Fernando suspirou enquanto separava mais uma pilha de roupas para lavar. Eram suas, de Elisa, de Marco e dos sobrinhos, todas selecionadas por cor, tecido e idade, sem falar que as dos bebês não podiam ser misturadas com as dos adultos e precisavam ser passadas.
Também já havia ido no mercado e feito as compras para si e para a família inteira, pois sua irmã e seu cunhado não tinham cabeça para nada que não fosse a saúde dos trigêmeos.
As semanas passavam voando, exceto para quem esperava trazer os filhos para casa. E para quem ansiava falar com a mulher de sua vida.
Suspirou outra vez e colocou mais sabão líquido na máquina de lavar. A froga da Luana andava evitando-o com tanta perícia quanto ele o fizera e isso o aborrecia muito.
Era dia dezessete de março, ou seja, seu aniversário. Mas como sua família estava em função dos bebês, ele desistiu de qualquer comemoração. A única pessoa com quem gostaria de passar algum tempo era Luana e ela não lia suas mensagens, nem respondia às suas ligações.
Até pensou em ir à casa dela, mas depois descartou a ideia. Não, não o faria. Não a pressionaria tanto assim, pretendia lhe dar espaço e continuar demonstrando que não havia desistido de resolver as coisas entre os dois. Aliás, melhor que Luana nem se lembrasse do seu aniversário. Se já estava difícil conversarem após aquela noite juntos, tudo o que Fernando não precisava era lhe recordar sua idade e, consequentemente, quantos anos tinham de diferença.
Ligou a máquina de lavar e voltou para a cozinha. Havia feito bolinhos simples de banana quando teve a infeliz ideia de chamar Luana, mas agora ele permaneceria na geladeira até que seu humor melhorasse. Pensou em testar umas novas receitas, o problema era que nem isso lhe animou. Talvez devesse ter ficado na casa de Elisa ao invés de só largar as compras e levar as roupas para lavar, no entanto, agora que já estava em seu lar doce lar, o jeito era continuar ali mesmo, assistindo aos canais de culinária que acompanhava no Youtube¹.
Pegou o liquidificador e fez um suco de abacaxi com hortelã. Quando terminou de lavar o copo do eletrodoméstico e tomou um gole do líquido gelado, a campainha tocou.
Até aquilo fazia Fernando se lembrar de Luana, gritando para que ele abrisse a porta.
E se for ela?
Assim que a pergunta cruzou sua mente, largou o copo no balcão e correu para atendê-la. Logo que deu de cara com Murilo, porém, simplesmente murchou em desesperança. Tolo, era óbvio que não seria ela.
— E aí, cara? — foi seu cumprimento. — Nós terminamos por hoje, mas vim perguntar se já decidiu os azulejos para encomendarmos. A Elisa fica me mandando fotos no WhatsApp² e a Luana apareceu ontem com uma cara de sofrimento, arrastando nos braços uma caixa de amostras. Só que é você quem tem que escolher.
Fernando o encarou e pensou na própria mãe. Ela se equivocava ao imaginar que Murilo se interessava por Luana, verdade? O homem sabia muito bem de sua obsessão romântica, então não o apunhalaria pelas costas.
— Onde estão as amostras? — Será que seu tom soou tão desconfiado quanto sua expressão possivelmente aparentava?, Fernando se perguntou. Limpou a garganta e tentou apresentar uma postura mais relaxada. — Tem tempo agora? Podemos discutir sobre isso se você não tiver compromisso.
Murilo ficou surpreso com o jeito de Fernando, aquilo não era normal. Algo muito sério deveria estar acontecendo para seu cliente tão calmo parecer a um passo de um descontrole total.
Pensando que poderia muito bem avisar sua mãe e irmã de que não jantariam juntos naquela noite, Murilo decidiu que tomar uma cerveja e conversar sobre azulejos seria o suficiente para arrancar de Fernando o verdadeiro motivo daquele mau humor.
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Meu Adorável Vizinho
HumorLuana não tem escolha: quando é intimada a ser os olhos e ouvidos de Elisa na nova obra da confeitaria, ela precisa lidar com as fugas de Fernando, o irmão bom-moço de sua amiga e principal interessado em sua ajuda. O que não imagina é que está pres...