Capítulo 19

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Parceira de crime nata

Era domingo, meu aniversário. Tony e Ciele sequestraram a mim e a Dhalia na saída de casa, fomos parar direto no seu apartamento cheiroso, a luz iluminava bem a janela da sala a qual ficava entre a mesa e o sofá.
Por falar na mesa, tinha um belo bolo de limão, com cobertura e recheio de limão(meu favorito). Adoro coisas cítricas, era uma coisinha casual e calma, Dhalia sorria, tentando a todo custo excluir aquilo. Era traumatizante para qualquer um matar idosos tão gentis, mas era a gente ou... Eles? Quem sabe. Ela sempre promete me contar sua história após um trabalho, mas fica dias sem falar nada - detalhe, dormindo na mesma que eu - eu compreendo, até demais.
Cabeça, braço e perna enfaixados. Os membros tiveram um total de oito pontos juntos e a minha cabeça por milagre só teve dois. Um pouco mais e eu não teria me levantado; a ruiva não me contou com detalhes como a gente escapou do crime, apenas: "Shayara livrou a gente, então nem se preocupa". Era preocupante, aquela mulher era doente, qualquer frase com duplo sentido ressoava na cabeça.
- Menino Ezio - Tony adentrou a sala com um sorriso gigante e um pacote retangular e baixo nas mãos. Papel cinza fosco e um laço. - Você vai adorar, é uma...
- No hables, pendejo - Ciele veio logo atrás com uma sacola de loja chique(a qual me nego pronunciar o nome) e uma caixa quadrada menor que a de Tony, com certeza era uma máquina de barbear ou uma carteira... Ou os dois.
- Ora ora - olhei animado para o bolo e depois fingi ligar para os presentes. - Não precisar, galera, vocês foram tão gentis esse tempo... - parei um tempo pra analisar a falsidade... - obrigado.
- Droga - resmungou a cabelo de fogo.
- O quê?
- Esqueci o meu... Bem alí - e saiu correndo pela porta atrás do suposto presente.
- O que vai ser primeiro? Bolo ou presentes? - Ciele parecia assustadora com uma faca de cortar pão na mão.
- Escolhe presentes - sussurrou Tony de ladinho.
- TONY!!! - ela parecia uma mãe nervosa.
- Por quê? - questionei.
- Ele acha que meu bolo ficou muito azedo e ele deveria ser um castigo no nosso jogo de tabuleiro - ela estava muito assustadora com aquela faca.
- Tudo bem, eu já ia escolher presentes, gosto de comer até ficar cansado.
- Ae sim!!! - ele bagunçou meu cabelo e os pontos arderam. - Me desculpa.
- Relaxa, tá sempre dolorido.
- Idiota - Ciele sussurrou.
Rimos um pouquinho daquela situação familiar.
- Beleza, primeiro o meu, alguém contra? - Tony olhou ao redor assim que colocou o presente na mesa ao lado do bolo e o empurrou para mim do outro lado. - Pelo visto não, abre, vai.
Desembrulhei o papel cinza e observei a maleta que era de um preto profundo, aquilo era caro.
- Uau, Tony... É incrível.
- Você nem abriu, achou a caixa incrível? - ele olhou para mim com certa dúvida.
- É uma bela caixa...
- Abra.
Abri a maleta e lá dentro tinha uma arma cinza do apoio preto e junto dela cinco balas que mais pareciam dedos de metal. Bem, a arma era um canhão de uma mão.
- Magnum .500, menino Ezio. Essa belezinha tem o tiro mais fodidamente poderoso feito até hoje - Tony ganhou a felicidade na voz de sempre quando falava de armas. - Cinzo cartuchos porquê não vai precisar mais do que isso, é mais um presente pra se lembrar de mim.
- Eu adorei - Por que?. - É linda, parece um monstro de destruição.
- E ela é - ele concordou firmemente. - Vai destruir tudo com um único tiro, arranca um membro do corpo com um único tiro.
Ele repetiu como se fosse algo normal.
- Uau, vou deixar bem guardada... Literalmente um canhão de mão.
- Sabia que você ia adorar, sempre com bom gosto para as coisas - ele parecia um paizão.
- Okey, chega dessa coisa de fresco. Hora do meu presente - Ciele apoiou sua caixinha na mesa, agora eu estava em dúvida entre arma, máquina de barbear ou sei lá o quê, a caixa era pesada. - Abre logo.
Mais um embrulho fácil, ele saiu voando pela casa.
- Depois você vai limpar...
- Claro - encarei o presente de Ciele, era... Um livro. - Ciele, eu, eu não sei.
- É meu livro favorito, e sei que você vai adorar. Fala sobre um canto de parede e tudo que aconteceu alí.
- Não sabia que gostava de quadrinhos - passei as folhas e vi os desenhos, lindos.
- Eu adoro tudo de bom, é isto - ela cruzou os braços orgulhosa.
- São presentes incríveis, não sei como agradecer todas essas coisas... Valeu mesmo, vou guardar com carinho... - minha cabeça deu uma pontada por conta da cicatriz e sentei rapidamente na cadeira.
- Menino Ezio, precisa de algo?
- Eu vou pegar uma água.
