26 dias antes

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Vitória
12 de março.

Há alguns dias atrás, cheguei em casa do trabalho e ouvi um choro alto. Corri para o quarto, me aproximando e acolhendo Ana. Nas poucas vezes que tentei questionar sobre o assunto, ela fugiu. Respeitei. Nunca fui de questionar muito a ponto de invadir seu espaço. Se ela quisesse falar, ela sabia que poderia se abrir comigo.

O problema era que isso havia construído uma interrogação em mim. E de três dias pra cá não havia ponto de exclamação ou reticência que me acalmasse. Meu grande medo era o ponto final. Minha cabeça estava aérea, imersa numa duvida, e eu estava de frente ao computador, tentando escrever alguma palavra do que Alfredo, meu chefe, havia me pedido mais cedo. Acho que Manoela percebe, porque arrasta sua cadeira pra perto da minha.

— Ei. Que jeitinho é esse que tu tá? — perguntou a menor, fazendo meus olhos se arregalarem. Não sabia porque da surpresa. Manoela sempre me adivinhava sem tanto.

— Nada. — respondi, mas pelo seu olhar de reprovação pela mentira, continuei. — Só pensando em algumas coisas que vem acontecendo com a Ana.

— Hm? — ela deu uma espiada pela porta, pra ver se ninguém vinha até nossa direção, e se aproximou mais. — Aquilo que tu disse que ela tava meio tristinha? Não precisa não, Vi. Sei que tu não gosta de ver ela mal, mas é completamente normal.

— Não sei. — mexi em minhas mãos, insegura. — Eu sinto algo diferente. Não sei se eu tenho mais tanta certeza... — Manu me corta.

— Não... não termina essa frase. — ela apontou seu indicador para o meu rosto. — Nem ouse... — dessa vez eu quem a cortei.

— Não tenho mais tanta certeza se devo pedir ela em casamento. — terminei rápido, quase um desabafo. Manu nega com a cabeça diversas vezes.

— Eu disse pra não terminar! — ela parece brava, mas vê minha expressão de medo e se aproxima, me abraçando de lado e deixando um beijo sobre meu ombro. — Vi, não tenha dúvidas. A Aninha é completamente apaixonada por você, e isso não é de hoje. Tá tudo bem ficar mal às vezes, isso não anula o que vocês tem. Vai desistir da sua gatinha teimosa? — Manoela perguntou em tom de risada, me fazendo rir junto.

— Nunca... – respondi sorrindo. Manoela sabia me tirar daquela onda de dúvida em que eu me mergulhava. Voltei a minha atenção para o computador, e finalmente comecei a escrever algumas palavras, ou eu não terminaria aquilo nunca.

[...]

Vitória > Manoela • Whatsapp

vitória: comprei

agora não tem mais volta :)a não ser que ela diga não kkkkEITAmanoela e se ela disser não?

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agora não tem mais volta :)
a não ser que ela diga não kkkk
EITA
manoela
e se ela disser não?

manoela: VITÓRIA DO CÉU
que coisa mais linda
nossa a ana sempre quis um anel desses cara
larga de ser doida
claro que ela vai aceitar
você é o amor da vida dela

vitória: espero que sim!!!
tou tão ansiosa, meu deus
pensando em cada detalhezinho
eu quero que seja perfeito

manoela: vai ser perfeito só por ser vocês. meu deus como eu tô orgulhosa :(
eu vi esse casal nascer aff

vitória: sim 🥺 tu viu mesmo
não acredito que chegamos nessa etapa manu

manoela: é amiga
três anos de namoro, um ano morando juntas
o casamento uma hora tinha que vir né

vitória: EU VOU CASAR CARALHO
quer dizer
se ela aceitar né
é claro

[...]

Comprar o anel, conversar sobre aquilo com Manoela, imaginar e planejar fez com que a minha ficha caísse. Aquele dia realmente ia acontecer. Eu ia pedir Ninha em casamento!

Se eu dissesse isso pra Vitória de dois mil e quatorze, ela daria uma bela gargalhada da minha face com aquele papo de que casamento era uma invenção capitalista e nada tinha a ver com o amor. Não que eu tenha deixado de achar que o casamento seja criado pelo capitalismo, mas com Ana Clara... eu tenho tanta vontade de dividir a minha vida com ela, de construir a nossa vida juntas, de podermos ser oficialmente um casal, que eu diria facilmente que o capitalismo me ganhou dessa vez. Eu vejo muito de amor num casamento.

Pensar em cada detalhe me deixava eufórica e pensativa. Não seria nada grandioso; eu iria pedir pra sair um pouco mais cedo do trabalho, preparar um jantar, então passaríamos a noite juntas e no final do dia, eu faria o pedido. Caramba, eu ia me casar.

Se ela dissesse sim.

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