Decalcomania: processo artístico de transferência de imagem para uma superfície como vidro ou porcelana, ato de copiar uma imagem. A cópia é chamada de decalque."
Min Yoongi
O pesadelo não acabou.
Só se tornava mais real à medida que as minhas memórias tomavam forma, eu ficava mais consciente de quem eu era e mais consciente ainda das memórias de Hoseok impressas em mim.
Não apenas as memórias, mas os sentimentos. Cada medo, cada fantasia, cada reação às estas lembranças, todas gravadas no meu cérebro. Tudo o que uma pessoa normal deseja esconder dos outros, a privacidade de seus próprios pensamentos, exposto para mim.
E, cara, acredite, eu não estava afim de saber. Era como espiar atrás da porta, eu não tinha o direito de estar ali.
E é claro que, se eu sabia tudo isso sobre ele, o contrário também era verdade. Eu me senti violado ao pensar que tinha alguém vasculhando minha cabeça.
No dia seguinte ao nosso primeiro encontro, Hoseok deu um jeito de voltar. A enfermeira da noite era muito bacana porque trouxe ele até o meu quarto. A visão do meu próprio rosto retalhado em outra pessoa ainda me causava choque.
— Eu não tenho muito tempo — ele disse assim que a enfermeira fechou a porta — O que os médicos disseram sobre o meu corpo?
— Eu fiz uma tomografia hoje — eu respondi tentando não olhar para ele — eu não entendi direito os termos técnicos, mas parece que a coluna continua lesionada. Eles fizeram o que podiam na cirurgia, agora é esperar pelo melhor.
— Como assim? Tem chance de voltar ao normal?
— Eu não sei, cara. Eles nunca respondem essa pergunta. Mas acho que sim, eles querem que eu faça fisioterapia.
— Então tem uma chance! — a voz dele mudou de tom, eu fui obrigado a olhá-lo. O rosto dele tinha se iluminado com a esperança. É muito desconfortável olhar para mim, eu não gostava nem de tirar fotos, imagina bater um papo comigo mesmo.
— Olha, eu vou ser sincero. Tem um cara, um médico mais velho, ele foi bem claro... Não é para criar esperanças.
— Quê?
— Eu não quero que você se decepcione.
— Foda-se o que você quer. Esse é o meu corpo! Se eles te colocaram para fazer fisioterapia é porque existe uma chance e você vai fazer o que for preciso...
— Ei, ei! Calma aí, amigo. Eu não tenho que fazer nada. Você acha que eu consigo te fazer andar com a força do pensamento? A fisioterapia pode ser para não atrofiar o músculo.
— Calma é o caralho! — ele se aproximou da minha cama na cadeira de rodas barulhenta — Você que causou esse acidente, por culpa sua eu estou assim. Eu sou dançarino, você sabia? Meu corpo é o meu trabalho, eu vivo disso. O mínimo que você pode fazer é se esforçar.
Eu conseguia sentir seu ódio, não apenas porque ele me olhava como se quisesse me dar um murro. Dentro de mim, em algum lugar, eu sabia o que ele estava sentindo.
Não era claro como um Edward Cullen. Eu não sabia dizer o que ele estava pensando, era mais como um reflexo sinistro dos meus próprios sentimentos. Uma decalcomania mental.
— Cara, você acha que é fácil tentar me mexer e não conseguir? Ficar o dia todo preso nessa cama, depender alguém até pra mijar? É claro que eu vou fazer o possível, até porque esse corpo pode ser seu, mas sou eu que estou ocupando agora.
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quando me tornei você | jhs+myg
FanfictionJung Hoseok é um dançarino de Gwangju tentando a vida em Seul, Min Yoongi é um fotógrafo freelancer envolvido num relacionamento destrutivo. Eles não têm nada em comum até que uma tragédia une suas vidas. Agora eles estão conectados de maneira irred...