Karma

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“Karma: do sânscrito “ação”.

Jung Hoseok

Eu estava sentado na sala de espera da fisioterapia com um Yoongi impaciente.

— Será que você pode parar? — Eu pedi em voz baixa.

— Com que?

— Com o surto. Você vai me deixar maluco.

Ele fez careta.

— Você é um saco, Hoseok. — Reclamou se afastando de mim.

— Onde você vai?

— Vou tomar água. Pode?

Que ódio.

Sabe a sensação irritante que se tem quando alguém ao seu lado balança a perna obsessivamente? Yoongi está assim, só que é dentro da minha cabeça.

A fisioterapeuta atrasou duas horas e agora ele está irritado e ansioso. Chacoalhando a minha mente com pensamentos repetitivos.

Olha, esse lance de "sexta-feira muito louca" foi longe demais.

É exaustivo ter a carga mental de outra pessoa dentro da cabeça, nós vamos acabar enlouquecendo. E o pior é que a distância física não diminui em nada. Eu posso estar em casa e ele aqui, eu vou senti-lo da mesma forma.

E eu sei que é tão ruim para ele quanto é para mim, mas mesmo assim ele se recusa a ver o terapeuta holístico que a avó do Jungkook recomendou. Está sempre evitando o assunto, nunca dá respostas claras, como se pudesse esconder de mim o que pensa por muito tempo.

Posso não ler seus pensamentos, mas estou dentro dele. E Yoongi consegue ser bem óbvio.

Decidi que depois da consulta nós teríamos uma conversa definitiva a respeito, mas a fisioterapeuta resolveu atrasar justo hoje.

Eu sou responsável por trazê-lo na terapia. Achamos uma clínica próxima ao apartamento que ele divide com Jiwoo, mas nem sempre os horários livres dela combinam com as consultas. Por isso eu o acompanho. Ele diz que pode vir sozinho, mas são duas quadras de trabalho braçal empurrando as rodas da cadeira e nem todos os lugares são acessíveis.

Aliás, essa experiência me fez pensar muito em acessibilidade. A vida de um cadeirante já não é fácil e a sociedade não faz nada para melhorar.

Sendo assim, três vezes por semana eu encontrava Yoongi e seguíamos juntos até a clínica de fisioterapia. Eu ficava por lá também, já que transferi minhas sessões de terapia do ombro para a mesma clínica.

A maior parte dos dias era dolorosa e frustrante. Mas pelo menos não estávamos sozinhos. Em alguns dias a gente até se divertia. Apesar de todas as complicações que envolviam nossa relação, nós éramos os únicos que entendíamos como era estar no lugar do outro de verdade, sem falsa empatia. Esse tipo de cumplicidade não se arranja por aí.

A irritação na minha cabeça diminuiu quando Yoongi se distraiu com o sr. Han. Um velhinho que sempre encontramos na clínica às terças, ele fazia fisioterapia para aliviar as dores de uma síndrome degenerativa. Os dois se entendiam, eram igualmente rabugentos e tinham os mesmos interesses. O sr. Han gostava de contar histórias e Yoongi gostava de ouví-las.

Eles discutiam a guerra da Coreia quando a fisioterapeuta chegou, pedindo desculpas a todos pelo atraso. Tinha ficado presa no congestionamento.

Eu fui o primeiro a ser atendido, Yoongi era o próximo.

A doutora Lee pediu que eu fizesse os exercícios de sempre. Eu tive dificuldade para levantar os pesos, meu braço esquerdo até se movia, mas não tinha força alguma. Eu passei quinze minutos da terapia tentando erguer uma garrafa. A doutora Lee sorria, incentivando.

quando me tornei você | jhs+mygOnde histórias criam vida. Descubra agora