17 dias antes II

491 52 15
                                    

Ana
21 de março.

Me doía, pesava, a forma como Vitória procurava uma justificativa para cada um de meus erros, quando eu mesma, não sabia dizer a ela meus porquês. Suas perguntas carregavam ingenuidade e disso eu sabia. Ela não estava tentando me pressionar ou algo do tipo; eu mesma o fazia, por saber o que aconteceu naquele dia.

Por que tu não veio pra casa então? – a pergunta me pegou em cheio. Engoli seco. O choro me embalou; observava seu olhar em dúvida.

— Eu saí com uma pessoa, Vi. – respondi depois de algum tempo. O silêncio tomou conta daquele lugar, teus olhos mel me observando como uma incógnita enquanto eu ainda chorava.

— Como assim? Eu conheço? Tu tá com alguém? – não respondi. Ela se sentou no sofá, colocou os cotovelos na coxa, me encarou enquanto eu tentava controlar o choro para conversarmos sobre.

— Eu não tô com ninguém, Vi. E tu nem conhece. O nome dela é Marcella. Ela é uma enfermeira nova lá do hospital. – Vitória me encarou, passou as mãos pelo seu rosto em plena agonia. Me martirizei completamente.

— Eu tenho tanta pergunta mas não sei se quero ouvir as respostas. – a frase me pegou em cheio. Eu também não sabia se queria responder. Nem sabia se tinha uma resposta certa.

— Você pode perguntar o que quiser.

— Não sei se quero saber as respostas. – a cacheada repetiu, encarando fixamente o chão, enquanto negava com a cabeça, apoiada entre suas mãos.

— Se não fosse nada, tu não teria mentido sobre horas extras. Nunca escondemos esse tipo de coisa besta.

Me silenciei. Caminhei até seu lado no sofá e me sentei, quieta. Com um nó na garganta, me sentindo atada em cordas, presa entre querer consertar tudo mas não mentir em um minuto sequer.

— Eu não sei porque menti. Nada aconteceu; bebemos cerveja e só. – ela me encarou. Me incomodavam as pausas e o silêncio.

— Realmente nunca mentimos. Você se atrai por ela? – de novo um soco no estômago e sabia que a culpa era minha. Não podia mentir, não podia mentir. Não podia.

— Tu sabe que isso de se atrair... – Vitória me cortou.

— Eu sei, Ana Clara. Isso de se atrair é involuntário, sempre conversamos sobre isso. Mas tu pode responder minha pergunta? Tu se atrai por ela? — me encolhi no sofá. Vitória nunca era grossa, e se fosse, era porque realmente as coisas tinham saído do controle. E no momento, elas tinham saído. Completamente.

Sim.

Silêncio. Silêncio torturante. Mais silêncio.

— Imaginei. – Ela respondeu depois de um tempo.

Silêncio de novo. Tua cabeça baixa, ainda apoiada nas mãos. Eu, recostada no canto do sofá. Tempo depois, ela se levanta. Meu olhar a acompanha, ela anda em círculos na sala me deixando completamente afetada enquanto a observava. Some pelo quarto, e volta com uma mochila cheia, pendurada nas costas. Me sinto zonza com a ideia de vê-la sair por aquela porta.

No dia tu veio pra casa e viu que esqueceu, então foi embora porque não sabia lidar com isso. Não é? – Vitória lembrou minha atitude, me fazendo assentir com a cabeça. — Tu fugiu da situação porque não conseguia lidar com o que aconteceu.

Suspirei profundo, apenas a encarando em silêncio, acompanhando seu raciocínio para ver aonde iríamos chegar. Ela caminhou até a porta, mas parou e olhou pra trás.

— É. Eu não sei lidar com o que aconteceu agora. Acho que tu já entendeu.

E me deixou ali, perdida entre todas as vezes que entre sim e não, me respondi talvez.




((((capítulo extra dedicado pra @imatura338 que está de aniversário hj!!! feliz dia e obrigada por incentivar minha história <3

TalvezOnde histórias criam vida. Descubra agora