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 Saí correndo para o aposento do meu pai, havia um pingo de fé em mim, que ele escolheria o meu amor.

 Bati em sua porta já aos prantos, ele precisava ver o quanto aquilo me assustava. Quando o servo abriu, eu entrei correndo, pedindo licença.

__Por favor, papai, não me faça fazer isso. Eu quero casar com alguém que eu ame de verdade, e que me respeite acima de tudo. _ Ele não me aguentava ver chorando, desde que eu era criança. Mas muitas vezes ele não me viu. Porque era o que eu mais fazia.

__Como você vem entrando no aposento de um rei e uma rainha assim? Você quer alguém que te respeite, mas onde está o seu? _ Disse Kate se levantando da cama.

__Tudo bem Kate, não precisa se intrometer. _ disse ele, olhando para mim._Filha, você tem que se casar, sua natureza é essa. O que você acha que eles pensarão de nós?

__Eu não me importo papai. Eu queria só ser feliz, conhecer o mundo. _ Falei enxugando as lágrimas e voltando na minha postura.

__Você será filha, você vai escolher com quem casará. Para isso vai ter o baile. Vai ser o baile mais glamoroso já visto. _ Falou tentando me animar, mas isso era exatamente o que me desanimava.

Como se um baile fosse me animar.

__Sim, mas eu já conheço todos que estão em opção. _ Falei limpando minhas lágrimas.

__Você será a rainha, Lina... Será uma boa rainha igual a sua mãe foi. _ Falou parecendo que aquelas palavras são as mais verdadeiras dita por ele, e talvez era.

 Ficou evidente o descontentamento de Kate. Ela estava com um ódio por dentro dela, esse ódio que eu temo. Nós somos movidos por nosso ódio. Ele toma conta do nosso ser, nos fazendo fazer coisas terríveis.

__Adiantou de alguma coisa papai? Se ela não foi feliz. _ A tristeza que seu olhar trazia, eu sentia aquilo que ele sentia.

__Mas você será feliz filha. Porém você terá que casar para se adequar e ser rainha. _ Falou se virando.

__Então eu prefiro não ser, papai. _ Saudei ele e saí do quarto.

Isso era preocupante, parecia que a minha mente não estava em raciocínio mais, eu só queria ver o mar.

__Princesa Lina, venha se vestir antes do café. Uma dama leva tempo para se arrumar. _Disse Helena me puxando pelo braço.

 Tudo havia ficado preto, eu tenho uma sensação muito ruim sobre isso, não estava preparada, afinal, acho que nunca vou está preparada para aguentar algum daqueles caras asqueroso como marido.

__Eu quero ver o mar Helena. _ Olhei para ela, com os olhos lacrimejando, era para convencer ela a me deixa ir.

__Mas agora princesa? Sem o seu café. _ Apontou para a bandeja de café em cima da cama.

Fui até o mesmo e comi correndo aquele pedaço de pão com as frutas.

__Isso não é um comportamento de uma princesa, menina. _ Me repreendeu.

__Se você contar eles não acreditará. _ Dei um sorriso colocando o vestido e prendendo o cabelo.

Peguei o meu caderno e fui em direção a saída do quarto.

__Você pode resolver tudo sozinha, confio na senhora até de olhos fechados. _ Falei me retirando do quarto

__Vou mandar alguém te acompanhar, Carolina.

 Saí do castelo com um dos guardas atrás. Sentei na areia e fiquem com pé na água molhando meu vestido. Se eu pudesse dá um mergulho, mas meu pai me proibiu nadar no mar, então a maioria das vezes eu só coloco o pé, e já me acalma.

'' No fundo o mar é doce,
não pelo seu gosto,
mas sim pelo o poder que a sua água pode proporcionar
limpando tudo o que há de mal em você
e te fazendo esquecer suas perturbações.''

 Eu poderia ficar aqui o dia inteiro, mas logo a Helena me chamou para almoçar, e me deu bronca por estar com a saia molhada.

 Eu estava pronta para partir daqui e desfrutar da liberdade que eu nunca tive, preciso só de um sinal que me encoraja.

 A morte está perto de mais, sempre me acompanhando.

 Prefiro morrer sendo uma pessoa livre, do que morrer presa nesse castelo.

 Eu amava o meu pai, mas eu tinha que pensar em mim por uma única vez.

 Levantei da cama, deixando o pente que eu penteava os cabelos de lado.

 Me dirigi até a porta, observando o quadro que tinha com o meu retrato e o da minha mãe.

 Toda essa revolta que eu tenho dentro de mim, por mais que isso me doa, é culpa sua, mãe.

 Meus sentimentos não eram constantes, eu sempre estava mudando de emoções tão rápido que era quase imperceptível.

 Eu amava meu pai, mas preciso entender sobre o mundo que eu vivo.

Preciso entender o mundo que tem dentro de mim.

 Ele ia me obrigar a casar, não importa o que eu fizesse, ou falasse. Sempre foi assim, ele sempre preferiu ouvir o que a igreja tem a falar do que ouvir a própria filha dele.

 Ele sabia que eu ia ser infeliz, e não se importava nenhum um pouco com isso.

__Princesa, o almoço vai ser servido. _ Disse Helena, me desviando dos meus pensamentos como sempre.

 Mas eu não posso fugir deles, como eu vou fugir de mim mesma, só para ter a aprovação do meu pai?

 Não me parece um preço justo.

 Entrei no cômodo, onde tinha uma nuvem negra de pensamentos negativos. Sei que parece loucura, mas eu sinto esses pensamentos, em cada olhar, em cada gesto.

 Saudei a rainha, que não parava de me encarar, com aqueles olhos cheios de ódios.

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