Eu costumava ter sempre o mesmo sonho quando era menor, não era como se ele tivesse um começo realmente, mas ele sempre se repetia de forma clara.
Eu estava em uma daquelas redes em que você facilmente se deita, alguém me empurra devagar enquanto eu permitia sentir os raios solares aquecerem parte da minha pele, afinal o lugar onde a rede estava era cercado por árvores, o que era um pouco estranho levando em conta que eu tinha extremo medo de insetos quando menor. Também me lembro de apreciar sentir o pequeno vento refrescante que batia contra meu rosto quando aquela pessoa me empurrava, então eu levantava uma das minhas mãos e separava os dedos, sorrindo ao ver os raios solares atravessarem aquelas brechas. Depois disso eu nunca mais conseguia me lembrar.
Parece estranho começar algo falando sobre isso, mas a situação que eu me encontro agora merecia uma pausa para algo que me trouxesse paz e calma.
Eu estava atravessando a rua, o sinal de carros havia acabado de fechar, mas sem esperar, eu ouvi uma buzina quando estava no meio da transitório para atravessar a faixa. Foi tudo extremamente rápido e confuso, mas a última coisa que me lembrava era de assim que a buzina soou, meu cérebro automaticamente me levar aquela lembrança de um sonho tão especial.
O baque contra o asfalto gelado daquela noite foi quase indolor, talvez tenha algo ligado diretamente a adrenalina que percorreu toda a minha corrente sanguínea quando eu vi aquele carro desenfreado vir em direção ao meu corpo. Porém agora minha cabeça doía um pouco, talvez fosse o barulho da sirene da ambulância, cujo a mesma me levava ao hospital, que mesmo que não passasse de um zumbido, ainda era extremamente incomoda.
Uma voz feminina pedia para que eu tentasse ficar acordada ao mesmo tempo em que pedia algum tipo de coisa para o motorista do veículo. Mas seus pedidos foram totalmente ignorados quando eu me rendi a fechar os olhos e descansar a cabeça de tudo.
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Abri meus olhos me arrependendo rapidamente de meu ato, o lugar claro em que estava fez minha cabeça doer e meus olhos arderem, efeito de ficar muitas horas de olhos fechados. Eu não lembrava do momento em que cheguei no hospital, só tinha uma vaga lembrança da última madrugada, que se baseava em uma voz jovial falando que logo eu ficaria bem.
Depois de muito preparo eu abri meus olhos, mesmo que ainda ardesse pela claridade do local, olhei ao redor e tive certeza de que estava em um quarto de hospital, talvez o fato de ter um enfermeiro virado de costas checando minha pressão tivesse ajudado minimamente.
Abri a boca na iniciativa de falar algo, mas minha garganta doeu e eu acabei pigarreando de forma audível.
— Não tente falar, você ficou muito tempo sem água. Sua garganta deve estar doendo, beba- era a mesma voz daquela madrugada, mas o rosto superava todas as expectativas que meu subconsciente criou com aquela voz.
Ele era bem mais alto que eu, seus músculos ficavam a mostra com a camisa de manga curta, o que me fazia ter a visão de algumas tatuagens em sua pele. Seu cabelo cacheado e em um loiro dourado também não ficavam atrás quando o assunto era sua beleza.
Ele pareceu perceber que eu o analisava, então rio ao me estender um copo cheio de água, fazendo um sinal para que tomasse, junto com um outro menor, mas esse com duas pílulas.
— Eu sou o Jordan e bom, serei o enfermeiro que te acompanhará até sua alta, o que eu espero que os meus cuidados seja o mais rápido possível- falou de forma gentil, sorrindo de maneira simples e bonita.
— Eu sou a S/N e bom, não faço ideia do que rolou comigo- ri baixo, minha voz saiu fraca mesmo depois de tomar o copo d'água.
Depois disso Jordan me explicou tudo que havia acontecido comigo, desde o atropelamento até o médico decidir que eu devia ficar no hospital em observação, mesmo eu só tendo torcido o braço e machucado uma costela. O cacheado também me avisou sobre a prisão do motorista, que pelo que o noticiário avisou, estava alcoolizado.
Ao longo das horas eu fui aprendendo mais sobre Huxhold, sobrenome de Jordan, como por exemplo a mania que ele tinha de mexer no cabelo sempre que esquecia que tinha que fazer algo, então ele saía correndo do quarto e minutos depois aparecia com um pudim de chocolate como desculpas por não poder terminar a história sobre seu trauma de pesca em Lagos.
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Eu não fiquei mais do que dois dias no hospital, mas aquilo foi o suficiente para me apegar as piadas sem graça e ao bom dia animado que recebia do jovem enfermeiro, talvez fosse isso que tivesse me induzido ao fazer o que estava prestes a fazer quando sai do banheiro já com minhas roupas normais, que minha irmã havia me trago antes de ir assinar uns papais não recepção.
Eu sai do quarto confiante, nada podia me barrar de fazer aquilo, afinal eu não era mais uma paciente ligada diretamente a ele, então foi com esses pensamentos rondando minha cabeça que assim que esbarrei em Jordan soltei a frase.
— Você quer beber algo comigo?