.

— Não me olhe assim.

— Eu nem olhei para você. — Resmungou indo para cozinha.

— Não pode ficar zangado comigo, não você! — Ela seguiu também. — Você é o  meu melhor amigo, precissa me entender.

— Eu entendo, só não entendo como conseguiu ficar quase quatro horas incomunicável. Ficamos muito preocupados, procuramos você por todo lado. — Ele expressou toda a mágoa que sentia. — Não pode explodir assim toda vez que acontece algo ruim. Está mais que na hora de aprender a lidar com situações difíceis. Como pretende ser uma boa psicóloga se não consegue manejar seus próprios problemas?

— Tem razão, nunca mais ignoro chamadas ou desapareço assim. Agora estamos bem?

— Você ouviu o que eu disse?

— Tudo a seu tempo. Por agora, eu me arrependo e acato os seus conselhos. Deixe-me compensar você.

— Eu estou indo ter com a Jéssica, vem comigo.

— Certo. — Ela disse depois de um grande suspiro.

Durante a caminhada, Ana tentava arranjar uma desculpa explicando a sua ausência à Jéssica. Tinha prometido visitá-la a cada três dias. Só que havia dez dias que ela não a via.

— Aposto que você está pensando em uma desculpa para dar à Jéssica.

— Você está certo. — Ela admitiu simplesmente.

— É a segunda vez que você diz isso hoje.

— E você continua bravo. — Ana constatou desanimada. — Eu sei que o que eu fiz não foi correto, mas...

— A Lu, a Naty e eu ficámos envergonhados diante do seu pai. Quando eu cheguei na sua casa não sabia o que dizer com a cara que o seu pai fez. Não tive alternativa e precisei dizer que você estava com as garotas, e por ironia ou azar, elas chegaram pouco depois perguntado por você. Não sabe a cara que o seu pai fez. Ele chegou a perguntar quantas vezes já encobrímos você. — Ele falou chateado. — As garotas ficaram muito envergonhadas diante dele.

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