Capítulo 13

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Me perdi na paixão

Queria ter acordado plenamente e feliz no meu apartamento, mas o que eu vi foi um cara barbudo sorrindo com uma escova de dentes na boca.
- Gom bia - falou o animal raivoso.
- AAAAAAAAAAAA - eu gritei.
- IAAAAAAAAAAA - Dhalia levantou gritando também.
- UAAAAAAAAAAA - Tony gritou por bondade.
- Vem então, porra, não vou cair sem matar - Ciele saiu do chuveiro com o cabelo todo ensaboado e uma escopeta calibre .12 cinza nas mãos. - VEM!!! - e ela engatilhou a arma pesada.
- Hummm bom dia. - falei meio tímido com aquela cena, cobrindo os olhos como um bom cavalheiro.
- Bom dia, meus queridos, café na mesa. Se preparem bem - Ciele apoiou a arma no ombro, o que não ajudou muito. - E vamos lá.
- Amor, todos estão vendo meu local favorito - Tony estava vermelho de vergonha.
- Eita - Ciele agiu naturalmente e saiu correndo de volta pro banho.

Tomamos café como uma família feliz, bolo de coco, um café bem docinho e diversos papos aleatórios sobre a bolsa de valores, armas e promessas de ano novo - mesmo a gente estando em maio - e como tudo iria se desenrolar. Desde os pneus furados ao ataque aéreo do Tony.
- Há uma rocha de apoio no local em que irei descer, é tudo milimetricamente calculado, Ezio - Tony riscou uma linha na foto com super zoom a qual ele tinha imprimido do Google Maps, um local exato para jogar o fura pneus. - Exatamente aqui, nada mais e nem nada menos. Compreende?
- Por mim tudo bem.
- Confio no Ezio e vocês gostaram dele rápido demais, então imagino que vá dá tudo certo - Dhalia estava ao meu lado encarando o plano, depois da última conversa sua empatia tinha dobrado por mim. - Mas, não vai ser detectado essa impressão? Caso venham a investigar.
- Tudo bem, Ciele usou a "cebola" pra conseguir tudo e um pouco da DW - Tony não se mexia enquanto explicava, praticamente uma máquina.
- Ezio - Ciele me chamou de fundo, estava verificando as armas no sofá, mexia nelas como se fossem relíquias frágeis. - Venha aqui.
Encarei Tony e Dhalia e eles fizeram um sinal de "boa sorte, passamos por isso também".
- Sim - andei até ela e sentei na parte que formava a perna do "L" no sofá.
- Sei da sua auto afirmação de estar preparado, mas você não está - curta, verdadeira e direita. - A cabelo de fogo me contou seus problemas depois de ter matado aquele senhor, vômitos, choradeiras, desmaios e afins... Você tem certe...
- Não preciso de avisos, Ciele, na verdade, até agradeço a preocupação - meus dedos estavam cruzados entre meus joelhos, sem tremedeiras ou medo, apenas calma. - Mesmo todos vocês sendo mais habituados a esse mundo, acredito já ter passado por merdas o suficiente para aguentar isso.
- O que vamos fazer não é certo - ela parou de limpar a arma e me encarou. - Pessoas vão morrer, isso você pode ter certeza.
- O que é "fazer o certo"? Vamos tirar dinheiro de uma família que guarda na poupança esperando pagar a faculdade da filha ou os cuidados médicos da mesma. No entanto, vamos tirar do filhinho do dono da empresa, aquele tipo que assedia e abusa das funcionárias as quais precisam e querem subir de cargo - levantei já deixando claro o encerramento da conversa. - Preciso ir ao banheiro.
- Você fala bonito pra sua perspectiva, mas somente para ela - pra que continuar? A voz dela soava fria e certa, mesmo discordando de mim. - E nós quatro? Onde nos encaixamos? Já viu as possibilidades? Já escolheu?
- Enquanto eu não escolher, tudo é possível - finalmente me livrei, nossa, queria tanto usar o vaso, maldito nervosismo.

Na estrada, Tony foi com seu carro até um acampamento e deixou ele lá, conversou com o dono e pegou outro carro sem placa, vulgo esse dirigido por Ciele até o ponto de encontro. Eu e Dhalia fomos deixados na estrada com as mochilas prontas e às armas cruzadas como espadas ninjas nas costas.
- Aprontamos agora, o carro vai chegar em trinta minutos - Dhalia além da mochila, carrega uma mala de viagem praticamente quadrada. - Me ajuda aqui - abrimos o cubo e vimos um tapete de metal enrolado, puxamos de uma vez, aquilo deveria pesar uns 50kg ou mais. - Beleza, você leva até lá e vem chutando, cuidado pra não se furar, essas coisas são afiadas.
Olhei para os lados caçando algum sinal de vida. Peguei o rolo de metal quase quebrando minha coluna e o arrastei até o outro lado da parede, Dhalia estava me encarando recostada na mureta.
- Como tem tanta certeza do próximo carro ser o carro forte? - apoiei o tapete cinza no chão que fez um baque de mil panelas juntas caindo e comecei a chutar em direção a mureta, até ele se abrir.
- Eles tem horários, dias e estradas específicas com pouco movimento - ela estava terminando de colocar os silenciadores nas armas. - Tony tem total segurança disso tudo, vamos ver, né?
Era muito suspeito um cara como Tony saber daquele caminho específico para o carro forte, naquele caminho, naquele dia... Sinceramente, muito suspeito. E é nesse momento que eu corto para a tortura na mão de uma família mafiosa dona do esquema de carros fortes.

Brincadeira, sem cortes.

- Okey, cama de pregos colocada, agora é só esperar as vítimas - estava suado, era uma tarde quente e sem sol. Deveria estar na praia ou dormindo dentro do refrigerador da geladeira.
- Toma - Dhalia me deu uma garrafa de água e a arma agora silenciada. - Nervoso?
- Um pouco, mas assim que colocar a máscara eu relaxo, talvez - estávamos encostados na mureta olhando as estradas que circundavam a montanha. - E você?
- Muito e um pouco, não queria morrer assim.
- E não vai - levantei o punho esperando uma retribuição de irmandade, ao invés disso ela me abraçou, com força, seus braços eram tão aconchegantes e felizes. - Isso foi inesperado.
- Se contar pra alguém, você tá morto.
- É justo.
- Eles estão chegando, hora do show - ela colocou sua máscara do Trump e eu repeti o mesmo gesto colocando minha máscara de Hannya branco e chifres dourados quebrados.
- Se escaparmos dessa, prometo te contar tudo sobre mim - ela completou com a voz meio abafada pela máscara.
- Feito - o carro estava a alguns metros da gente prestes a perder os pneus, destravamos às armas e esperamos o estouro do sinal. - Digam olá.

Aqueles Perigosos Cabelos RubrosOnde histórias criam vida. Descubra agora