11 - Nervosismo

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Acompanhei o meu pai sem largar-lhe a mão até chegarmos aos aposentos dele. Já fazia um bom tempo que eu não entrava ali, mas as coisas continuam da mesma maneira de quando eu era mais nova. Quando decidi falar, vi o meu pai fazer-me sinal para sentar-me no sofá que tinha lá no quarto. Parece que vamos ter muito que falar.

- Queres começar por me explicar como foste até à cidade sem autorização e sem que os guardas percebessem? O meu pai perguntou assim que nos sentamos lado a lado. A sério que ele quer começar por ali?

- Bem... O que eu digo? Eu conheço todas as passagens secretas do palácio do sol e da lua? Tenho mesmo que começar por aí? Perguntei após uns segundos sem saber o que dizer.

- Parece que é ainda mais complicado do que eu pensei... Ele deixou um longo suspiro sair, fazendo-me ficar ainda mais nervosa. Vamos começar com o que aconteceu após tu e aqueles dois saírem do pequeno almoço. Pode ser? Bem, é mais fácil explicar isso.

- Sim... Então, quando eu saí do pequeno almoço com o Yuki e o Alfonse, fomos para a sala em que o Lucas nos esperava. No entanto eu chateei-me com o Yuki durante o caminho e acabei por deixá-los sozinhos na porta dessa sala. Eu continuo sem saber como irei explicar que saí do palácio através das passagens secretas.

- Chatearam-se porquê? Boa pergunta...

- Ele começou a dizer que tinha que combinar quando iria visitar o Alfonse e eu disse que queria ir também. Mas o Yuki disse que eu não podia porque eles iam fazer coisas de príncipes. Expliquei, sabendo que o Caitel ia dizer que eu não podia visitar o Alfonse porque ele não deixa.

- Coisas de príncipes... está certo, eles não sabem que tu sabes lutar com espadas e montar cavalos. Ele não vai dizer que não me deixaria ir? Mas... Oh, aí vem. Não é muito vantajoso eles saberem disso. Por isso é que deves continuar a agir como se não soubesses usar espadas e montar os cavalos. Ele não disse mesmo...

- Se eu quisesse ir... eu podia? Perguntei a olhar diretamente nos olhos do meu pai, vendo um sorriso fraco.

- É claro. Mesmo que eu não queira que tu vás até Auron, se quiseres, eu não irei impedir-te. Mas eu vou junto. Até à dois meses atrás,ele não me deixava ir até Iriam visitar o Yuki, mas agora posso ir a Auron? Ele está estranho. as continuando. Tu deixaste-os sozinhos e foste para onde.

- Primeiro eu fui para um dos meus esconderijos do palácio, mas depois lembrei-me do festival e usei uma passagem que tem entre o palácio e a capital. Ele realmente sabe como me enganar. Não é que eu tivesse ideia do que estava a dizer. Na verdade, eu ainda estava a pensar no que ele tinha dito sem perceber que estava a responder com sinceridade.

- Oh, então tu sabes sobre as passagens secretas? Voltei a mim quando ouvi o meu pai perguntar aquilo

- Sim, mas apenas eu e a Alfa é que sabemos que elas existem. Nem o Lucas sabe sobre isso. Apressei-me a dizer, vendo a cara séria do Caitel. Ele não gostou de saber que eu conheço as passagens secretas.

- Bem, só me poupas trabalho. Aquelas passagens secretas são para serem usadas quando existir uma emergência e invadirem o palácio. É para a família imperial conseguir se esconder e evacuar o palácio em segurança. Por favor usa-as numa emergência. Oh, ele não está chateado.

- Eu irei usá-las se acontecer uma emergência. Disse mais calma, vendo o meu pai levar uma mão até à minha cabeça. Devo continuar? Perguntei, esperando o consentimento do meu pai antes de continuar. Antes de sair da passagem, usei magia para esconder a cor do meu cabelo e dos olhos para não ser reconhecida e também para mudar de vestido.

- Foi uma boa ideia, devo confessar. O povo sabe que a princesa é parecida ao imperador, por isso eles iriam suspeitar de ti se te vissem como estavas esta manhã. Nem louca que eu iria sair sem me disfarçar.

- Depois saí da passagem e passeei pelo festival até um homem vir pedir-me ajuda para acalmar o seu cão. Acho que ele não vai sair do palácio só para ir matar o homem... espero eu.

- Ajuda para acalmar o cão? Forcei um sorriso. Era completamente visível que o meu pai estava a questionar-me se eu fui idiota o suficiente para acreditar naquela desculpa.

- Eu segui o homem até uma rua que estava deserta e quando olhei para trás esse homem estava acompanhado de mais três. Eu perguntei quem eles eram e eles apenas disseram que eu iria valer um bom dinheiro. Fiz uma pequena pausa para ver a reação do papá em relação a isto, mas ao perceber que ele não mostrava nenhuma reação, decidi continuar. Quando eles começaram a se aproximar eu pedi por ajuda e foi aí que aquelas três raparigas que estavam comigo apareceram e ajudaram-me a lidar com dois deles. Os outros dois quem tratou foram o Lucas e os dois idiotas. Expliquei sem entrar em detalhes começando a ficar preocupada sobre o meu pai não mostrar nenhuma reação. Depois disso eu fui passear pelo festival com as raparigas e disse ao Lucas, ao Yuki e ao Alfonse que eles deveriam ficar longe. E foi isso até tu me encontrares. Após acabar, ficamos alguns minutos em silêncio. Minutos esses, que me deixaram cada vez mais nervosa. Porque é ele que tinha que ficar sem reação logo agora?

- Parece que mesmo que tente te proteger, tu sempre vais direita para os problemas. Foi a única coisa que o Caitel disse após longos minutos de nervosismo. O que faço contigo? Ele não começou a me odiar por causa disto... começou?

- O q...? Tentei falar, mas fui interrompida ao ser puxada contra o meu pai para um abraço.

- Eu apenas quero proteger-te, mas tu sempre encontras problemas sem eu perceber. É assim desde que eras pequena... Senti uma coisa húmida cair no meu ombro. Só aí é que percebi a razão daquele abraço. Ele estava a chorar. Eu realmente preocupei o meu pai desta vez. Eu... eu não deveria ter feito aquilo como se ninguém fosse perceber que eu não estava mais no palácio. Era claro que o meu pai não iria cair naquela mentira do Lucas que eu apenas tinha ido à casa de banho.

- Desculpa papá. Foi a única coisa que disse antes de começar a chorar ali nos braços do meu pai. Eu realmente já me acostumei a chorar nos braços do Caitel. 

The Loved One - 2Onde histórias criam vida. Descubra agora