Mantendo Segredos

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—Julieta você está acordada? — abri os olhos e estranhamente Julieta ainda se encontrava em meus braços, não era típico, normalmente ele sempre acordava cedo, salvo quando fazíamos amor que ela dormia mais tarde e eu aproveitava para trazer café na cama para ela, mas ultimamente ela vinha dormindo mais, e estranhei ainda  mais ela ter caído no sono enquanto ele estava no banho,  ela estava como sempre, dormindo entre seus braços, mas em uma posição encolhida, meu corpo quase cobrindo totalmente o seu. — Julieta? — mais uma vez recebi apenas seu resmungo como resposta, mas não tinha muito tempo para ficar ali, precisava viajar cedo, relutante, levantei da cama, não sem antes deixar um beijo em seus lábios.
 

Ela percebeu exatamente em que momento ele acordou, seu abraço ficou mais forte em volta  dela, o seu chamado foi apenas para constatar o que já sabia, ele tinha despertado, entre os dois momentos em que ele chamou por ela, teve um bom espaço de tempo, sentiu ele mexer em seus cabelos, tirando-o do seu rosto, difícil manter a postura de estar dormindo, seus lábios encostaram em minha testa, preciso conter meu impulso de estender o meus braços, de querer segurar sua nuca e direcionar sua boca para a minha, de prender o seu corpo com minhas pernas e ficarmos aquela manhã ali entre beijos, carinhos, amor e desejo, como tantas outras vezes ficamos, ainda mais na primeira semana juntos, onde a fazenda que ele estava trabalhando ficou apenas para ele, ou melhor para eles dois, manhãs, tardes e noites viraram uma única coisa , um único lugar, tinha apenas uma empregada na casa, que não fazia nenhuma pergunta, nem direcionava olhares para eles, foram dias perfeitos, o frio da cama deixado pelo vazio do corpo de Aurélio a chamava de seus pensamentos,  por mais que doesse iria manter a  farsa de estar dormindo, já tinha aprendido que ele sabia decifrar seus olhares, palavras não ditas e gestos, virou o corpo para o outro lado, manteve os olhos fechados, e sem perceber dormiu.
 

A rosa foi colocada no seu lado cama, sobre o travesseiro que dormiu, a mulher do outro lado ainda dormia serenamente, havia outro travesseiro, este  estava preso em seus braços, novamente os cabelos cobrem o seu rosto, tirei delicadamente, um sorriso sutil formou em seus lábios ao sentir meu toque, parecia mesmo no sono reconhecer meus gestos, beijei seu rosto.

— Volto logo meu amor.— beijei de leve seus lábios, tentado em querer acordar ela e ver o seu olhar, mas me convenço que é melhor assim, iria voltar logo.— Eu te amo— digo em seu ouvido, posso puxar facilmente na memória a primeira vez em que ela disse as mesmas palavras, e como naquela vez e nas outras vezes seguintes em que tais palavras saíram daqueles lábios, ele sorri, pensa em deixar algo mais que a rosa, logo  em seguida deixa o quarto e segue o seu destino.
 

Horas mais tarde ela despertou, seus olhos focam o quarto, pela claridade que  a  luz do sol trás, dormiu mais que o de costume, culpa da  noite quase insone, mesmo que tenha permanecido deitada nos braços de Aurélio, o sono não foi seu companheiro, virou na cama, e foi surpreendida pela rosa vermelha e pelo bilhete.
 
" Eu queria ter visto o seu olhar antes de partir, de acordar você com beijos e carinhos, queria ter amado, deixando em sua pele marcas de amor, ter recebido seu beijo, suas unhas em minha nuca e costas, eu queria ver o brilho do seu olhar ao dizer o quanto eu te amava, mas não há coisa mais linda que você dormindo, que o sorriso sutil que sai de seus lábios, que eu poderia ficar horas e mais horas velando o seu sono, que cada vez é mais difícil ir e deixar você, saiba que vou nessa viagem e como das outras vezes meu coração permanece com você, cuide bem dele. Te amo."
 

Leva o bilhete até o rosto e o beijei, senti o perfume dele misturado ao da rosa, seus dedos passam pelas letras, lendo mais uma vez, querendo decorar cada palavra,  queria ser boas em palavras assim como ele era, por fim levantou da cama e novamente tudo girou ao seu redor a fazendo sentar, levou uns bons minutos para se restabelecer,  mas quando o fez decidiu de uma vez por todas descobrir o que estava acontecendo com ela, levantou e viu uma pequena mancha de sangue no lençol, suas regras tinham vindo pela segunda vez naquele mês, o que não era normal, mas pensando bem, sabia que assim como no início do ciclo, no fim dele, o que poderia estar acontecendo devido a sua idade, as regras tendem a desregular.
 
 

—Os sintomas que a senhora apresenta, pode ser de a várias coisas, mas vamos fazer alguns exames.

— E quando fica pronto doutor? 

— Dentro de alguns dias.— ele, a leva em uma ante sala, lá uma enfermeira tirou uma amostra de seu sangue, logo em seguida a consulta finaliza, caminha pelos corredores do hospital, ainda bem que estava em São Paulo, se estivesse no Vale, logo a notícia de que a Rainha do Café estava doente, já teria se espalhado antes mesmo da consulta finalizar, o único que deveria se preocupar seria Tião, mas esse já se mostrou tantas vezes a sua fidelidade para com ela, que por fim sabia que poderia confiar nele.

— Sabe que a vinda até este hospital deve ficar em sigilo?— diz assim que entra no carro.

— Sim senhora— percebe a fala um tanto quanto ofendida do motorista.

— Sei que sim Tião, não quero falatórios e nem preocupações desnecessárias, sei que posso confiar em você.

— Obrigada pela confiança.— o carro logo está em movimento, não demora muito para que cheguem  até a mansão.
 
 
 

Ela estava concentrada no que lia, que nem percebeu a presença dele, seus passos não foram ouvidos, deixa a flor em cima do papel que ela lê, seu olhar pousa sobre a sua flor favorita, uma rosa vermelha, a pega, cheira e só depois seus olhos focam em mim.

— Oi meu amor— digo apoiando o corpo sobre a mesa, sou presenteado com um sorriso enorme, os óculos logo  somem do seu rosto.

— Oi— diz tão suavemente, ergue a cabeça e eu abaixo a minha, tomando os seus lábios, a beijo docemente, sinto suas mão em meu pescoço, sem desfazer o nosso contato a puxei, fazendo-a ficar  de pé— Você disse um dia, apenas um,  e veja passou quase quatro dias— ouço ela dizer assim que o beijo acaba, seu rosto permanece junto ao meu, seus dedos traçam linhas suaves em meu peito, mas logo elas deslizam e sobem  pousando em meu pescoço— Você demorou tanto— sussurra, sem saber sinto uma aflição em seu tom de voz, afastei um pouco seu corpo do meu.

— Está tudo bem?— digo, seus olhos estão fechados— Julieta— a chamo, seus olhos se abre ele procura indícios de algo fora do normal,  mas  há apenas a cor de chocolate de sempre.

— Está sim, só tenho saudades— não falo do meus receios, das travessuras que meu corpo tem aprontado como a regra desregulada que veio na primeira manhã da viagem dele e sumiu,, não falo da consulta e dos exames que fiz— Muita saudade de você— o beijo aprofundo o beijo, deixando claro o desejo que tenho de o ter, não quero pensar em nada, só focar naquele momento, começo a desabotoar o colete dele, mãos trêmulas é quem faz aquilo, os dedos dele se encaminham para as minhas costas e quando estão no primeiro botão  uma batida na porta freia os nossos movimentos.— Só um minuto— consigo dizer, com a testa  junto  a dele, respiração acelerada.

— Só vim avisar do jantar dona Julieta, está pronto— Mercedes avisa, ouço os passos dela se afastar. Nós dois apenas nos olhamos, em um acordo silencioso deixamos para depois.
 

—Não vai comer, meu amor? — digo preocupado, o prato dela parecia intacto.

— Estou tão envolvida na conversa que esqueci— ela diz, — Que bom que aceitaram jantar  conosco.— dou uma pequena garfada, o suficiente para tirar o olhar de Aurélio de cima de mim, ele volta a conversar com Darcy, mastigo bem a comida, dando tempo de meu estômago aceitar—Então me fale mais do livro Elisabeta— perguntei para disfarçar o incômodo que estava sentindo, reúno forças e peguei mais um pouco de comida, no momento que Aurélio me olha, ele sorri para mim, Elisabeta desata a falar, tento me concentrar no que ela diz, mas poucas coisas consigo registrar e assim transcorre aquele jantar.
 

— Vamos?— Darcy diz, estendendo a mão para a noiva.
— Sim, obrigada pelo jantar Dona Julieta— os dois se despedem de nós.

— Meu amor preciso subir—digo assim que a porta bate

— Julieta posso usar seu escritório por uns minutos, preciso fazer um relatório, tenho que levar …

— Sim, fique a vontade— digo sorrindo, virei de costas eu não podia mais ficar ali em baixo, subi o mais apressadamente que consegui  abri a porta do quarto e a fechei quase que no mesmo instante, já no banheiro quase não houve tempo, e o pouco do que jantei coloquei para fora.
 

O relatório que fiz tomou mais tempo que pensei, subi ao quarto e estranhei a cama ainda feita, jurava que iria ver Julieta deita, ou até mesmo dormindo, já iriam sair pela porta quando algo chamou minha atenção no banheiro, caída no chão, Julieta.

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