Capítulo 1

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No Ano Passado

Era pra ser um simples começo de ano, 1 de janeiro, minha cama em um apartamento extremamente patético aproveitando que amanhã começa mais um lindo ano de servidão... Ou trabalho, chame como quiser.
- Hum, bom dia - uma voz feminina soou do lado esquerdo da cama se mexendo embaixo das cobertas.
- Bom dia - respondi tendo a mais plena certeza que era uma mulher. Como eu sei disso? Bem, apresento aqui três passos para reconhecer que você dormiu com uma mulher desconhecida:
1. Cabelo que não é seu no travesseiro.
2. Roupas femininas pelo quarto, não sou o tipo de cara que deixa calcinhas em cima da televisão.
3. Ser tímido demais pra ser gay.
- AAAAAAAAAAAA - gritei enquanto meu corpo encontrava o chão.
- Não grita, garoto - ela levantou, totalmente nua e eu quase chorando de desespero. - Vou pegar uma toalha emprestada, beleza?
- Espera, espera, espera.
- O quê? - meu deus, ela era tão bonita, a voz suave e forte passava pelos lábios rosa, os olhos... Ah, os olhos.
- O quê? - ela repetiu.
- A gente pode conversar... Depois do seu banho?
- Por mim tudo bem - ela me fitou de cima a baixo, - "ele" fica bonito contra a luz.
- Como é? - olhei pra baixo e só então percebi que estava pelado.
Nos encaramos, ganhei um sorriso meio sem graça por parte dela e então partiu pro banheiro.

Eu não sou mais virgem... Quer dizer, já pulei de paraquedas e assisti alguns sexologos online mas eu... Eu... EU NÃO LEMBRO DE NADA. POR QUÊ? Não entendo, não bebo desse jeito e nem conheço aquela pessoa. Qual o problema da minha vida? Não tenho um carro, se eu tivesse um carro a vida séria pior... Mas pelo menos eu teria um carro.
- Você tem cara de alguém que faz muito monólogos - ela estava do outro lado da cozinha me olhando do balcão, - bela cozinha americana, mármore preto pra combinar com o sofá.
- Espero que você não leia mentes.
- Você é medroso, pessoas medrosas são previsíveis - ela agora estava sentada na cadeira a minha frente, o azar de uma maldita mesa de quatro lugares. Ela precisa ficar tão perto?
- Eai? Cheio de perguntas? - um pequeno silêncio. - Posso? - ela apontou pra garrafa de café.
- Claro - empurrei pra ela. - E sim, tô cheio de perguntas.
- Hummmm, docinho.
Maldita, desgraçada, fala alguma coisa que tenha algum sentido, vai me enrolar mais?
- Fico feliz que tenha gostado do café, mas séria legal a gente conversar
- Sou meio indecisa, se quiser fazer as honras - ela girava o café como se estivesse se divertindo.
- Ok, primeiro - apoiei os cotovelos na mesa e cruzei os dedos na altura do nariz. - Nós transamos?
- "EH" - ela imitou o barulho de uma resposta errada, - pergunta errada, tenta de novo.
- Fui bem?
- Tá quase lá, tenta de novo.
- Vou assumir a criança??
- Você é um idiota.
- Pelo visto já me conhece muito bem.
- Vou te dar uma dica, todo mundo me chama por essa palavra, minha mãe que escolheu.
- AHHHHH entendi - as vezes é vergonhoso, mas dar bola fora é uma dádiva.
- Mais uma chance, vai.
- Qual o seu nome?

