Maya's pov
Era minha terceira semana na estação dezenove. Estava uma loucura para eu conseguir me adaptar à minha nova realidade, dormir menos, apagar incêndios, salvar vidas, essas eram minhas novas funções. Porém, não posso me submeter a reclamar, eu gostava, gostava de toda aquela adrenalina que tudo isso me proporciona, gostava principalmente dos desafios diários que cada incêndio trazia, de como cada vida salva me fazia sentir um alívio sem tamanho e sem explicação.
Era minha terceira semana na estação, e a única maior dificuldade de todas as que eu estava tendo em me adaptar, era em construir uma boa relação com os outros bombeiros. Eu nunca fui boa em me relacionar com ninguém, cresci assim, sem muitos amigos, sem muito contato com outras pessoas da mesma idade que eu.
— Ei novata! — A voz de Andy, uma das bombeiros da estação, me cortou de todos meus devaneios.
— Até quando serei chamada de novata? — Questionei cruzando os braços, o que fez a outra mulher sorrir e se aproximar. — Estou aqui há quase um mês, não acha que já pode me chamar pelo nome?
— Calma loirinha, não precisa ficar na defensiva. — Disse com graça. — Daqui a pouco todo mundo para de te chamar assim, você vai ver. — Apenas forcei um sorriso e ela continuou. — Queria saber porque chegou atrasada para o turno hoje?
— Acredita que meu pai me fez vir correndo de casa até a estação? — Ela arqueou as sobrancelhas e eu sorri. — Ele me deu carona, porém apenas quando eu já estava há três quadras daqui.
— Uau… Isso é…
— Motivador? — Cortei a mulher à minha frente.
— Não, eu ia dizer que isso é totalmente abusi…
— DEZENOVE! — Fomos pegas de surpresa e tomadas em susto pelo grito estridente do nosso capitão. Capitão Sullivan. Andy me olhou arregalando os olhos indicando que o capitão estava naqueles dias, eu apenas prendi o riso.
Nos colocamos em linha, lado a lado, olhando os outros bombeiros correndo para se posicionar da mesma maneira que nós duas. Travis, um dos caras mais legais, escorregou, quase caindo, o que fez Andy rir sem perceber.
— Herrera! — Sullivan chamou sua atenção, se aproximando da mesma, ficando a poucos centímetros de distância. — Acha engraçado rir dos seus colegas?
— Não senhor. — Falou baixo engolindo em seco.
— Eu não ouvi! Acha engraçado rir dos seus colegas? — Ele aumentou o tom de sua voz, fazendo a mim e os outros prender a respiração.
— Não senhor! — Andy gritou de volta.
O homem se afastou da mulher, que soltou o ar pesado logo após. Andy sussurrou um "me desculpe" totalmente silencioso para Travis, que respondeu da mesma maneira dizendo "não se preocupe". Sullivan Estava de costas dessa vez, e eu observava tudo com atenção.
— Nosso turno começa em uma hora, e eu não quero ver atrasos, risos, conversas fiadas jogadas ao vento e muito menos distração. — Se virou para nos encarar.
— Quando o alarme tocar, estejam preparados para servir. — Me olhou rapidamente e eu mantive o olhar fixo no homem. — A noite será longa.
Dito isso, saiu em direção a sua sala e cada um dos bombeiros seguiu para um lado diferente, me deixando sozinha ali no meio de todos os carros. Passei as mãos pelos cabelos e decidi tomar um banho antes que o alarme pudesse tocar.
Consegui tomar banho, colocar o uniforme e comer alguma coisa antes do alarme tocar sem parar dentro de toda a estação. Um incêndio estava acontecendo, e era a estação dezenove que estava sendo chamada. Todos correm rápido para colocar o uniforme de combate a incêndio. Esse uniforme que vestimos por cima do nosso uniforme comum, é o tipo de vestimenta que oferece proteção contra as substâncias químicas que podem estar presentes nos locais de incêndio onde iremos atuar.
