15 - Acordar

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- Nem pensar. O Lucas disse sem hesitar, no exato momento em que pedi-lhe ajuda.

- Porquê? Tu dizes sempre que eu devo aprender coisas novas. Resmunguei enquanto tentava fazer o Lucas mudar de opinião. Como faço para ele ensinar-me?

- Isso não é assim tão fácil. Para conseguir invocar uma espada através daquela forma é necessário criar um espírito para a espada. E isso é complicado e perigoso. O Lucas disse sem olhar para mim, enquanto continuava o seu estudo com um dos livros que ele tinha tirado da biblioteca da torre dos magos reais.

- Criar um espírito? Perguntei confusa. É possível criar espíritos?

- Criar um espírito é a forma que os humanos chamam. Na verdade, eles estão apenas a acordar a consciência perdida do espírito que vive no objeto. A Alfa explicou-me, aparecendo à minha frente e indo até um foco de sol no centro da clareira.

- É por isso que é perigoso? Perguntei sem entender, ainda olhando para a minha familiar enquanto a mesma deitava-se ao sol.

- Tem várias razões para ser perigoso. Mas a principal é não sabermos que tipo de espírito irá aparecer. Tipo de espírito? Mas que coisa é que estamos para aqui a falar? Pode aparecer um espírito calmo e bondoso, mas também pode ser o completo oposto. Tem registos de muitos humanos que tentaram e morreram por causa disso. Entendo... então é por isso que ele não quer que eu aprenda este método de invocação.

- Alfa, sabes como é que posso derrotar um espírito desta natureza? Perguntei, vendo a minha familiar levantar a cabeça.

- É claro. Basta quebrar o objeto que guardava a consciência do espirito. Isso é o suficiente para o espírito desaparecer. Entendo. Acho que consigo.

- Obrigada Alfa. Lucas, por favor ensina-me a criar um espírito para a minha espada. A espada vai ser suficiente. A adaga e a varinha são úteis, mas ainda não me dou muito com a minha adaga, já que esta já é a décima que recebo – de alguma forma as adagas tendem a partir quando as uso – e eu consigo usar magia sem usar a varinha.

- Tu só podes estar a brincar comigo. Não ouviste o que eu e a Alfa acabamos de dizer? Parece que estamos no dia de discutir comigo para eu não fazer coisas que eu já decidi que iria fazer.

- É claro que ouvi. Se eu perceber que o espírito não é bondoso, basta partir a espada. Podes não acreditar em mim, mas eu sei que vai correr tudo bem, por isso... ou tu ajudas-me ou eu faço sem a tua ajuda. Eu sei bem que seria pior se eu fizesse sem ajuda. E também sei que o Lucas nunca me deixaria fazer algo tão perigoso sozinha.

- Tu realmente... Encontra-me amanhã logo de manhã aqui. E trás o teu pai. O Lucas disse isso, antes de desaparecer dali. Ele deve ter usado magia para teletransportar-se.

- A minha mestre é alguém muito interessante mesmo. Ouvi a Alfa dizer, fazendo-me olhar para ela em dúvida. Como percebi que ela não iria explicar-se, apenas sorri-lhe.

- Bem, foi por isso que tu seguiste-me e decidiste que eu seria a tua mestre. Estou errada, Alfa? Perguntei com um sorriso, sabendo exatamente a resposta daquela pergunta.

- É claro que não. A Alfa terminou a nossa pequena conversa, ao voltar a deitar-se ao sol.

- É assim tão perigoso acordar um espírito? Perguntei baixinho, sem saber se a Alfa tinha ouvido. Bem, eu não precisava de nenhuma resposta. Eu já tinha decidido e isso era o que importava.

- Mais ou menos. A Alfa respondeu, ainda deitada. Aproxima-te Sakura. Eu irei explicar-te o porquê do teu mago leal ter dito que era perigoso. Segui a indicação da Alfa e fui até ao lado dela, sentando-me perto do sol. O problema de acordar um espírito que está preso num objeto é o facto da consciência ter sido perdida. Quando o espírito acorda, se a consciência não for encontrada, ele tornasse perigoso e acaba atacando quem o acordou.

- Percebo... mas tem como fazer com que ele recupere a sua consciência logo que acorda? Se conseguir que ele acorde com a sua consciência normal, já não será tão perigoso.

- Que eu saiba não. Já vi humanos tentarem, mas foram mortos antes de terem sucesso. Isso é tão perigoso. Mas se sobreviver a isto, sei que estarei preparada para tratar de um bando de sequestradores de crianças. Mas acho que é possível se fores tu.

- Como assim é possível se for eu? Perguntei confusa. Eu sou diferente dos outros humanos, mas até que ponto é que eu sou diferente?

- Tu és uma das crianças escolhidas. Só por isso já és especial. Uma das crianças escolhidas?

Aquilo lembrou-me do que aquela voz disse quando a ampulheta apareceu à minha frente. Se bem me lembro... ele disse algo como "minha filha, tu foste escolhida por mim." Então... Por causa de eu ter sido escolhida pela aquela voz... eu sou especial?

- Vamos voltar, antes que a Marie fique preocupada. A Alfa disse, fazendo-me perceber que fiquei perdida nos meus pensamentos por quase meia hora.

- Sim, vamos.

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- Pronta princesa? O Lucas perguntou quando cheguei à clareira com o meu pai.

- Estou pronta Lucas. Mostrei um sorriso, para ele acreditar que eu estava confiante. Tudo iria dar certo. Eu sinto isso.

- Sakura, aconteça o que acontecer, eu e o Lucas iremos proteger-te. O meu pai disse colocando uma das mãos nas minhas costas, numa forma de me confortar.

- Não precisas preocupar-te pai. Vai dar tudo certo. Garanti, antes de começar a dirigir-me para o centro da clareira com a espada na minha mão. Aquele foi o primeiro presente que o meu pai me deu e foi a primeira espada que recebi. É por isso que, eu não vou permitir que tenha que destruir a espada só porque o seu espírito não recupera a consciência. Garanto que vou fazer com que ele a recupere.

The Loved One - 2Onde histórias criam vida. Descubra agora