Como eu poderia ser tão imbecil? Obviamente eu já sabia o nome dela... Só que não meu "eu" sóbrio. Aposto que é um nome diferente e todo cheio de poder, tipo: "Samantha" ou algo do tipo.
- Dhalia - e ficou em silêncio me encarando enquanto passava a xícara de uma mão para outra.
- Uau, que nome inesperado.
- Sim, já me falaram isso, mas combina comigo - ela subiu na mesa e me encarou, me senti perdido nos olhos dela. - Se liga nos meus olhos, um é verde e o outro castanho. Bonito né? - falou e voltou pra cadeira.
Agora eu tinha quase a plena certeza que ela tinha ficado comigo por pena. Olha essa guria(não que eu tenha chances com outras, mas...). Ruiva, aquele problema no olho sei lá "héterofobia", um corpo cheio de curvas, parecia um violão... Ou uma guitarra? Violino? Algum instrumento com cordas? Enfim, rosto com curvas nas bochechas, lábios rosas da espessura de um dedo. Ah, o nariz, muito bonito, não sei reparar em nariz, mas tem um piercing vermelho escuro.
- Sim, muito bonito - respondi voltando a realidade - Sou Ezio, Ezio Angelle.
- É um nome forte para alguém tão cagão, Sr. Ezio - ela estendeu a mão em um gesto de cumprimento. - Sou Dhalia Rubrum, quer roubar uma loja comigo?
- É um prazer conhecer você, Dhalia... ESPERA, O QUÊ? - achei que meus olhos fossem sair pulando.
- Roubar uma loja, gato, aceita?
- Você tá zuando? Que tipo de proposta é essa? Eu quero saber se a gente-.
- Transou? Isso é o de menos, Ezio - ela soltou minha mão e agarrou meu rosto, ó meu deus vou perder o BV, - o que eu estou oferecendo é riqueza, poder e perigo.
- U guê? - eu era um belo peixe falante com aquele biquinho.
- Pensa comigo, dinheiro.
- Pud zer.
- O quê? - ela me soltou e sentou de volta na cadeira.
- Por mim tudo bem - falei massageando a bochecha, acho que minha obturação caiu. - Mas tem certeza? Lojas atualmente são inrroubaveis.
- Você aceitou?
- Claro, eu trabalho na merda de um escritório anotando horários de reuniões com cara de imbecil, ganhando um salário bosta, sendo ultrapassado por qualquer um que der de quatro pro chefe. Por mim tudo bem.
- Você é bem revoltado, gostei de você.
- Obrigado.
- Podemos começar mês que vem se tiver tudo bem pra você - Dhalia agora estava de pé analisando algum discurso motivacional pra falar.
- Não tem muita diferença, só quero testar alguma diversão... Mesmo que role tiros - falei descontraído.
- Eu vi uma caixa de Amitriptilina no seu armário de remédios - Dhalia começou a soar na defensiva. - Você tá bem pra algo assim?
- Ter depressão não afeta muito os problemas já naturais da vida - passei a mão no pescoço sentindo o resultado semana passada.
- Não seria o contrário?
- Acho que sim.
- Que bom que você aceitou, assim não preciso usar os planos B e C.
- E quais seriam? - estreitei os olhos em dúvida do que aquela louca poderia fazer.
- No plano B eu iria te chantagear de um falso estupro e no plano C eu iria mentir gravidez - ela fez outro silêncio perturbador. - É brincadeira, só iria embora mesmo.
- Eu nem sei se a gente realmente fez sexo.
Dhalia andou até perto de mim deixando seu maldito nariz a 3cm de distância do meu, ai que droga acho que vou vomitar.
- Se tudo der certo no nosso primeiro trabalho de fevereiro, eu posso te contar e talvez até quem sabe repetir - ela ditou essas palavras calmamente, me deu um beijo na testa e saiu em direção a porta.
- Espera, por quê eu?
Ela parou segurando a maçaneta e se virou como em um comercial de shampoo.
- Você é gentil, gentileza é um charme raro hoje em dia, bye bye.
Agora eu estava sozinho sentado olhando para a porta.
- Merda, vou vomitar.
Os próximos 15 minutos são resumidos em "Blueerr", tosses e nariz escorrendo.

Aqueles Perigosos Cabelos RubrosOnde histórias criam vida. Descubra agora