Prólogo

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Absorta em seus pensamentos, Ana não se dera conta da falácia de seu pai e risos em concordância dos seus irmãos e mais conhecidos. No fundo, era tudo o mesmo, sempre o mesmo: eles iam à igreja, ela era atormentada pelas outras garotas, ou pelo que vestia, ou só por aparecer mesmo, o culto decorria, não conseguia absorver nada do que era pregado, pois, as garotas olhavam-na como se fosse uma coisa degradante, e, ou se escondia no banheiro ou se encolhia no seu modesto assento. O culto terminava e eles estavam de volta à casa, só que enquanto o pai dirigia e o restante de seus familiares divagavam entre um assunto ou outro, ela se remoia pensando por que bendita razão continuava indo à bendita igreja. Lá ninguém gostava dela. — Nem mesmo Deus. — Afirmava.

— Elas humilham-me — pensou — e Deus, sequer se importa comigo, nem me responde...

Sua vida resumia-se entre a igreja e a faculdade. Não tinha muitos amigos apesar de ser filha do pastor da Igreja local e ainda professor da universidade que frequentava. Não sobrava muito tempo para se arrumar e ficar bonita como as outras meninas à sua volta. Além do mais, não era obrigada à nada, não tinha que agradar a ninguém se não à Deus, certo? Se Ele ao menos à visse, saberia que errou ao criá-la. Se ao menos alguém à visse...

— O mundo seria bem melhor sem mim... — falou inaudivelmente enquanto apreciava as pessoas ao seu redor e percebia que nem em sua família se enquadrava, todos eram tão alegres e livres. Ninguém se sentia ridículo, ninguém se inibia, e como podia ter certeza?

Ah, eles riam, conversavam, tiravam selfies, vestiam roupas lindas, tinham um status respeitado. Todos menos elas.

Algum dia isso mudaria?

Se preparando para chorar lágrimas há muito travadas, subitamente, seu pai olha-a do espelho e lhe sorri como que: "você é mais do que isso, sabe, não sabe"?

Ela então sorriu discretamente para o pai e sentiu um repentino mas familiar alívio invasivo.

Com alguma sorte, sobrevivia à mais mais um dia.

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