Capítulo 7

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DOIS DIAS depois, Marley se encontrava sentada em uma cadeira de rodas. O nervosismo a fazendo fechar os dedos com força em torno do cobertor com que a enfermeira lhe cobrira o colo. Chrysander estava parado a seu lado, escutando com atenção as instruções que a enfermeira lhe dava sobre os cuidados adicionais. Marley alisou as rugas da blusa de gestante que uma das enfermeiras lhe dera com tanta gentileza. Todas haviam sido extremamente carinhosas, e Marley temia deixar para trás todo aquele afeto para mergulhar no desconhecido.

Quando a enfermeira concluiu, Chrysander segurou as alças de impulso da cadeira de rodas e começou a guiá-la pelo corredor na direção da saída. Ela piscou várias vezes quando a luz radiante do sol lhe ofuscou a visão. Uma limusine brilhante se encontrava estacionada a alguns metros de distância, e Chrysander se encaminhou com passos decididos na direção do veículo. O motorista o contornou para abrir a porta no momento em que Chrysander, sem fazer o menor esforço, a ergueu da cadeira de rodas e se apressou em acomodá-la no interior aquecido do carro. Em questão de segundos, estavam se afastando do hospital.

Marley olhou para fora enquanto seguiam o fluxo intenso das ruas de Nova York. A cidade em si lhe era familiar. Conseguia se lembrar de determinadas lojas e marcos. Tinha conhecimento da cidade, mas o que estava faltando era a sensação de que ali era sua casa, de que pertencia àquele lugar. Chrysander não havia dito que viviam ali? Sentia-se como uma artista diante de uma tela em branco, sem habilidade para pintar.

Quando a limusine estacionou diante de um prédio moderno e luxuoso, Chrysander saiu apressado enquanto o porteiro abria a porta do lado onde Marley estava sentada. Chrysander se inclinou para dentro do carro e a retirou com cuidado do veículo. Ela pisou na calçada com os pés trêmulos e logo se viu recostada ao corpo forte, com um braço firme em torno de sua cintura, enquanto os dois transpunham a entrada.

Uma onda de déjà vu a engolfou quando as portas do elevador se abriram e ele a ajudou a entrar. Por alguns breves momentos, experimentou um lampejo de memória, e Marley lutou para apartar os véus da escuridão.

- O que foi? - perguntou Chrysander. - Já fiz isso antes - murmurou ela. - Você se lembra?

Marley respondeu com um gesto negativo de cabeça.

- Não. Apenas me parece... familiar. Sei que já estive aqui.

Os dedos longos se fecharam com força em torno do braço delicado.

- É aqui que vivemos... durante vários meses. É natural que seja capaz de registrar alguma coisa. - As portas do elevador voltaram a se abrir, e Marley inclinou a cabeça para o lado enquanto ele seguia em frente. O fraseado de Chrysander era estranho. Não viviam ali antes do que quer que tivesse acontecido com ela? Ele lhe estendeu a mão. - Venha. Estamos em casa.

Marley aceitou a mão estendida, e ele a puxou para o saguão suntuoso. Para sua surpresa, uma mulher veio ao encontro deles quando os dois adentraram à sala de visitas. Ela hesitou quando a jovem alta e loira pousou uma das mãos no braço de Chrysander e sorriu.

- Seja bem-vindo, sr. Anetakis. Deixei todos os contratos que necessitam de sua assinatura sobre a mesa do escritório e organizei suas ligações por ordem de prioridade. Também tomei a liberdade de pedir o jantar. - A mulher varreu Marley com um olhar que a fez se sentir obscura e insignificante. - Imaginei que não estaria disposto a sair depois desses dias difíceis. - Marley franziu a testa ao perceber que a mulher insinuava que fora Chrysander a enfrentar um calvário e não ela.

- Obrigado, Roslyn - agradeceu ele. - Não deveria ter se dado ao trabalho. - Em seguida, girou na direção de Marley e a puxou para perto. - Esta é Roslyn Chambers, minha assistente. Marley esboçou um sorriso trêmulo.

TraiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora