It's not easy.

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Carina's pov

— Quatro, cinco, seis, sete e oito… — A música começou a tocar alto após o professor fazer a contagem. — Plié, et élevé! — Gritou para mim e os outros bailarinos que estavam no palco, batendo palma a cada batida da música como uma forma de contagem meio silenciosa. — Sobe esse arabesque, Carina! Eu quero ver essa perna o mais alto possível! 

Meu arabesque era um dos mais altos de toda a minha turma e ele queria que eu subisse mais? Impossível! Bufei para cima, jogando a cabeça para trás. 

— Do começo! Vamos, vamos! Não me façam perder tempo. Carina, por favor mais precisão na sua perna de base, está deixando o joelho frouxo. — Apontou para minha perna me fazendo olhar para a mesma, balançando a cabeça em concordância. — Você é a primeira bailarina agora, não me faça passar vergonha na estreia do espetáculo. 

Ah lasciami solo, uomo idiotti! (Ah me deixe em paz, homem idiota!) — Soltei alto sem pensar. 

– O que disse? — Questionou, e eu dei graças aos céus por ele não entender italiano pois acabei de o chamar de idiota em alto e bom som. 

– Nada com o que deva se preocupar. — Esbocei um sorriso forçado e ele voltou sua atenção para reclamar com os outros bailarinos. 

Os ensaios estavam sendo estressantes, desde que aceitei substituir a Kathryn, não tive um dia sequer em que descansei de verdade. Meus pés doíam o tempo todo, algumas unhas já haviam caído por causa das sapatilhas de ponta, na qual eu usava dez horas por dia. Parece exagero ensaiar tanto, mas é assim que tem que ser e eu não posso reclamar tanto. 

— Quatro, cinco, seis, sete e oito. — Respirei fundo ouvindo a contagem mais uma vez, dando início ao ensaio. — Precisão nessa perna Carina! — Respirei fundo e fiz o que ele pedia. A coreografia era uma composição clássica junto com contemporâneo do espetáculo antigo de Giselle, um dos meus ballets preferidos. O professor criou sua própria variação, colocando um pouco mais de drama e melancolia na coreografia. 

— Está pronta? — Tony falou baixo para que só eu pudesse ouvir, quando ele se aproximou para o nosso pas de deux. Nosso dueto acontecia logo no início de tudo, para que só em seguida eu pudesse dançar o meu solo. Tony segurou em minha cintura me erguendo enquanto eu fazia movimentos suaves com as mãos. 

— Isso Tony, deixa Carina o mais alto possível, ela agora está sobre suas mãos, você controla a dança. — Ouvimos a voz alta, quando Tony me desceu era hora de me deixar sozinha para as piruetas, na qual ele também faz ao meu lado, em sincronia. — Força nessa ponta Carina! Para, para a música. — Pediu sem paciência e se aproximou de mim. — Você é uma das melhores bailarinas desta companhia estou certo? Hãn? Não é assim que a madame Carter sempre fala? Me responde! — Seu grito me espantou, me fazendo recuar um passo atrás. 

— Si… Sim. — Falei engolindo a seco, todos agora estavam vidrados em mim. 

— Então me diz, com toda sinceridade, por que não consegue fazer cinco piruetas seguidas, senhorita Deluca? 

— Eu estou cansada, é só isso. — Disse quase em um sussurro. 

— Creio então que esteja cansada todos esses últimos dias, pois não consegue fazer suas piruetas nunca! Esse espetáculo será um desastre. — Passou as mãos pelos cabelos finos. 

— Me deixe tentar outra vez. — Ele apenas se afastou me dando espaço e fez menção com as mãos de que o palco era todo meu. Soltei o ar, fiz plié e retiré para girar na pirueta, falhando logo na segunda volta. 

— Já chega. O plié vai te ajudar a dar impulso. Mas para fazer uma boa pirueta está muito relacionado à estabilidade do seu retiré. E o seu retiré está totalmente desestabilizado. Quando se trabalha em fazer uma dupla pirueta, em vez de tentar fazer a volta mais rápida ou usar mais força, a melhor coisa a fazer é experimentar preparar como de costume e fazer o retiré sem se virar. — Baixou um pouco o tom de voz, ainda me olhando firme. Os outros bailarinos se olhavam entre si e isso estava me matando por dentro. — Ao fazer retiré, tire a perna do chão rapidamente Carina, mantenha essa posição para o período de tempo que levaria para fazer uma dupla pirueta e depois pousar com cuidado e corretamente. Faça isso da próxima vez. Por hoje é só. — Saiu pisando pesado sobre o chão de madeira.

— Carina! — Ouvi Tony gritar atrás de mim, mas eu já havia pego minhas coisas e corrido dali o mais rápido que pude, entrando no banheiro do meu dormitório. Vomitei tudo que estava entalado na garganta. Toda aquela pressão estava caindo sob meus ombros. Eu sabia que não ia ser fácil, mas está sendo mais difícil do que imaginei que seria. Não quero reclamar, não gosto de reclamar, mas ele está pegando no meu pé de propósito, era nítido, sua favorita acabara de largar a companhia por outra mais renomada, ele estava chateado e estava descontando em mim.

Depois de um banho quente, tomei um remédio para melhorar o enjoo e decidi sair um pouco, eu precisava de ar, já passava das oito da noite, amanhã o ensaio começaria às sete, eu deveria ir descansar e dormir, porém não conseguiria com tudo aquilo borbulhando na minha mente. Sai do prédio e comecei a andar pelas ruas frias e aparentemente calmas de Seattle. 

Procurei por algum lugar legal em que eu pudesse comer alguma bobagem e sair da dieta, porém a única coisa que encontrei na minha caminhada foi uma estação de bombeiros. Estação 19 estava em destaque no prédio. Observei o local andando um pouco mais devagar, e imaginei se eu trabalhasse em um lugar assim, se a pressão que sofro dentro do ballet seria tão forte naquela estação, ou se eu teria um chefe gritando comigo a cada minuto ou se teria alguém que me desse suporte e apoio. 

Quase me desequilibrei na calçada quando um carro parou subitamente na frente da estação, me assustando um pouco. Vi uma mulher loira descendo do carro e correndo para dentro da estação, talvez atrasada? a mulher olhou para trás e forçou um meio sorriso para quem quer que estivesse dentro do veículo, nessa hora eu me dei conta que estava parada ali, observando tudo, como uma completa maluca. A loira deve ter no máximo vinte anos, seu cabelo é longo e está preso em um rabo de cavalo, muito bonita se posso acrescentar.

Talvez se eu trabalhasse em um local assim, não fosse tão ruim quanto é na companhia. Eu não tenho amigos, nem amigas, muito menos pessoas que realmente gostem de mim além da madame Carter, eu acho. Minha família está na Itália, eu literalmente não tenho uma pessoa para quem eu possa correr e contar sobre meus dias, meus problemas e minhas conquistas. Olhei mais uma vez para a estação, a loira já não estava mais lá fora. Sorri dos meus pensamentos completamente isanos, voltando a caminhar e fazendo meu percurso de volta para a companhia. Amanhã seria um novo dia, infelizmente com os mesmos problemas de hoje.

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