Me Leve Com Você

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— O castelo vai ser invadido hoje. Você precisa se esconder.- Dapnhe surgiu na minha frente como em um passe de mágica.


— O quê? De onde você tirou isso, Daphne?


— Não interessa, preciso que você se esconda e não faça nada idiota. Você está me ouvindo Astória?


— Mas, e você?


— Por Merlim! Você é mesmo impossível! — Exclamou Dapnhe impaciente. Eu não costumava a contrariar quando estava assim, mas essa conversa estava tomando um rumo confuso demais para que eu aceitasse tudo tão resignada— Eu vou embora, para França já deixei tudo pronto.

– Mas Odile...


— Sim, a mamãe quer que eu me case com algum idiota qualquer que ela escolheu, porém, eu não vou. Não vou me casar com ninguém, vou para França com Emily, nós já planejamos tudo. Não quero ficar nisso aqui, caso Voldemort ganhe ou perca, não me importa. Não vou me envolver em nada disso, mas preciso saber que você vai ficar bem. Tem que me prometer que vai ficar segura.


Daphne dizia tudo aquilo rápido demais me deixando atordoada, como assim Daphne iria embora? Nós não éramos muito próximas, não compartilhávamos gostos em comum, porém sabia que me minha irmã se preocupava comigo, sempre se preocupou. De alguma forma não precisava de nada dela, era boa em resolver meus problemas sozinha , contudo, saber que Daphne estava ali de alguma forma era reconfortante. Ouvir que ela iria embora para outro país me desnorteava.

— Me leve com você — pedi.


— Sabe que não posso, você é menor de idade seria rastreada. Nossos pais surtariam.


— Eles já vão surtar.

— Eu sei, mas vão surtar só comigo.Olha, eu nunca te entendi Astória. Desde pequena você sempre foi meio diferente, mas é minha única irmã. Preciso saber que vai ficar bem, que não vai dá uma de enxerida como sempre.


Ela me encarava suplicante, nunca a vira daquela forma, tão sensível. Sabia que não deveria insistir no assunto, ela precisava partir e deveria. Não seria justo impedi-la.


— Como você sabe sobre isso? Sobre a invasão do castelo? –- perguntei com o único intuito de fazer com que as coisas voltassem a ser como antes. Sabia que ela não me diria, Daphne nunca entregava suas fontes, e como esperado minha irmã apenas revirou os olhos e sorriu. As coisas ficariam bem entre nós, pude sentir o alívio. Num gesto inesperado, Daphne me abraçou. Senti sua preocupação e amor. Não era nada com o que estava acostumada, era reconfortante.


— Promete que não vai morrer?


— Prometo. Promete que vai me escrever?

Daphne sorriu, ela não sorria muito, mas ficava muito mais bonita quando o fazia. Ela me abraçou e pude seu rosto úmido, então a abracei mais forte. Não queria que fosse um adeus de verdade, porém era o que parecia ser. Então ela se foi, e, minutos depois, tudo começou a ficar um caos. Potter de repente apareceu na escola, pelo menos era o que diziam. Os professores começaram a andar de um lado para o outro e todos começaram a especular sobre o que estava acontecendo. Eu sabia que a escola seria invadida, mas para quem eu diria? Quem me ouviria? Antes que eu pudesse decidir o que fazer, a voz de Voldemort começou a ser ouvida pelo castelo. Foi aterrorizante, era tudo que eu poderia dizer a respeito. Só o som da sua voz fazia com que qualquer um tivesse vontade de se encolher. Contudo, eles iriam lutar. Potter e seus amigos, os professores e todos os alunos maiores de idade que quisessem. Eu queria lutar, de verdade. Sempre desejei ter algo para lutar na minha vida e, por mais que a ideia parecesse suicídio, sentia um ímpeto dentro de mim. Se eu morresse e daí? Um dia todos morreriam, não é mesmo? Sabia que não faria muita falta a ninguém. Porém, ainda era uma covarde, não tinha coragem nem de dizer que queria ficar. A ideia de me impor, de levantar a voz, de falar alto para que todos ouvissem parecia ainda mais aterrorizante do que o pensamento de encarar o Lord das Trevas cara a cara, então eu fui para as masmorras, assim como quase toda a sonserina.

