Capítulo Vinte e Oito

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Apesar de Luana e Fernando terem se divertido naquele "Encontro Do Galo", não se podia dizer o mesmo dos dias seguintes. Houve mais saídas desmarcadas, ligações não atendidas e mensagens ignoradas.

Fernando sabia mais sobre Luana através das conversas de Elisa e Marco do que pela própria namorada. Aparentemente, todos estavam preocupados com os sumiços dela.

Naquela noite, porém, ele não lhe daria oportunidade de desmarcar nada. Combinou que a buscaria em casa para jantarem em um restaurante famoso que abriu no centro e avisou que não aceitaria "não" como resposta.

Ele se arrumou. Colocou até terno com direito à gravata. Só não se sentiu totalmente estranho com a roupa porque estava acostumado a ver seu cunhado com aquele tipo de traje dia e noite — e Marco só não dormia de paletó porque amassava.

Deu uma olhada no espelho retrovisor enquanto ajeitava o cabelo. Quando ficou satisfeito, agarrou o buquê de flores amarelas ao lado do banco do carona e partiu para o ataque. Assim que chamou no interfone, foi atendido por Lineu, que liberou sua subida. Pegou o elevador e em instantes tocava a campainha do apartamento de Luana. Quem atendeu foi ela, com uma expressão completamente surpresa.

— O que você faz aqui a essa hora, Nando? — Avaliou-o de cima a baixo e a expressão confusa assumiu um ar entre assustado e preocupado, além de culpado. — Nossa, está todo arrumado e trouxe flores! É alguma data especial?

Ele observou seu olhar perdido e seriedade. Ela vasculhava a própria mente, em busca de respostas. Então, reparou nas roupas, que eram de ginástica: uma regata e uma bermuda. Os cabelos estavam no alto da cabeça em um coque bagunçado de quem o prendeu de qualquer jeito.

— Você se esqueceu do nosso jantar? — Ele ainda a encarava.

— Jantar? Hoje? — Ela recuou, assustada, a mão ficando com os nós dos dedos brancos ao apertar forte a maçaneta. — Meu Deus, é mesmo! Na minha cabeça, havíamos marcado para amanhã! Desculpa, vou tomar um banho rápido, me trocar e... Pai! Continuamos nossa análise depois.

Lineu assentiu enquanto fazia mais uma anotação num dos tantos cadernos que os dois usavam para a descoberta das datas. Mas Fernando não reparou, estava embasbacado demais com o mural gigante e todo rabiscado que cobria duas paredes inteiras do apartamento. O que havia acontecido com o apartamento de Luana? Tornou-se um daqueles lugares secretos de investigação que apareciam nos filmes?

— O-o q-que é isso? — Ele deu alguns passos dentro da sala sem tirar os olhos dos diversos rabiscos.

Luana tinha desaparecido dentro do quarto, então quem respondeu foi Lineu:

— Encontraremos as respostas dessas datas, meu rapaz. Ou não me chamo Doutor Lineu Veridiano Neu!

Fernando piscou algumas vezes, achando que, talvez, fosse uma ilusão de ótica. Aparentemente, encontrou mesmo sua namorada e o pai dela no meio de uma reunião sobre o tal bilhete com as datas e Lineu usava um capacete pontudo, feito de papel alumínio, semelhante ao do filme Sinais¹ — um dos favoritos de sua mãe, aliás. Dona Nonô continuava louca pelo Mel Gibson, não importando em quantas tretas o ator se enfiasse.

Engolindo em seco, observou ao redor, ainda pasmo. A quantidade de velas coloridas e incensos espalhados o chocou, e explicava a mistura de cheiros sufocante.

Quando Lineu viu o genro avaliar tudo tão atentamente até voltar a se focar em sua cabeça, disse:

— Isso aqui é proteção. Expliquei para a Luana que nossas ideias não estão completamente livres de influências externas sem um escudo, mas ela ainda não aceitou. Talvez agora, com esse fracasso da Alectoromancia, finalmente aceite a verdade.

Meu Adorável VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora