Lehnu

165 28 5
                                    

“Lehnu: termo em gujarati para a conexão entre duas almas que faz cruzar seus caminhos, impactando diretamente suas vidas.”

Jung Hoseok

O dia da cirurgia chegou e eu prometi que estaria lá com ele.

Entrei no primeiro horário da visita e o encontrei num humor soturno. No fundo do meu cérebro, eu sentia alguém arranhar como quem pede socorro. Ele estava com medo.

— E aí, preparado? — perguntou exageradamente animado.

Para a minha surpresa, não recebi nenhum comentário ácido ou resmungo reclamão. Ele me olhou diretamente nos olhos e respondeu:

— Não.

— Yoon, não vai ser diferente das outras. Você vai se recuperar rápido!

— Você ouviu a doutora Kang dizer que essa cirurgia é arriscada, você pode nunca mais voltar a andar e até perder o movimento dos membros superiores?

Eu respirei fundo.

— Sim, eu ouvi.

— Então por que você tá me obrigando a fazer isso? — A frase saiu entredentes, meio embargada.

— Você prometeu.

— Eu não quero, Hoseok. Eu não quero passar por isso de novo.

Eu passei os dedos por meus cabelos, frustrado. Aqui vamos nós outra vez.

— Escuta, eu daria tudo para trocar de lugar com você e fazer o que fosse possível para salvar o MEU corpo. Para mim não importa se é arriscado ou doloroso, o que eu puder fazer para voltar a andar, eu vou fazer. Porque é a MINHA vida, eu não vou parar de dançar… Eu não consigo. Seria o mesmo que morrer para mim. — Minha voz subiu alguns tons — E eu não pedi para estar nessa situação. Eu NÃO escolhi estar no seu corpo, eu NÃO escolhi ficar paraplégico.

— Hoseok… — ele chamou, mas eu ainda não tinha terminado.

— Eu não escolhi sair e ficar chapado. Eu não escolhi deixar alguém nesse estado dirigir meu carro. Você escolheu, então se vira.

Eu podia sentir minhas orelhas queimarem.

É frustrante ter alguém fazendo escolhas sobre seu corpo, é mais frustrante ainda quando é alguém que não se esforça. Eu nunca fui de choramingar meus problemas. A atitude pessimista de Yoongi me dava nos nervos.

— A culpa é sua.

— EU SEI. Que merda, você vai jogar isso na minha cara para sempre?

— Não. Eu só quero que você faça o mínimo enquanto está decidindo o futuro do meu corpo. Depois que eu voltar ao normal, não me interessa mais o que você vai fazer. Mas enquanto você estiver dentro de mim, vai fazer o que eu disser.

— Certo — ele falou entredentes.

Os olhos cheios d’água não me comoveram. Eu estava dentro dele. Sabia que aquela não era a primeira vez que ele fazia algo estúpido e perigoso, colocando a vida dele e dos outros em risco. Jimin podia estar no controle do carro naquela noite, mas Yoongi era tão culpado quanto ele, já que nunca se importou em dirigir bêbado e ainda riu de Namjoon quando levou sermão por pegar o carro naquele estado.

Além de destruir meu carro, minhas pernas e a oportunidade de conquistar meu sonho, eu ainda tenho que pagar por isso? Aguentar a lamentação dele para não fazer o mínimo.

E o pior, minha cabeça estava sempre cheia dele. Das memórias dele, dos sentimentos dele, a tristeza, o medo. Que inferno.

— Se eu morrer na cirurgia, o que acontece com você? — ele perguntou com a voz nasalada.

quando me tornei você | jhs+mygOnde histórias criam vida. Descubra agora