Dancing On Fire

New Chapter.

Carina's pov
                        Seattle, Novembro de 2011.

Estava cedo, no relógio não marcava muito mais que cinco da manhã, do alto do prédio era possível ver boa parte da cidade, ainda acordando, luzes acesas da noite anterior, flores de jardins se abrindo, e aquelas pessoas que amavam caminhar naquela névoa matinal. Daqui do alto estava frio, muito mais frio que o normal. Fechei os olhos e joguei a cabeça para trás puxando o ar para os meus pulmões com lentidão, abrindo os braços para um leve alongamento. Vendo a cidade daqui, ela parecia calma, era quase como se ela fosse perfeita. 

— Carina! — Me assustei ao ouvir uma voz feminina atrás de mim, me fazendo desequilibrar e quase cair. 

— Meu Deus precisava me assustar assim? — Reclamo me recompondo, eu estava perdida em meus devaneios que não percebi que uma das bailarinas estava ali comigo. 

— Você anda sempre assustada. — Ela deu uma cotovelada de leve em meu braço direito e eu sorri de leve. Continuou. — Madame Carter deseja te ver na sala dela. 

— Agora? Tão cedo? — Cruzei os braços e franzi a testa. 

— Sabe que aquela ali não dorme né. — Ela abre a porta que dá acesso a escada para descer de volta para dentro do prédio. — Não demore muito, lembre o que ela fez da última vez que demorou.

— Impossível não esquecer, obrigada por me avisar. Estou indo em um minuto. — Assim que fechei a boca ela fechou a porta atrás de si, me deixando sozinha outra vez.

Fiquei questionando o que a madame Carter queria comigo tão cedo, não era do feitio dela me chamar para absolutamente nada. Bom, acho que só havia uma maneira de descobrir, indo até lá. 

Abri a porta e desci as escadas com pressa, me dirigindo diretamente para a sala dela. Madame Carter era a dona da nossa companhia de dança, antigamente ela dava aulas, foi minha professora por anos, até que precisou se aposentar fundando umas das companhias de ballet mais bem sucedidas de Seattle. 

Bati na porta algumas vezes até que ouvi de dentro a voz da mulher dizendo que eu poderia entrar. 

— Senhorita DeLuca, sente-se por favor. — Disse sem tirar os olhos de algumas fotos de figurinos que ela segurava em mãos. Fiz o que ela pediu e me sentei com cautela. 

— Aconteceu alguma coisa, madame Carter? — Questionei curiosa, vendo ela balançar a cabeça em negação. Retirou seus óculos do rosto e depositou sobre a mesa junto com as fotos. 

— Você estuda ballet há bastante tempo, senhorita DeLuca, se não estiver enganada desde seus cinco anos de idade, correto?

— Sim… 

— E está nesta companhia desde seus quinze anos. Está com quantos anos agora? — Ela pergunta botando um dedo sobre o queixo. 

— Estou com vinte e dois. 

— Bom, talvez esteja na hora de você ganhar um papel de destaque. — Ergui as sobrancelhas espantada. — Você é esforçada, e uma das melhores bailarinas que temos aqui dentro. 

— Obrigada madame Carter, mas… não estou entendendo. — Fiz uma careta em confusão e ela sorriu graciosa.
 
— Está na hora de você se tornar a primeira bailarina senhorita DeLuca, neste espetáculo e quem sabe nos próximos. — Abri a boca para falar algo mas antes que pudesse dizer alguma coisa ela continuou. — Sempre admirei sua dedicação, e sempre soube do seu maior sonho. Está na hora de viver ele, o que me diz?

— Eu… Eu não sei nem o que dizer… — Segurei as lágrimas que teimam em cair sobre minha face. Madame Carter estava certa, era meu maior sonho me tornar a primeira bailarina desta companhia, entretanto eles já tinham uma, e ela era incrível e absolutamente insubstituível. — Mas e a Kathryn? 

— A senhorita McCormick está indo para Paris, ela conseguiu uma transferência. Vamos ter que correr contra o tempo para você conseguir pegar toda a coreografia que estava designada para McCormick, porém, tenho certeza que estará preparada e irá conseguir.

— Eu… UAU. — Respirei fundo e me levantei da cadeira, era inacreditável tudo isso está acontecendo. 

— O que me diz? 

— Estou dentro! Quero dizer, aceito sim ser a primeira bailarina, eu não sei colocar minhas palavras em ordem agora, entretanto acredito que saiba o tamanho da minha felicidade e gratidão. 

— Claro que sei. Agora se me der licença. — Ela disse colocando seus óculos sobre o rosto outra vez. Peguei minha bolsa me direcionando a porta de sua sala. — Carina? 

— Sim? 

— Você está pronta, confie em si mesma, bella. — Assim como eu, madame Carter era italiana e fazia questão de manter suas raízes, seja até em uma simples palava. O que ela disse foi tão sincera que pude sentir quase como um abraço apertado. 

— Obrigada. Não irei decepcionar. — Sorri e sai de sua sala literalmente saltando por todo o corredor. 

A felicidade que dominava meu corpo e todo meu ser poderia ser vista em cores e poderia ser tocada se quisessem. Entrei em meu dormitório e fui me preparar para a primeira aula, logo após eu teria meu primeiro ensaio solo. Kathryn me ajudaria até o dia de sua viagem, era assim que acontecia, uma prima bailarina sempre ajudava outra, pelo menos dentro da nossa casa.

Depois de um banho relaxante, coloquei minha roupa de ensaio e preparei minhas sapatilhas de ponta. 
Ao abrir a porta do quarto, ouvi o barulho do alarme de teto que tínhamos, ele avisava se detectasse algum sinal de fumaça, por mínima que fosse, ele saberia.

— Tem alguém queimando comida na cozinha de novo? — Apontei para o alarme e algumas bailarinas olharam e voltaram a atenção para mim. 

— Pior que não, talvez esteja quebrado. — A mais alta delas deu de ombros.

— Deveríamos pedir para a equipe de manutenção checar isso aí. — Falei calma.

— Nem deve ser nada demais Carina, acho que só precisam trocar esse alarme idiota.

— Não sei, não…

— Não se preocupe com isso, o prédio está em ótimo estado, agora vamos, ou iremos nos atrasar para a primeira aula.

O alarme continuou tocando, algo não estava certo, ou eu estava sendo paranoica e o eletrônico apenas esteja quebrado mesmo.

Ao chegar na sala de aula, me assustei ao ouvir aplausos de todos ali presentes, até mesmo o pianista.

— Parabéns Carina! 
— Você conseguiu! 
— Carina eu sabia que você conseguiria!

Todos gritavam para mim palavras de apoio e eu soube do que se tratava. Dessa vez sem segurar as lágrimas, deixei que elas caíssem e agradeci ao universo por tudo que eu estava vivendo ali.