Já a caminho do local, que era um condomínio particular, íamos ouvindo todas as instruções que o capitão Sullivan nos passava pelo rádio. Houve um vazamento de gás em uma das casas de luxo, que rapidamente gerou uma grande explosão, assustando todos os outros moradores. A casa, felizmente estava vazia, a família fazia uma viagem naquela semana.
A noite estava realmente só começando, como Sullivan havia dito. Depois que conseguimos conter todo o fogo na casa do condomínio particular, precisamos nos deslocar para um parque que ficava próximo a uma floresta, que iniciou um grande incêndio após alguns jovens jogarem restos de cigarro no chão e deixarem as bebidas cair por cima. Chegava a ser estranho a sensação de saber que um grande incêndio pode ser causado por uma coisa tão pequena.
Seguimos de volta para a estação dezenove após os dois incêndios terem sido contidos. Mais uma vez nossa equipe trabalhou com excelência, recebendo elogio do capitão, o que era raro acontecer, nessas três semanas que eu estava aqui, só presenciei dois elogios, e nossa, devo dizer que sempre pega todos de surpresa. Digamos que o capitão Sullivan tem esse gênio forte, e essa pose de macho alfa, mas no fundo ele sabe reconhecer um bom trabalho em equipe e com certeza gostaria de se tornar mais próximos dos outros bombeiros, é algo que eu consigo enxergar diante de suas atitudes.
— Ei novata! — Dessa vez era o Jack, o homem hetero padrão que toda mulher se apaixona. Revirei os olhos e forcei um sorriso em sua direção. — Maya, não é?
— Olha só, sabe meu nome. Já é uma grande evolução. — Ele sorriu balançando a cabeça em negação. — O que você quer?
— Ouch! — Ele disse fazendo uma careta. — Precisa ser sempre tão grossa assim? — Foi a minha vez de sorrir.
— Ok, deixa eu tentar de novo. — Ajeitei minha postura na cadeira em que estava sentada. — Em que posso te ajudar, Gibson?
— Melhor, está vendo? Não dói ser simpática e ser menos grossa as vezes. — Provocou me fazendo revirar os olhos novamente. — Aceita sair para beber qualquer dia desses?
— Nossa, assim, tão direto?
— É só uma bebida, nada demais vai acontecer novata.
— Me chame de novata mais uma vez e eu não aceito nem beber uma água com você na cozinha. — Ergui uma sobrancelha e ele levantou os braços em sinal de rendição.
— Combinado nova… Maya.
Quando ele abriu a boca para falar mais alguma coisa o alarme soou mais uma vez. Nos fazendo correr. E mais um incêndio precisava ser apagado.
O resto da madrugada seguiu tranquila até o amanhecer. Conseguimos descansar algumas horas, eu consegui dormir durante esse tempo, o que fez meu humor melhorar um pouco. O dia passava devagar, era quase como se ele tivesse mais de vinte e quatro horas.
Mais dois incêndios foram contidos e um resgate a uma criança presa em um brinquedo infantil em uma escola fora executado. Já estava anoitecendo finalmente, o turno iria finalizar em poucas horas e eu mal podia esperar para poder ir para casa.
— Atenção estação dezenove! Veículos de combate à incêndio, veículos de socorro e assistência, ambulâncias, unidade de resgate, e ABR. — Todos estavam sentados à mesa da cozinha, batendo papo e preparando o jantar quando ouvimos a voz alta seguida da sirene. Mais um incêndio, e dessa vez era um dos grandes, haviam pessoas feridas, e provavelmente mortos se não chegássemos a tempo.
O incêndio foi localizado em um um prédio próximo a nossa estação, o local ficava a algumas quadras de distância, o que facilitou para chegarmos mais rápido. O prédio estava completamente em chamas e as pessoas corriam por todos os lados para tentar se salvar do fogo. Era uma escola de dança. E era um dos piores incêndios que eu já havia presenciado.
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Dancing On Fire
RomanceCarina DeLuca estava pronta para se tornar a primeira bailarina na companhia de dança de Seattle, Pacific Northwest Ballet. Porém, seus planos mudam quando um incêndio atinge o palco principal na hora do seu último ensaio. Bailarinos corriam por tod...