Eu Preciso Ir

171 9 1
                                    

Ela acorda e a primeira coisa que nota é que encontra-se em seu quarto, a cabeça pesando uma tonelada não conseguindo nem pensar, com dificuldade consegue sentar na cama, e seus olhos se ajustam a penumbra do ambiente. Constata que já não se encontra mais com a  roupas do jantar, o que tinha acontecido° Pergunta-se mais de uma vez, passo a passo levanta, e vai até a janela, abriu um pouco a cortina e se depara com o dia claro e o sol alto, vê suas roupas em cima de da poltrona, então as pega e sente um cheiro diferente, automaticamente pensa em Aurélio, e as lembranças da noite anterior vem com tudo a fazendo sentar na hora. 

Aurélio, lembra dele chegar, do jantar, Jane e Camilo anunciaram a gravidez, ela saindo para o jardim, vinho, algumas taças de vinho a mais do que estava acostumada a beber, ela e Aurélio conversando, ele estava decepcionado com ela, o beijou, ela quem tinha o beijado, seus dedos vão até seus lábios, ainda consegue sentir o gosto dele, lembra de ter dado uma leve mordida nele e de o apertar de encontro a ela, era tão bom estar dentro daqueles braços, então tudo escureceu e não lembra demais nada, tinha perdido os sentidos, o que tinha acontecido? Onde ele estava? Como estava ali? Eram perguntas sem respostas, então a porta é aberta, e Jane entra.
– Dona Julieta, a senhora acordou, que bom– ela vai até a sogra e senta próximo a ela.  –Como está se sentido?
–Estou bem, acho eu. –ela olha para si mesma como quem procura algo– Jane, o que houve comigo?– ela tinha um olhar confuso, precisava saber o que ocorreu.
– A senhora teve um desmaio, o senhor… foi senhor Aurélio quem a encontrou– a moça baixa um pouco a cabeça, ao lembrar do olhar assustado que o homem tinha consigo ao ter a Rainha do Café desacordada em seus braços, Julieta estranha tal atitude.
– O que não está dizendo Jane? 
– A senhora, bom nós a deslocamos  aqui para cima,  alguém chamou um médico, ele logo veio,  disse não ser nada  demais, apenas cansaço, e que a senhora  vinha acumulando muito coisa e seu corpo sofreu um pequeno abalo, talvez  emoções da noite tenha contribuído.– desconversa a menina e fala rápido demais.– Ficamos todos preocupados, mas aliviados com o que o médico disse. 
– Eu agradeço a preocupação de vocês e desculpe qualquer coisa– fala Julieta um pouco envergonhada por ter dado essa situação a todos, levanta ao poucos, mas para quando a nora continua o seu relato.
– O senhor Aurélio se recusou a sair daqui até vê-la bem, até ter garantia total do seu bem estar.
– Verdade?– ela não ficou surpresa, não esperava atitude diferente dele, ainda mais que desmaiou em  seus braços após o beijo.
– Sim, ele quem a carregou para cá, – Jane sorri e continua – Foi disputado ficar ao seu lado, ele e Camilo, mas os dois tiveram que sair a mando do médico, o senhor Aurélio estava muito preocupado, tanto ou mais que Camilo– Jane parecia querer frisar muito sobre Aurélio e suas atitudes e  se enrolar  em algo que gostaria de dizer, percebe Julieta.
– Depois agradeço ao senhor Aurélio por sua preocupação– ela percebe a moça ficar um tom mais vermelha– Jane o que não está dizendo ou melhor o que quer dizer.
– Dona Julieta eu… bom … a senhora confessou– ela diz levantando e se ajoelhando em frente a sogra– A senhora confessou seu amor ao senhor Aurélio.
– Eu o que? Não sei do que diz? – ela tenta levantar, mas desiste e permanece sentada tendo os olhos da nora sobre ela.
 – A senhora falou de seu amor por ele, que o ama e que estava o perdendo.
 – Eu … Jane  – ela levanta e anda de um lado a outro, aflita com o que ouvia.
 – Por favor, dona Julieta não fique assim nervosa, sente – a menina vai até ela e a põe sentada novamente – Desculpa falar disso, mas eu precisava, e também não fique tão angustiada, estava apenas eu e Ema no quarto.
 –EMA? – Julieta diz alto demais  – Ai Deus o que fiz.
 – Ema já sabia que o pai é apaixonado pela senhora, ele também confessou a ela que a ama– Jane finge não ver o olhar marejado da sogra e continua – E ela ficou tão feliz por saber que  a senhora tinha do mesmo sentimento, que precisei fazer um esforço enorme para conter a empolgação da minha amiga – timidamente ele sorri ao lembrar da cena, o que faz Julieta também abrir um pequeno sorriso. –Ela queria chamar o pai aqui, acredita?Mas não permiti –ela vê a mulher a sua frente arregalar os olhos e suspirar quase no mesmo momento– Dona Julieta, desculpas novamente, estou me envolvendo em algo que não deveria, se vocês dois se amam porque não estão juntos?  – ela vê a sogra suspirar e levantar com calma, fica apenas observando, então com a voz embargada ela revela.
 –Por minha culpa, eu estou presa a tanto tempos em sentimentos e obrigações que nem sei mais como viver sem, que estão impregnados no meu ser.
 – Mas a senhora mudou tanto, eu mesmo posso dizer isso, ou quem acreditaria que estaríamos aqui, se me falassem a meses, atrás eu iria duvidar. – ela se aproxima novamente da sogra.
 – Eu sei, seria impossível mesmo para mim ouvir tal disparate. – elas sorriem.
 – Então? – ela quer saber.
 – Aurélio pediu algo que eu ainda não posso dar a ele.
 – Ou a senhora tem medo? – Jane fica surpresa com o que ela mesma diz – Desculpas , desculpas.
 – Acho que você tem razão, é medo, medo de coisas que você, tão doce, não pode imaginar.
 – Camilo tinha medo da senhora,  da sua reação ao ficarmos juntos mesmo contra tudos e todos lutou por nós dois e veja onde estamos – ela pega uma mão de Julieta e leva a ao seu ventre e sorri ao sentir o carinho que a sogra faz – Será que a senhora vai deixar seus medos impedir a senhora de ser feliz? De se permitir lutar por quem ama?–ela abraça a sogra com carinho, que ela corresponde– A senhora merece ser feliz, ele foi para o Vale– ela diz no ouvido da sogra, a apertou mais em seus braços, beijou seu rosto e a deixa ali, inundada por pensamentos, dúvidas e temores.

