Você Tem Medo?

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–Mas como assim um atestado, se sabe bem que ele está vivo? Não estou entendendo, como você tem isso em mãos. – ela passa novamente os olhos sobre o papel, como para ter certeza que não está enlouquecendo– Me diga.

– Julieta se acalma, eu vou explicar – ele tenta se aproximar, mas ela repudia o gesto dele dando um passo atrás, não fazendo mais porque suas costas encontra a mesa, ao que Julieta agradeceu mentalmente por se apoiar pois tinha medo de suas pernas fraquejarem, mas ele não desiste  e fica ao seu lado apoiado na mesa olhando para ela – Eu consegui esse atestado com um juiz amigo de Jorge...– não podia ter dito coisa pior, pois ela se põe em cima dele o segurando pela lapela do paletó, com uma força capaz de o balançar.

– Você contou para outros , você revelou meu passado, porque? – ela o sacode com uma fúria que ele nunca pensou em ver– Porque fez isso comigo, porque fui confiar em você, porque? –  chorando  ela continua a puxá-lo, mas com bem menos força, ele percebe que ela irá perder os sentidos, mas a ampara bem a tempo a levando de volta ao sofá, a deitando ali e ficando de joelhos. – Porque fez isso Aurélio?– ela falava baixinho, não podendo crer que ele contou a alguém o seu segredo.

 – Por que eu te amo– ele alisa o rosto dela que desvia do seu contato.

– Não me toque, nunca mais.– ela tenta levantar, mas desiste ao sentir uma tontura, que a faz sentar no sofá.

– Por favor, deixa eu explicar antes de tirar alguma conclusão precipitada.– ele pede puxando uma cadeira para ficar próximo a ela.– Eu não contei a ninguém o que você me revelou, não falei para ninguém que seu marido está vivo– ele dá ênfase a palavra “marido”, tentando não perceber a cara de desgosto que ela faz, resolve continuar – Eu jamais faria algo assim trair você desse ou de qualquer outro jeito, não iria perder a sua confiança dessa forma, confiança essa que conquistei passo a passo, como eu estava dizendo, esse atestado eu consegui através de um juiz amigo de Jorge, mas não revelei a verdadeira situação, falei apenas que você tinha perdido tal documento, por você ser conhecida e saberem a muito que és viúva não foi difícil,  só demorei mais pois não tinha as datas, precisei falar com Camilo, mas calma antes de ficar furiosa, disse o mesmo a ele, que apenas  entranhou você ter perdido tal documento, mas que como você  viaja muito pode ter facilmente esquecido em um ou outro lugar, foi simples.– ele diz correndo com a sua declaração, com receio que ela o interrompa, termina quase sem fôlego, ela ouve em um silêncio  quase mortal.

– Foi simples, você acha que foi simples – ela levanta mesmo o mal estar ainda se fazendo presente– Você falsificou um documento.

–Você falsificou uma situação, o que eu acho ser bem pior.

– Sim era mais fácil eu continuar casada, ou melhor refém de um monstro, sofrendo dia após dia e levando meu filho junto.

– Não foi isso que eu quis dizer– ele levanta possesso com o que ela diz, tinha esquecido de como ela era cruel quando queria, Aurélio pega o papel que ficou no chão quando ela quase caiu.– Julieta você não entende que agora com esse papel em mãos nós podemos…

– Podemos o quê? – ela tira o documento das mãos dele, quase o rasgando– o que você queria com isso?

– Quero me casar com você, quero eu ser o seu marido, quero que você seja minha sem nenhum empecilho– ele diz frente a frente com ela.

– Eu ainda continua casada, o empecilho ainda vive, mesmo que sob uma cama, ainda assim vivo, ainda estou presa a ele.– ela fala amargurada.

– E quem sabe disso?

– Eu sei, minha consciência sabe…

– E o seu coração o que ele sabe? O que ele diz? O que ele quer?– eles ficam se olhando, um ar pesado  se instala naquele escritório.

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