Cap.1
Hoje, 25 de julho de um ano qualquer que não pretendo deixar esclarecido, decido registrar um pouco de minha vida, de quem sou, um monstro talvez, neste caderno com brochuras que tenho guardado em meu guarda-roupa há alguns anos.
A chuva desta noite me fez pensar em algumas coisas, que não sei o que significam, mas que vejo muitas pessoas se auto questionando várias e várias vezes.
Atualmente me encontro com 28 anos, me chamo Frank, mas fui apelidado pelos policiais da cidade e até mesmo pela Policia Federal como "Game Over". Confesso que ao descobrir tal "codinome" me senti mais motivado a viver como vivo e fazer o que faço da maneira que faço.
Vejo a todo momento nos jornais da televisão, repórteres e policiais pedindo para que a população tome todos os cuidados possíveis caso me encontrem no caminho delas, quando ouço eles dizendo isso em rede nacional, começo a dar risada sem parar, pois, dizem o que sou e como faço, mas não fazem ideia de como sou em aparência ou o real motivo que me leva a fazer tais "atrocidades".
Mas voltando ao tal "apelido", eu gostaria muito de saber quem teve a brilhante ideia em escolhê-lo, o significado a meu ver parece justo, pois como todos já sabem, quando eu escolho um alvo, logo em seguida vem o "Game Over" para sua vida. Gostaria de agradecê-lo ou agradecê-la por sua criatividade, talvez acabando com sua vida vagarosamente como num jogo de fases, em que, a cada nível o sofrimento vai piorando até chegar o momento em que ele ou ela cessará sua respiração.
Consideram-me um monstro... Talvez eu seja mesmo, não sei. A verdade é que eu apenas sigo meus instintos, alimento meu Ego com aquilo que me concede prazer, e, diga-se de passagem, a sensação de ver um alvo meu agonizando até morrer é um presente que me proporciona uma tremenda felicidade.
Mas enfim, quero que prestem muita atenção no que vou contar a vocês, pois sei que quando eu morrer seja em liberdade ou até mesmo dentro de uma prisão de segurança máxima, eu estarei ciente de que todos se lembrarão de quem fui e das maravilhas que fiz em vida.
Nasci em uma metrópole com uma população razoável a meu ver, cerca de setecentos mil habitantes. Minha memória pode ser um pouco falha em algumas lembranças, mas tentarei me recordar ao máximo.
Sou o primeiro filho de dois que meus pais tiveram, temos uma diferença de seis anos... Aliás, tínhamos, o matei enquanto ele dormia tranquilamente em seu quarto numa bela noite de uma quinta-feira, meu pai, um advogado e minha mãe, uma enfermeira, diziam ser um casal feliz e sem defeitos, mas se realmente fossem, não haveriam separado quando eu tinha treze anos, brigavam o tempo todo enquanto estavam juntos, mas logo faziam as pazes para que eu e meu irmão não percebêssemos o que havia acontecido entre eles, que seja. Eu posso dizer que aprendi um pouco com eles, entendi que essa tal palavra "Família" que todos tratam como dadiva, na realidade nunca será uma, pois nunca existira uma família perfeita como muitos dizem ter. Meus pais mal paravam em casa devido aos horários de seus respectivos trabalhos, e quando estavam em casa mal conversavam entre si. Roberto, meu irmão por ser o caçula sempre recebera toda a atenção de meus pais, mesmo brigando tanto como brigavam, ainda assim encontravam tempo para mima-lo.
Por sermos ainda novos e meus pais nunca ficarem mais do que quatro horas dentro de casa, eles viviam contratando babás para nós, até meus dez anos pude notar que foram três babás diferentes, com idades e personalidades um tanto especificas, as duas mais velhas levavam seus filhos.
Quando eu tinha oito anos e Roberto dois, conhecemos nossa primeira babá, chamava-se Jasmim, tinha cabelos loiros, olhos castanhos arredondados e vivia expressando um falso sorriso toda vez que conversava com meus pais, eu sempre fui de ficar na minha desde pequeno, sempre fui do contra em várias coisas e situações.
Certo domingo, Jasmim veio passar o dia conosco enquanto meus pais viajavam para o clube de um cliente que meu pai tinha. Este cliente o presenteou com essa viajem ao litoral com tudo pago como forma de agradecimento por ele ter sido um ótimo advogado, e tê-lo tirado da prisão com certa facilidade.
