A Carta

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Julieta caminha ao longo do jardim seus pensamentos estão longe, seu corpo está trêmulo, a gola de seu vestido negro parece apertar seu pescoço, precisava de ar, caminha sem rumo, quem a vê de longe, nem imagina o que se passa em sua cabeça. Aurélio, esse nome, esse homem, que polui seus pensamentos e seu juízo, agora vem com uma proposta que a deixa com um misto de alegria e um pavor tremendo.
Acha um banco afastado da mansão e senta, abre dois botões da gola do vestido, quem sabe assim poderia respirar melhor, mas sabem em seu íntimo que não é dessa forma que vai recuperar o ar que lhe falta, quem poderia imaginar que a Rainha do Café iria se encontrar neste estado por conta de um homem de olhos azuis, e que olhos, suspira ao pensar nele, em seu olhar que a prende, em seu toque que a queima, em sua boca que a chama, instantaneamente toca os seus lábios, pensando nos dele , no gosto dele.

Julieta,  com os dedos ainda nos lábios, lembra do primeiro beijo trocado entre eles, que  jura ter sido roubado por Aurélio,  a muito que não era beijada, nem sabe se pode chamar o toque brusco que seu falecido marido tinha de beijo, quando o lábios de Aurélio tocaram os seus, ela sentiu perder o chão sob seus pés, confessa a si mesma que apesar de ser pega desprevenida, aproveitou por um breve momento,  recuperou a consciência antes daquele beijo se aprofundar mais do que devia, a partir daquele momento que seu olhar encontrou com o dele logo após o beijo, antes de ela o colocar para fora de seu escritório (“O que o senhor fez?” ...  “Não te beijei sozinho”... “Seu insolente, sai daqui”... “Para de gritar”,  foi algumas das palavras trocada entre os dois), Julieta soube naquele olhar que estava perdida, tanto que quando se encontravam, sentia uma tensão pairar no ar, seu corpo suava, seus olhos sem querer buscavam olhar a boca dele e querer mais e mais. 

O segundo beijo foi inevitável, mais doce e gentil que o primeiro, o toque suave da mão dele em seu rosto foi tão delicado que era impossível não desejar mais daquele contato,  respiração dele tão próximo, tão ofegante, era hipnotizante, que por fim o beijo foi como coroar um momento especial, se entregou mais, sentiu mais, uma mão dele em volta de sua cintura, a puxando mais perto, outra ainda em seu rosto, queimando onde estava, ao se separar dele e limpar onde ele tocou era um ato infantil e bobo, mas jamais iria reconhecer isso, não houve palavras trocadas entre os dois após o ato, ela não tinha condições.

Perguntava se Aurélio sabia o poder que ele tinha sobre ela, mesmo que mínimo ele tinha o dom de irritá-la e acalmá-la de uma maneira que mais ninguém ousava fazer.

Agora vem ele através de uma carta fazer tal pedido, ele estava em São Paulo, mas parecia estar ali atrás dela na medida em que lia  a carta, ele parecia sussurrar em seu ouvido cada palavra, como poderia aceitar, recusar, o que fazer, seu corpo clamava por ele, sua razão pedia para se afastar mais e mais dele o que fazer. Ainda tem consigo tal papel, volta ler:

Querida Julieta

Queria neste momento estar com você, dizendo essas palavras olhando em seus olhos, sentindo de perto o seu perfume, tocar seu rosto e admirar quando fechar os olhos ao sentir meu toque,  prometi a mim mesmo que não voltaria a procurar a senhora, que essa viagem seria uma forma de esquecer você, que a poderosa Rainha do Café  jamais será minha, que ela tem em volta de si uma armadura que não consigo tirar, que eu sei ser uma defesa, do que eu não sei, mas sei que por baixo esconde uma mulher tão linda, delicada e que só precisa se sentir amada, e é isso o que eu queria oferecer a você: Amor, mas você ainda não se permiti isso, como disse vim a São Paulo como uma forma de esquecer tudo isso, mas como posso se esse sentimento transpira através dos meus poros, se sinto cheiro de café penso em você, se vejo uma mulher ao longe de preto  penso em você, que  do dormir ao acordar é sé em você que penso, como faço? 

Por favor Julieta é um homem que vem perdendo a sanidade que pede, dê um sinal que não é indiferente a mim, que é de verdade que senti seu corpo vibrar ao tocá-la, que não é só meu coração que batia descompassado ao ver você, que não estou neste sentimento sozinho, por favor dê um sinal.

 Com o maior amor do mundo Aurélio Cavalcante.

Termina de ler a carta da mesma forma da outra vez que leu, com os olhos cheios de lágrimas, com os dedos tremendo, com a sensação de o ter ali junto dela e de fato ele estava, sua concentração era tão grande na carta que não o viu se aproxima.  Seu espanto foi tamanho ao vê-lo de fato ali de pé diante de si. 

- Podemos conversar? – ele diz, ela só sabe piscar.

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