Parte I: Good boys go to hell when they join bad boys

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Passado

Inglaterra - Londres
Localização: *******

— Sabe, a dor é um dos meios mais eficientes de testar as pessoas. O meu pai me ensinou isso há muito tempo.

Os cabelos castanhos foram puxados, um movimento brusco trazendo a cabeça para trás, erguendo o queixo na direção da luz ofuscante no teto. A pupila contraiu em reposta. Ele enxergava vermelho - um feixe pequeno entre as pálpebras inchadas e pesadas. A cadeira rangeu com seu peso.

— Provocar os sentidos, descobrir e então estender seus limites... isso... isso pode transformar um homem. Moldar uma alma. Não soa belo?

Uma mão calejada surgiu e, por um segundo misericordioso, cobriu a luminosidade cegante, mas antes fosse capaz de focar o único olho aberto e desvendar os borrões ao redor, seus olhos foram vendados.

Mais uma vez ele estava no escuro, somente ciente da própria respiração ofegante e dos sons indistintos ao seu redor; o sistema velho de aquecimento roncando ininterruptamente, o fraco tique-taque do relógio no corredor ao lado, a vibração elétrica das luzes. Um silêncio gritante. Perturbador.

As mãos estavam amarradas ao lado do corpo por cordas presas em ganchos no chão. Sentiu a pressão diminuir nos ombros quando foram soltas e, por um breve instante, teve a ingênua esperança de que fosse finalmente acabar. Então ele foi puxado. Equilibrando-se nos pés também presos no chão, escutou os ruídos e rangidos que tentava desvendar antes de ter os braços erguidos acima da cabeça.

A essa altura já estava se adaptando. Passou os últimos cinco dias sentado no escuro, com o corpo dolorido e paradoxalmente dormente, e a mente desperta. Alerta.

Não recebeu bem seu alongamento forçado. Ossos estalaram e músculos protestaram a mudança súbita. Imaginou quantas horas ou dias ficaria assim agora, de pé.

— Eu pensei que pudesse confiar em todos. — Dante voltou a falar. — Fiz um trabalho tão magnífico com seus irmãos, mas sinceramente não sei onde errei com você Marcel. Quando lhe dei um teto novo e comida decente só o que pedi em troca foi sua lealdade.

Marcel fechou as mãos com força em torno das cordas, seu corpo estremeceu quando o ar ficou muito frio de repente.

— Criei vocês para que fossem os melhores ao meu lado... mas agora está tendo esses pensamentos, esses sentimentos, e tudo isso o torna fraco. — sua irritação era cada vez mais evidente no tom. Crescendo. Espinhos longos se esticando na direção dele. — Jack... por favor.

O homem ergueu seu olhar. Só tinha dezoito anos mas a idade há algum tempo deixou de importar. Eram apenas números. Ele se tornou aquilo que foi ensinado a ser e fazia o que era ordenado-o a fazer. Mesmo que significasse chicotear seu próprio irmão porque sabia qual lado deveria estar. E Marcel teria que aceitar. Ele precisava aceitar. Aquela era a vida deles.

Jack arregaçou as mangas e pegou o chicote dentro do tonel cheio d'água. Engoliu diante da visão do irmão exausto e então, sem hesitar, desceu o primeiro golpe em suas costas. No ar zumbiu a vibração de três tiras de couro. Os cortes voltaram a sangrar, manchando a roupa como na primeira vez, ainda abetos.

Só que Marcel ficou calado. Seu corpo estremeceu. E isso foi tudo.

Golpeou novamente sob o olhar do pai. Não houve grito. Choro. Nem gemidos. Nada. Ele hesitou.

— Continue. E quando ele desmaiar, acorde-o, e comece de novo.

Presente

Itália - Siena
Localização: Banca Monte dei Paschi

Minhas têmporas pulsavam e a cabeça doía em resposta ao estresse daquela manhã que parecia não passar. Tomei um litro de água. Em vinte minutos de caminhada, do hotel até o banco, transpirei tanto que sentia a camiseta colar nas costas. O pior, continuava com sede. Vim procurando algum reflexo onde pudesse ver se meu rosto estava tão vermelho quanto superaquecido.

Austria (L.S) [long fic] Onde histórias criam vida. Descubra agora