Confins do Inferno

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A lança foi diretamente enfiada no meio de uma das minhas asas, tirando minha expectativa de voar dali. Senti uma dor profunda, o sangue escorria pelas minhas costas e eu podia ouvir os gritos de Bernardo mandando eu sair de lá, mas eu não tinha escolhas, nem sequer conseguia me levantar.
- Kora! Eles estão vindo atrás de você! - Bernardo gritou, apontando para uma legião inteira de demônios vestidos com roupa de festa, e até parecia ser engraçado, se eles não estivessem vindo atrás de mim com facas, tridentes e espadas.
Do outro lado do salão, Bernardo segurava a lança de Agaures, que tentava espetá-lo, fazendo força contra ele.
Aaba, que estava observando tudo com muita calma, acenou para os demônios que vinham na minha direção e pediu para que eles parassem de tentar nos atacar. Fiquei confusa de como ela poderia ter alguma moral naquele lugar, já que todos ali eram loucos.
- Soldados! - Ela gritou, como se fosse uma general - Quero que todos vocês voltem a festa, deixem os convidados saírem... Pelo lado esquerdo da gruta. - Aaba deu um sorriso malicioso, fazendo um movimento que levantou um portão cheio de grades. Por trás da porta, se via uma completa escuridão.
Ela nos encarou, com um grande sorriso, quase como deboche.
- O que estão esperando? Liberamos vocês! Podem ir! - Ela apontou para o portão aberto.
Segurei na mão de Bernardo e atravessamos o portão correndo dali.
- Você está sangrando muito! - Bernardo me disse, preocupado, tirando a blusa e estancando o sangue das minhas costas com ela.
- Eu vou ficar bem. - Tentei dizer, enquanto íamos em direção às sombras, na escuridão infinita de túneis que nos levavam a aquele portão.
- Você não acha estranho eles terem deixado irmos embora de maneira tão fácil? - Bernardo me perguntou, enquanto caminhávamos sem rumo pelos túneis meio úmidos e quentes ao mesmo tempo, cheios de vapor.
- Claro que não, Ber, eles querem que a gente se perca, por isso nos deixaram ir embora por aqui. Não temos nenhum rumo, estamos andando nesse lugar escuro onde eu não consigo enxergar nada. Por favor, não solte a minha mão, não quero me perder de você.
- Se você diz... Então vamos ter que achar um caminho de saída, mas o problema é que a saída está a muitos metros acima, e você não pode voar até lá, porque está machucada.
- Nós temos que arranjar um jeito, eu não quero ficar aqui! - Berrei, quase chorando, me sentia aterrorizada e com uma vontade imensa de sair logo dali. A dor e o sangramento estavam abafados com toda a fumaça de vapor no meio dos túneis.
- ALGUÉM AÍ? - Gritei, o mais alto que pude, a fim de encontrar Rosalie ou alguém que pudesse nos tirar dali. Mesmo ela sendo assustadora e terrivelmente puta, ela era a pessoa menos assustadora dali, e a única que podia nos ajudar  também. 
- Shhh! Está maluca? Não grite! Pode ter alguma coisa bizarra por aqui! - Bernardo sussurrou, até que ouvimos um barulho estranho no fim do túnel, como se fossem pedras caindo.

- Ouviu isso? - Perguntei

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- Ouviu isso? - Perguntei.
- Ouvi, e é tudo culpa sua! - Ele resmungou.
- Que bobagem! São só pedras caindo!
- Se elas caíram, alguém as derrubou.
GRWARRRRRR

Algo rugiu, num som tão lento que fez muitas outras pedras caírem.
- CORRE!!! - Bernardo gritou, me puxando para o lado contrário ao fim do túnel. 
Corri o mais rápido que pude, mesmo estando machucada, e antes que chegássemos a pelo menos uns 20 passos, senti um ar quente atrás das costas. Algo muito grande havia bufado atrás de nós, e quando me virei para ver o que era, nem tive voz para gritar.
- Ce-ce-cerberus! - Bernardo gaguejou. - Cerberus é um tipo de cão infernal gigante, que possui três cabeças e costuma guardar as almas no inferno para que elas não escapem.
- Vai lá garoto, pega! - Bernardo disse, jogando uma pedra para que o cão fosse atrás.
Ele não foi, nem se mexeu.
- Acho que ele não é como nos filmes...
O cão infernal se enfureceu, e uma de suas cabeças atingiu Bernardo na barriga, o jogando contra a parede. Eu gritei assustada, enquanto via a besta morder um dos braços de Bernardo, que jorrou sangue na parede.

Resolvi fazer alguma coisa, não poderia deixar meu único e melhor amigo morrer nas patas de um cão, muito menos no inferno. Peguei um cajado de ferro enferrujado, que estava encrostado numa rocha, e enfiei no meio do focinho de uma das cabeças, fazendo ele bufar de dor e largar meu amigo.
- Ache alguma saída! - Ele disse, se segurando em mim para conseguir andar em direção a alguns sons que ele ouvia perto de nós. Nesse momento eu finalmente entendi o motivo de Aaba e os demônios terem nos deixado sair, eles sabiam que morreríamos se enfrentássemos um Cerberus, porém, por sorte ele não era muito inteligente.

Empurrei algumas pedras que estavam ao nosso lado, prendendo ele por um tempo, até que conseguimos passar por debaixo de um portão que encontramos na escuridão, e quando o abri, esperando encontrar um local para deixar Bernardo em repouso, vi um lugar consumido pelo fogo, maior que qualquer incêndio, e lotado de legiões de demônios, mas Rosalie estava no meio.

Fαℓℓєn AngєℓOnde histórias criam vida. Descubra agora