PRÓLOGO

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Um mês.

Um mês que parece um ano, um milênio.

Um mês havia se passado desde que eu havia deixado meu coração para trás.

Um novo ano havia começado, mas eu mal tinha percebido isso. Passei a virada de ano deitada na cama, na casa de Ray, pensando nele.

Agora, definhando sobre a cama, tento fazer ouvidos surdos para as vozes ao meu redor.

Eu fui forte o quanto pude.

Eu tentei ser.

Mas houve um momento em que eu simplesmente desabei e a realidade, a minha realidade, finalmente tinha batido em minha porta.

— Você precisa ir ao médico. Sua barriga é bastante visível agora, apesar de ter apenas mais de quatro meses, ela está anormalmente grande. E as aulas voltam amanhã, você não terá tempo depois.

— Minha barriga está anormalmente grande, porque eu estou gorda. —Resmungo.

— Você está linda. — Chad sorri ao dizer.

Eu lhe lanço um sorriso agradecido, ele tem sido um grande amigo nos últimos dias.

— Eu sei que tenho que ir, ok? Eu só... eu só... — As palavras ficam presas em minha garganta quando as lágrimas enchem meus olhos.

Eu quero ir ao obstetra, eu sei que preciso, não estou tomando nada além de umas poucas vitaminas que o médico passou quando eu descobri a gravidez e não sei o estado do meu bebê. Mas ver o meu filho pela primeira vez sozinha, não é o que eu quero. Eu queria Hero ao meu lado. Queria que ele estivesse presente nesse momento tão especial.

— Você o queria ao seu lado. — Ray completa. Eu aceno com a cabeça, incapaz de falar.

Nessas últimas semanas ele não havia me ligado. Não tinha me procurado. E eu me perguntava se ele havia desistido de mim, de nós. O Hero que eu conheço nunca deixaria que eu fosse tão longe.

Por que ele o fez?

Eu o abandonei. Mas o fiz porque ele rejeitou o próprio filho. O pequeno bebê inocente. Mas, no fundo, talvez nem tão profundo, eu esperava que ele fosse até mim e dissesse que esteva errado, que estava ansioso como eu por esse bebê. Que havia se arrependido, se deixando levar pelos traumas de sua vida. Se ele fizesse isso, eu não sei se nos tornaríamos o que éramos antes. Mas, pelo menos, eu não passaria por isso sozinha.

Eu amo esse bebê e o quero mais que tudo. Mas a vida não será fácil a partir de agora. E eu não posso ficar com Ray o resto da gravidez ou da vida. Já havia abusado muito de sua bondade.

— Irei abandonar a faculdade. —Confesso em um sussurro.

— O quê? — Ray pergunta alarmada. —Você não pode!

— Eu preciso! Tenho dinheiro em uma poupança que meu pai colocou para mim durante toda minha vida. Era suposto usar esse dinheiro na UC, mas agora, com esse bebê... eu não posso me dar ao luxo de uma faculdade.

— Mas Hero...

— Hero não nos quer. Não quer o bebê e se ele não quer o bebê, também não me quer. Eu não quero forçá-lo a nada e não quero implorar por sua ajuda. — Eu a interrompo. — Além do que, eu já faltei por duas semanas seguidas... —Dou de ombros.

— Você poderá recuperá-las. Eu posso te ajudar quanto a isso. — Chad fala, me fazendo sorri.

Ele entende a ironia de suas palavras e sorri para mim de volta.

No último semestre eu havia ajudado Chad com aulas de tutoria, mesmo que Hero não soubesse disso, ele era o meu outro aluno, aquele o qual nunca disse ao meu grande ogro possessivo.

Levantando da cama eu ando até o espelho da parede. Vejo meus cabelos loiros em uma bagunça e os prendo em um coque. Ao ver minha imagem refletida no espelho, eu tomo uma decisão.

— Me dê meu celular, por favor. — Peço a Chad que está sentado na cama.

Ele me passa o aparelho e eu acesso a internet. Entrando na lista de médicos obstetras de Berkeley. Discando o primeiro número que encontro, eu marco um horário. Enquanto falava com a recepcionista, era observada de perto por Ray e Chad.

Eu não podia mais afundar em minha miséria e na autopiedade. Eu seria mãe em breve. Uma mãe solteira, para piorar minha situação. E tinha coisas que eu deveria fazer antes da chegada do bebê, eu precisava ajeitar minha vida, colocá-la nos eixos. E ir ao médico, seria o primeiro passo.

Após deixar Hero, eu havia dirigido por ai. Dormi em um hotel barato na noite seguinte ao Natal e, logo cedo, tinha procurado Ray, precisando de um ombro amigo. Pensei em procurar Matt e Max, e meu pai, mas não queria mais problemas e era isso que conseguiria quando eles soubessem da atitude de Hero. Então, somente disse que havíamos terminado e não contei sobre a gravidez, mesmo que me doesse até a alma omitir isso de meu pai.

Ray me abrigou, não tinha ido visitar sua família nesse fim de ano, por isso e pergunta cidade. E sem saber do clima estranho que havia entre Chad e eu, mesmo que eu estivesse dado tutoria para ele por várias vezes nos últimos meses, ela o tinha chamado para que pudesse me apoiar também.

De início a ideia não me pareceu boa. Ainda mais levando em conta os sentimentos de Hero por ele. Mas, com o tempo, seu apoio tinha sido de grande importância. E foi com surpresa que recebi seu pedido de desculpas, sobre o pequeno beijo e toda a confusão que isso causou. E eu também me desculpei com ele sobre a surra que Hero havia lhe dado.

— Vocês estão certos. — Digo após um tempo. — Eu preciso de um médico para cuidar de mim e do bebê. Eu estou sendo negligente com ele.

Aliso minha barriga. Ela estava grande, tinha crescido consideravelmente nos últimos tempos.

— E eu a acompanharei. — Chad sorri quando caminha até mim. Ele alisa minha barriga por cima da blusa.

— Eu agradeço, mas... não acho certo. Pelo menos não agora, pelo que pesquisei, talvez veja meu bebê pela primeira vez e descobrirei seu sexo.

Uma onda de decepção passa por seus olhos, mas ele sorri compreensivo e aperta minha mão que eu tinha colocado sobre a sua.

— Eu entendo.

— Obrigada. — Eu sussurro, agradecida.

Agradecida por seu apoio.

Agradecida por sua compreensão.

— Para quando é a consulta? — Ray pergunta.

— Em dois dias, a médica não tinha vagas para amanhã.

— Jo, eu a levarei. — Chad diz. O olho confusa, havíamos acabado de falar sobre isso. — Não entrarei com você na sala do médico, mas a esperarei do lado de fora. — Ele continua.

— Eu também, Jo. — Ray diz de repente.

Uma lágrima escorre por meu rosto quando compreendo o apoio que me oferecem.

— Obrigada. — Sussurro em um fio de voz.

Ele limpa minha lágrima com o polegar, o fez muito no último mês. E, em seguida, beija minha testa. Ray vem até mim e me abraça. E eu oro silenciosamente para Deus, agradecida por meus grandes amigos.

MINE, Now and Forever [ Livro 2 Adaptação Herophine]Onde histórias criam vida. Descubra agora