– O quê? – Chrysander encarou o médico com uma incredulidade perplexa.
– Pior, ela não se lembra de nada antes disso também. Sabe o próprio nome e pouco mais.
Até mesmo a gravidez a chocou.
Chrysander passou uma das mãos pelos cabelos e xingou em três idiomas diferentes.
– Ela não se lembra de nada? Nada mesmo?
O médico respondeu com um movimento negativo de cabeça.
– Temo que não. Ela está extremamente vulnerável. Frágil. Por isso é muito importante que
não a aborreça. A srta. Jameson tem mais quatro meses de gestação pela frente e um calvário
do qual se recuperar.
Chrysander deixou escapar um som impaciente.
– Claro que não faria nada para aborrecê-la. Apenas acho difícil acreditar que ela não se
lembre de nada.
médico fez um movimento negativo com a cabeça.
– Obviamente a experiência foi muito traumática para ela. Suspeito de que seja uma forma
que a mente encontrou de poupá-la. É apenas um apagão até que ela possa lidar melhor com
tudo que aconteceu.
– Eles… – Chrysander se via incapaz de completar a pergunta, mas ainda assim tinha de
saber. – Eles a machucaram?
A expressão do médico se suavizou.
– Não encontrei nenhuma evidência de maus-tratos de nenhuma forma. Fisicamente falando.
Não há como saber tudo que ela suportou até que esteja apta a nos contar. Devemos ser
pacientes e não pressioná-la, antes que ela esteja preparada. Como disse, a srta. Jameson está
extremamente fragilizada e, se sofrer qualquer tipo de pressão, os resultados podem ser
devastadores.
Chrysander deixou escapar um xingamento baixo.
– Entendo. Eu me incumbirei de que ela tenha o melhor tratamento possível. Agora, posso
vê-la?
O médico hesitou.
– Pode, mas devo aconselhá-lo a não ser muito explícito quanto aos detalhes do sequestro.
Linhas profundas marcavam a testa de Chrysander, que encarava o médico com olhar
sombrio.
– Quer que eu minta para ela?
– Quero apenas que não a deixe nervosa. Pode inteirá-la dos detalhes da vida que ela
levava. Das atividades do dia a dia. Como se conheceram. As coisas cotidianas. No entanto,
sugiro, e confirmei isso com o psiquiatra do hospital, que não se apresse em lhe dar detalhes
sobre o sequestro ou de como ela acabou perdendo a memória. Na verdade, nós a conhecemos
muito pouco, portanto seria imprudente especular ou lhe fornecer informações que podem não
ser verdadeiras. Ela deve permanecer calma. Não quero nem pensar o que outro
aborrecimento poderia causar à srta. Jameson no estado em quem se encontra.
Chrysander assentiu, relutante. O que o médico dizia fazia sentido, mas a necessidade de
saber o que acontecera a Marley era premente. Porém, não a pressionaria se aquilo causasse
algum mal a ela ou ao bebê. Verificou a hora no relógio de pulso. Ainda precisava falar com
as autoridades, mas primeiro queria vê-la, e disse isso ao médico.
MARLEY LUTAVA sob as camadas de névoa que a rodeavam e murmurou um fraco protesto
quando abriu os olhos. Não procurava a consciência. O cobertor escuro que o esquecimento
lhe oferecia era tudo de que necessitava.
Não havia nada para ela no despertar. Sua vida era como um buraco negro. Apenas o
próprio nome atravessara as camadas desordenadas de mente. Marley.
Procurou por mais alguma coisa. Precisava de respostas para as perguntas que a oprimiam a
cada vez que acordava. O passado se estendia como uma paisagem árida diante dela. As
respostas pendiam além de sua consciência, tentando-a, mas escapando antes que pudesse
alcançá-las.
Marley virou a cabeça sobre o travesseiro fino, determinada a escorregar de volta para o
vácuo do sono, quando sentiu uma mão firme segurar a dela. Um arrepio de medo lhe
percorreu a espinha até se lembrar de que estava segura em um hospital. Ainda assim, soltou a
mão e não pôde evitar a respiração acelerada.
– Não pode voltar a dormir, pedhaki mou. Ainda não.
A voz daquele homem se alastrou por sua pele, deixando um rastro de calor em seu encalço.
Cautelosa, ela girou o rosto na direção do estranho. Quem era ele? Será que o conhecia?
Quem a conhecia? Seria ele o pai da criança que se encontrava aninhada em seu ventre?
Em um gesto automático, Marley levou a mão ao ventre abaulado enquanto o olhar focava o
homem que falara com ela.
Era uma presença dominante. Alto, ágil, perigosamente atento enquanto os olhos âmbar a
observavam. Não era americano. Quase deixou escapar uma gargalhada diante dos
pensamentos absurdos. Deveria estar exigindo saber quem ele era e por que estava ali e tudo
que conseguia concluir era que o homem não era americano?
– Nosso bebê está bem – disse ele quando baixou o olhar à mão protetora que ela pousara
sobre o abdome.
Marley não pôde evitar a tensão ao perceber que aquele homem de fato alegava ser o pai.
Não deveria reconhecê-lo? Tentou encontrar algo, algum lampejo de reconhecimento, mas
medo e inquietação foi tudo que encontrou.
– Quem é você? – conseguiu perguntar por fim em um sussurro.
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Traição
Любовные романыMentiras, sedução e um homem inesquecível.Como se não bastasse Marley Jameson ter traído a confiança de Chrysander Anetakis e estar grávida dele, ela foi acometida por amnésia. A antiga amante do magnata grego vendeu segredos da empresa dele, e depo...