Prólogo

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Quando eu nasci minha mãe chorou, não que alguma vez ela tenha mencionado algo sobre meu nascimento, mas é o que todos dizem e nunca houve motivos para duvidar. Chorou porque eu era uma menina e não deveria ser. Por qual outro motivo uma Brouillard choraria ao dar à luz? Odile Brouillard, esse era o seu nome de solteira, o qual abandonou quando virou um Greengrass. Infelizmente a única coisa que pôde deixar para trás quando veio importada da França, ainda menina, para um casamento arranjado com Anthony Greengrass, meu pai. 


Meninas nunca foram bem- vindas, não nessa família, não com o sangue Brouillard correndo em nossas veias, o sangue que carregava uma maldição que um dia seria minha ruína. Entretanto, isso só aconteceria muitos anos depois, quando o mundo viveria uma calmaria e mortes prematuras seriam uma grande fatalidade. 

 
Eu nasci, mais especificamente, no dia 31 de outubro de 1981, vinte duas horas e trinta e sete minutos. A lua minguava no céu escuro e vazio de uma noite satisfatória para alguns, pessoas que lutavam contra o domínio do mal. Medo para outros, os que o seguiam o Lord das Trevas e compartilhavam de seus ideais. De muita tristeza para os Potter e todos que os amavam. E também uma terrível noite para Odile Greengrass, que dava à luz a outra menina, quando um aborto teria sido mais conveniente.

 
No época, vocês precisam saber, os bruxos jovens davam a vida para extirpar os supremacistas da terra e o Lorde das Trevas era uma grande ameaça à paz mundial, todo o mundo parecia caótico e perigoso demais, as noites eram sempre sombrias e o amanhecer uma grande incerteza. Uma péssimo momento para vir ao mundo, eu sei, contudo, nunca fui muito apropriada em momento nenhum. 


Meu pai não se entristeceu completamente quando soube que uma menina havia nascido, foi o que ouvi dizer. Ficou desgostoso, é claro, pois queria um filho, um herdeiro Greengrass, um homem para dar continuidade à família. O nascimento de mais uma filha lhe trouxe agrura, mas não desesperança, considerando que ele ainda era jovem e, para um homem, sempre há tempo para tentar de novo. Porém, minha mãe se recusou. Ela não faria aquilo outra vez. Tomou uma poção que a adoeceu o suficiente para garantir que nenhum outro bebê se formaria em seu útero, não poderia mais correr o risco, outra filha provavelmente a mataria de infelicidade. Ele a odiou por isso, mas ela não se importava, nunca se importou. E era essa indiferença que a permitiu viver tantos anos. 


E foi nessa grandiosa noite, entre alegrias, tristezas e amarguras que minha vida começou, insignificante perante todos os outros acontecimentos marcantes que mudariam para sempre o destino do mundo bruxo, porém não vulgar ou de alguma forma simplória. Minha vida foi breve como sopro, porém forte como uma tempestade. 


Eu me chamo Astória e essa é a minha história.

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