Não muito tempo depois Julieta desce as escadas decidida. a resolver de uma vez por todas aquela situação.

 –Mãe a senhora está melhor? Vai sair – diz Camilo que a vê arrumada.
 – Sim estou melhor meu filho, obrigada  – e trocando um olhar com a nora, completa  – Preciso ir ao Vale do Café.
 –Mas …
 – Camilo eu preciso ir – ela sai deixando um filho confuso e uma nora sorridente.

O caminho até o Vale parece levar uma eternidade, mas resolve usar esse tempo para articular mais as palavras, não seria uma conversa fácil com Aurélio, mas necessária, era hora de dar um basta naquela situação que estava se arrastando demais, se não se permitia viver aquilo que ele estava propondo, deveria deixar ele livre, por mais que doesse tinha que fazer  aquilo. Chega de noite em sua casa junto com uma chuva pesada e assustadora, cheia de raios e trovões, parecia um mau presságio, e percebe que teria que deixar para o outro dia o assunto do qual foi tratar, mas sem cabeça para ir dormir vai para o escritório, trabalhar sempre a ajudava.
 – Por favor Mercedes uma xícara de café. – a mulher sem estranhar tal atitude da patroa a deixa só.

Ela pega a pilha de correspondência e começa a ler, a grande maioria sem importância, mas seu olhos se deparam com um nome conhecido, junto com o trovão que a assusta, desfeita do susto e do pavor inicial ela pega a carta, e começa a ler.

“Julieta

Não é com pesar nenhum que veio através dessa singelas palavras dizer que o tio avô de seu falecido marido morreu, seu coração, se é que ele tinha um, parou de bater, sei que ele não fará falta, pelo contrário.

Quando puder gostaria de uma visita sua, sinto falta.

Fique bem minha amiga, fique em paz a justiça se fez.

Constância.”

Ela não podia acreditar,  seu inferno estava definitivamente chegando aos fim, Tio Avó, nada mais era que o próprio Osório, ela e Constância, a empregada que foi testemunha do seu infortúnio de vida, tinham criando aquele código para falar dele, para que ninguém viesse tomar conhecimento que ele ainda vivia, Constância no seu jeito de ser, tinha dado a notícia que mais esperava.

Ela estava livre, livre, um sentimento de felicidade tomou conta dela, que  só sabia sorrir, ele estava morto, ela estava livre, sem amarras, sem laços que a uniam aquele ser monstruoso, pois sempre tinha para si que Camilo era só seu filho, seu e de mais ninguém, Osório estava definitivamente e verdadeiramente morto e refeita do primeiro impacto daquela novidade  só pensam em uma pessoa, ela corre até a cozinha e pega Mercedes e os outros empregados de surpresa.
 – Mercedes, sabe se o senhor Aurélio ainda encontra-se hospedado  na casa do Coronel Brandão? –ela segura as mão da mulher como quem suplica algo.
 – Dona Julieta ...eu não sei – ela nunca viu a patroa naquele estado – A senhora está bem? 
 –Estou, estou mais do que bem,  eu só preciso falar com ele, eu preciso – ela não se contém.
 – Senhora desculpas, mas eu ouvi perguntar pelo seu Aurélio, ele não está mais  na casa do Coronel – diz um dos empregados que ali se encontra, seu sorriso murchou, mas foi por um segundo – Ele está na fazenda aqui do lado, A Nascente, o senhor quem comprou ...  – mas o moço já está falando sozinho, pois Julieta já se dirige ao carro, o motorista que viu a cena na cozinha tem que correr para alcançar a patroa.
 – Para a fazenda Nascente o mais rápido. – diz entrando antes mesmo do homem abrir a porta.
 – Senhora a chuva…. – ele tenta, mas ela o impede.
 – Eu só preciso chegar o mais rápido que puder, por favor. 
 Ele quem nem é bobo nem nada, segue  e faz o que pode naquelas estradas enlameadas, rezando pelo seu próprio pescoço para que chegasse a tempo, Julieta vai o caminho rezando, não só para chegar, mas para que Aurélio esteja lá e a receba.

Nunca é Tarde... Onde histórias criam vida. Descubra agora