O Nosso céu

.VII

 Fui em direção a sala de jantar, sabia que papai estava zangado. Eu nunca ficaria arrependida, não estendia para que tamanho chateação.

 Entrei de cabeça baixa e me sentei. Podia sentir todos os olhares para mim.

__O que eu direi para o bispo Lina?

__Talvez que ela não era uma bruxa? E sim uma menina que nem atingiu a maturidade ainda?

 Ele jogou a mesa para frente com brutalidade, nunca havi o visto tão transtornado assim.

__Você é uma escória para esse reino Lina, tenho pena dos seus suditos quando se torna rainha._ Disse Kate em alto tom.

__Escória. _Dei um ênfase._ É vossas majestades, que assassina meninas inocentes.

 Meu pai veio em minha direção me desferindo um tapa forte em meu rosto.

Coloquei a mão na minha boca, onde havia um pequeno corte.

E por mais que eu tentasse segurar o choro, não conseguia.

Porque tinha que ser assim e pronto? Não consigo me conformar.

Nunca gostei de violência, e o meu pai era o que mais sabia disso.

O deixei lá, olhando para mim.

Demonstrar fraquezas por mais que seja ruim, faz refletir o que somos, E eu não aguento mais essa vida que eu levo, queria tanto ter nascido um homem. Por menos que eles se esforçam, são reconhecidos, e nós? Precisamos fazer o que para provar que somos dignas de ter o controle de nós mesmas.

Fui caminhando em direção  ao meu quarto, virando as costas para eles, não queria morar mais aqui. Quero finalmente tomar as minhas próprias decisões, já tenho idade para isso.

Não irei me casar, nem que eu tenha que ser morta, isso vai acontecer.

O meu pai só não me casou antes, porque preferiu esperar eu atingir uma certa idade e não ser apenas uma criança, e sim, uma mulher.

Todos na minha volta são bem mais velhos que eu, e isso me apavora. Meu pai planeja me casar com um deles, por isso ele esperou que eu amadurecesse.

Mas isso não vai acontecer, não serei um troféu para ele. Eu não consigo odiá-lo, porque temos belas lembranças, e por mais que o meu orgulho seja grande, sentirei a falta dele, mas em compensação finalmente serei feliz, e descobrirei quem eu realmente sou.

Faltava uma noite para que a lua ficasse cheia, desde pequena eu entendo o poder que a lua tem sobre mim, cada uma de suas fases refletem em meu corpo e minha alma.

Se meu pai me tratou assim por causa que eu libertei a Catarina, imagina o que a Kate vai fazer e falar. Eu já não aguento mais ela. Ela tinha todas as chances do mundo de ser uma mãe para mim, mas ela não foi. Eu sou apenas uma concorrente para ela e para minhas meias-irmãs.

Queria muito ter vivido em harmonia com ela, mas ela sempre fez a questão que eu a odiasse.

                                    ...

Entrei no quarto e me deparei com outra cama do lado da minha.

__Querida, você deveria ter repensado as suas atitudes. _Entrou a Helena no quarto, com uma cara de preocupada, e um sentimento de desesperança. _Seu pai quer que eu fique grudada com você.

Esse sentimento do medo que me encabula. Porque temos que temer um rei assim? Ou alguém que é superior a você?

__Eu só fiz o que meu coração achou que era o certo. _Sequei as lágrimas e finalmente consegui fazer que elas parassem de escorrer. Senti um alivio dentro de mim.

Ela caminhou até mim, e passou algodão com água no meu machucado.

__Ele não fez por mal, é normal homens ter comportamentos explosivos.

__Ele não fez por mal? _Dei um sorriso para ter a paciência de digerir tudo aquilo que ela me falava. _Ele estava dominado pelo o ódio, Helena.

__E como você sabe disso, Lina? _Olhou bem nos fundos dos meus olhos, buscando encontrar qualquer mentira que eu falasse.

__Só de olhar para ele dava para ver que ele estava transtornado, ele é rude as vezes, mas não ao ponto de me abrir um machucado na boca. _Cuspi aquelas palavras. _Desculpa pelo o modo, é que eu só não consigo entender.

__A vida é assim mesmo querida, o que seriamos de nós se não nos adequarmos a ela?

__Tão livres, felizes e harmônicos.

__Nós mulheres não nascemos livres. Sua mãe sofreu com isso, e agora você está sofrendo também.

__E olha onde ela chegou, Helena, no fundo do mar. Você acha que eu não sou capaz de fazer o mesmo se eu não conseguir o que quero? _Ela me olhou e tampou a minha boca.

__Nunca mais diga isso, Carolina. A igreja cobra muito dele em questão de postura. Já pensou o escândalo que seria se descobrissem que a filha dele é uma rebelde que libertou uma bruxa? _Disse cochichando.

__E talvez uma bruxa considerando pelo olhar deles. _Falei isso olhando para o lado, era a primeira vez que eu falava isso em voz e não em pensamentos.

__Nunca mais diga isso de novo, Carolina. _Segurou em meu rosto.

__Mas eu não posso escapar disso, Helena. Eu só queria entender o que acontece comigo.

__Com o tempo você vai entender. _Falou se deitando na cama. _Agora vá dormir, já está tarde e amanhã você irá se explicar cedo, no café.

Deitei bufando por dentro. Meu pai pelo jeito vai tirar meu direito a privacidade, e eu vou tirar o meu direito de ser rainha.

Partirei amanhã, quando todos estiverem dormindo.

Apaguei a vela do lado da cama, me deitando, e enfim, me deixando levar pelo sono.

Querida acorda.

A não uma memória de novo não. Cada vez que eu havia me fazia lembrar dela.

__Mamãe, por favor não me deixe._ Disse meu eu de 14 anos atrás, aquela pequena menina que eu me lembro mais pelos sonhos. _Quem é aquela mamãe?

__Não tem ninguém aqui Carolina._ Mamãe disse procurando._Chegou a hora Carolina, vou deixar o colar no livro verde musgo da biblioteca.

Espera, que colar?

__Mamãe, meu eu do presente caminhou mais perto da minha mãe.

Ela olhou para mim e disse:

__Vai Caroline o pegue. O tempo está acabando.

...

Acordei soando em um toque assustador. Saí correndo em direção a biblioteca que ficava no corredor.

Abri a porta, fazendo um barulho estourador.

A maioria dos livros era em tom verde musgo. Peguei a lamparina da parede tentando iluminar os livros. Subi na escada para chegar aos livros mais altos.

Mas era muitos livros, muitas pratileiras, muitas estantes.

Olhei para a estante onde achei a maioria dos livros que tinha as letras da minha mãe nele.

__Tem que está aqui.

Procurei todos os livros e não havia achado nenhum. Era quase impossível achar antes do amanhecer.

Me desesperei e desequilíbrei da escada, levando alguns livros pro chão em cima de mim. O estrondo no chão ficou evidente.

Olhei para cima rezando para que ninguém me visse. E estava lá. Um livro chamativo verde musgo, que estava escondido no fundo da prateleira.

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