Ficar naquele salão enquanto uma guerra acontecia era angustiante. Estávamos todos nervosos, uns porque possuíam pessoas queridas na batalha, outros, como a detestável Pansy Parkinson, discutiam sobre a ideia de que se Voldemort acabasse logo de vez com Potter e seus amigos, a vida voltaria logo a sua normalidade. Precisava sair dali rápido, não aguentaria mais cinco minutos com aquelas pessoas. Lancei um olhar pelo salão em busca de Daphne, às vezes quando me sentia muito ansiosa gostava de buscá-la com o olhar, só para me certificar de que não estava completamente sozinha. Contudo, agora ela não estava mais comigo, demoraria um pouco para me acostumar.


Decidi sair, as masmorras ficavam no andar subterrâneo, tinha certeza que seus corredores estavam completamente seguros. Fugi quando ninguém estava olhando, um monitor ficou encarregado dos nossos cuidados já que o professor Slughorn estava na batalha. Mas o aluno estava entretido demais com o discurso ridículo da Pansy para reparar em mim. Patético. Precisava lembrar de respirar fundo, disse a mim mesma repetidas vezes, queria ficar sozinha. Andei até uma pilastra forte e sombria, aqueles corredores eram tão lúgubres, mesmo nos outros dias, quando tudo que fazíamos era estudar e pensar em amenidades. Agora eles pareciam combinar perfeitamente com a situação. O desejo de subir e descobrir o que estava acontecendo era grande, pensava no que havia prometido a Daphne, pensava sobre os trouxas e nascidos trouxas, pensava sobre a morte e como o medo de morrer sempre assombrava minha vida. Perdida em meus pensamentos, ouvi passos rápidos em minha direção. Eram o Malfoy com um de seus capangas. Crabbe? Goyle? Nunca sabia quem era quem, entretanto não tive muito tempo para pensar sobre isso, pois percebi que eles estavam gravemente feridos.


– Faça alguma coisa – Malfoy disse ao me ver.


Percebi ser muito mais uma ordem do que um pedido, todavia, não discuti quando percebi a gravidade da situação. Tanto o Malfoy como o amigo, estavam com queimaduras horríveis. A pele havia enrugado e a carne estava bem exposta, sabia que aquilo era uma caso para a enfermaria, mas imaginei que provavelmente lá já estava bem cheio devido ao momento que nos encontrávamos. Curá-los seria um pouco aquém das minhas habilidades, porém eu tentaria.


Malfoy e seu amigo, que descobri ser Goyle, contorciam-se de dor sempre que eu sussurrava os feitiços para recuperar sua pele. O processo era dolorido e certamente Madame Papoula faria com muito mais habilidade, contudo eu era tudo que tinham e se esforçavam para suportar bem. No final, Goyle desmaiou, um pouco de dor, um pouco de cansaço, provavelmente um pouco dos dois. Draco se apavorou, pensei que entraria em colapso, pois começou a sacudir Goyle desesperadamente. Falei para o Malfoy que aquilo era normal, apenas uma reação, que seu amigo ficaria bem.


— Você precisa descansar também – falei após fazer tudo que podia para recuperar seu braço, talvez ele ficasse com uma cicatriz, mas seria pequena. Malfoy me olhou incrédulo, como se eu realmente tivesse alguma chance de saber o que ele precisava. –Só ... você ainda está fraco, não faça nada estúpido –disse, irritada. Eu não esperava um ''muito obrigada'', mas também não ficaria ali para ser desprezada.


— É tarde demais — ele sussurrou.


Seus olhos acinzentados estavam vermelhos, parecia que ele iria romper em lágrimas a qualquer momento. Senti vontade de abraçá-lo por um momento, sabia que do que ele estava falando, eu vi a marca em seu braço enquanto o curava. Infelizmente ela ainda estava lá, intacta, nem uma única queimadura se quer. Draco me olhava como se suplicasse perdão, todavia não era a mim que ele deveria se redimir, não é mesmo? Não era eu quem corria perigo, muito menos era perseguida. Eu que sempre me senti assustada, inferior, covarde, agora via todo seu pavor. Ele parecia menor, o medo fazia isso com as pessoas, deixavam-nas pequenas. Ao mesmo tempo em que eu o compreendia, estava enfurecida. Draco era um idiota, eu não tinha que perdoá-lo, eu não deveria me compadecer. Diferente dele, eu não era responsável pela morte de ninguém. Ele precisava fazer alguma coisa, precisava agir.


— Talvez não seja tão tarde assim - foi tudo que consegui dizer antes de ir andando, já tinha feito meu trabalho.

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