Jasmim era nova, tinha entre quinze a dezessete anos, não me recordo direito... Neste dia Roberto parecia estar cansado e quase não dava trabalho, eu como era sempre na minha, também não dava trabalho algum, então pensei comigo, se nem eu e muito menos Roberto estamos dando trabalho hoje, porque ela tem que estar aqui sem fazer nada além de assistir novela na TV e ganhar dinheiro fácil. Decidi então ir até o quarto do meu irmão que se encontrava no andar de cima ao lado do quarto dos meus pais. Resolvi brincar com ele enquanto o mesmo dormia, fiquei fazendo cócegas até que acordasse assustado aos prantos, Jasmim ouvindo o choro veio correndo ao quarto ver o que havia acontecido. Ao me perguntar o que aconteceu, olhei pra ela e disse:
- Papai está pagando você para cuidar de nós e não para assistir novela, então vim aqui acordar o Roberto para você ter o que fazer enquanto está aqui.
- Frank, estou cuidando de vocês sim, mas como vi vocês quietinhos resolvi relaxar um pouco no sofá da sala...
- Então faça ele dormir logo porque odeio quando ele fica chorando deste jeito.
- Pois então me de licença Frank, é preciso silencio para que ele volte a dormir.
- Ok.
Logo que sai do quarto, fui em direção a cozinha procurar o que comer. Peguei uma cadeira e coloquei ao lado da pia para usar como uma escada improvisada e poder abrir a porta do armário, onde minha mãe guardava os biscoitos. Como eu era pequeno, a cadeira não me deixava alcançar, então subi naquela pia de mármore que estava um pouco molhada, escorregadia ainda e com alguns pratos no escorredor de agua, foi ai que ao me desequilibrar, escorreguei pisando em falso e empurrei o escorredor para o chão fazendo um grande barulho de louça quebrada e alguns copos estilhaçados, nesse meio tempo consegui pegar o pote de biscoitos, desci de lá rapidamente e quando pisei no chão cortei o peito do meu pé com um pedaço de um dos copos quebrados, eu estava descalço, tinha essa mania de andar assim pela casa, ignorei a dor e o sangue pingando do meu pé, sentei e comecei a comer os biscoitos.
Jasmim veio até a cozinha com Roberto em seu colo para ver o que houve novamente.
- O que você fez agora Frank?
- Não fiz nada, só fui pegar o pote de biscoitos para comer, estou com fome e você não fez nem sequer um lanche pra mim.
- Mas está tudo bem com você, se machucou?
- Acho que cortei meu pé, só.
- Espera um pouco que vou cuidar desse corte seu, dói muito?
- Não, quase nada... - Ela fez um curativo e ficou tudo certo.
Algum tempo depois, já marcando cinco horas da tarde no relógio cuco que podia ser visto na parede da sala, fui novamente ao quarto do Roberto onde o acordei de novo, só que discretamente dessa vez, o vi sorrindo para mim enquanto eu olhava pra ele sem entender o porquê de seu sorriso. Sem ninguém saber já fazia um tempo que eu tentava ensinar palavras a ele, e via seu esforço em tentar reproduzir uma fala ao menos parecida. Com muitos dias de treino, paciência e com o auxílio de uma foto consegui fazer com que ele falasse "Mamãe", mas não com uma foto da minha mãe, e sim com uma foto de Jasmim. O porquê disso? Apenas diversão!
A noite chegara e pouco antes do relógio cuco soar meia noite meus pais voltavam pra casa retornando do tal clube, eu e Roberto já havíamos dormido então não sei o que eles conversaram, mas tenho certeza que foram as mesmas perguntas de sempre, tais como: Os meninos deram trabalho? Aconteceu alguma coisa de errado hoje? Você está livre tal dia para vir novamente? Imagino eu, que Jasmim escondia alguns acontecidos para que não perdesse seu emprego, mas sei que ela disse sobre o corte no meu pé e como aconteceu, porque no dia seguinte minha mãe veio falar brava comigo, dizendo para eu tomar mais cuidado e pedir ajuda na próxima vez. Eu ignorei tudo o que ela disse e continuei brincando com meus carrinhos, afinal, era muito melhor do que ouvir todas as palavras que saíam de sua boca...
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Game Over - O medo está no olhar
Mister / ThrillerEu tinha todos os requisitos para ter uma boa vida em minha infância. Tirando é claro, o fato dos meus pais serem ausentes a ponto de eu ter que desenvolver meu psicólogo sozinho e crescer precocemente, entre outras coisas mais. Sofri bullying...