- Relaxa, só foi uma pontada, não precisa de tanto. Já fizeram demais com os presentes e o bolo e tudo isso - apontei para os balões no teto.
- Relaxa, niñito. Fizemos isso porquê você merece e Dhalia mataria a gente se esquecessemos - ambos concordaram com medo.
Senti o peso do nome dela, encarei o chão para analisar tudo aquilo. Era ela, minha vida era um tédio grandioso antes dela. Por que eu? Ela escolheu a pessoa mais improvável do mundo.
- Ela gosta de você, tortuga estúpida - Ciele me tirou dos pensamentos. - Em nenhum momento ela te garantiu ser uma profissional ou coisa do tipo, ela só queria alguém que desse segurança... Mesmo você sendo um bundão na época, cinco meses e vocês mudaram tanto, né amor?
- Verdade, o olhar dela ganhou um tom mais sério, não passa mais aquele ar de ladra barata...
Tony torceu o rosto de dor no momento em que vi a perna de Ciele levantar e baixar com raiva.
- Quer dizer, ela fica feliz e segura perto de você.
- Mesmo tendo apontado uma arma pra ela.
- Ter fugido depois do primeiro sexo.
- Feito duas pessoas cometeram suicídio.
- Matado um senhor de idade.
- Tá bem, tá bem, tá bém, eu já entendi - pensei um momento. - Ela contou tudo pra vocês?.
- Pra Ciele, daí a Ciele fofocou pra mim.
- Um casal só é bom se tem fofoca.
Eles fizeram um toque de mãos.
- VOLTEI!!! - o furacão vermelho passou pela porta em alta velocidade.
- Meu deus - um quadrado gigante tapava a vista do que deveria ser o dorso de Dhalia, totalmente rosa e cheio de arco-íris.
- VOCÊ VAI ADORAR, EZIO!!! - ela colocou a caixa no sofá e limpou o suor imaginário da testa. - Ufa, elevador cansa. Termina aí e vem logo, tô animada e quase pra contar.
- Beleza - abri a sacola com o outro presente de Ciele e tirei um suéter branco com o Frank Ocean na frente. - Okey, agora eu tô chocado.
- Eu disse, só gosto do melhor.
- UAU.
- Ei - uma humana de cabelos vermelhos falou atrás de mim. - Minha vez - e apontou pra caixa gigante.
Fui calmamente até o sofá, troquei a camisa pela minha nova peça de roupa favorita, sentei e comecei a desembrulhar o presente, Dhalia parecia está ligada em uma tomada, totalmente eufórica e feliz.
- Abre logo - ela sacudia as mãos, as vezes roía as unhas e olhava nervosa pra caixa. Eu por outro lado desembrulhava devagar.
- Ezio...
- Oi?
- Abre, rápido, agora - tinha uma pausa ameaçadora entre as palavras.
- Desculpa - ri e terminei de abrir.
- Uau - ouvi Ciele de fundo.
- Uau - completei.
- O QUE ACHOU??!! - ela ia explodir a qualquer momento.
- EU ADOREI!!!! - era um fodendo telescópio, mano, a guria simplesmente ultrapassou tudo e todos.
- Que bom!!! Eu pensei muito e foi a única coisa a qual combinava com você, eu amei. Vamos usar hoje mesmo e sem "mas".
- Com certeza, iremos.
- Urru!!! - ela saltitou até perto da caixa e me explicou os benefícios daquela aquisição.
- Ei vocês - Tony interrompeu a ruiva Wikipédia. - Não vou comer essa coisa de limão sozinho, me ajudem.
Ciele deu um tapa na nuca de Tony e nos chamou para a mesa.
- Vocês vão amar meu bolo cítrico - serviu um pedaço para mim e para Dhalia.
- Enquanto vocês aproveitam - puxou o braço de Tony.
- O quê?.
- Essse bonitão vai me ajudar a caçar a câmera.
- Amor...
- "Amor" nada, você perdeu, Tony, vamos - e puxou ele para o quarto.
- Aquele último casal que veio aqui foi quem pediu por fotos - e a voz do barbudo sumiu.
- Eai?.
- O quê? - boca cheia de bolo, eu não sabia de nada.
- Tudo isso, os presentes, a festa, o bolo. Gostou? - os olhos dela brilhavam como os de uma criança.
- Eu adorei, tá sendo o dia mais normal da minha vida. Parece uma família de série.
- Não tenho história, Ezio - ela cortou tudo, sua voz mudou para um tom de melancolia e tristeza.
- Como assim? Aquele papo? Esquece...
- Não - ela interrompeu. - Minha vida não existe, vivi em um orfanato até os 18 anos, no momento em que sai arrumei um emprego medíocre e fui fazer a vida batendo carteiras e dando boa noite cinderela pra sacar dinheiro de velhos burros.
- Eu...
- Cala a boca e escuta. Não contei isso porquê você já tem problemas demais, era meu último pensamento te deixar deprimido, eu gosto de você - diferente das outras vezes, ela sentiu uma vergonha fofa da última frase. - Pareço patética agora, né?
- Nenhum pouco, não posso ajeitar teu passado, ruiva. Eu apenas aceito o que ele fez para tornar você a "eu" atual, você tem uma história - me inclinei pra sussurrar no ouvido dela - eu odeio enrolação, fico feliz pelo resumo.
Seu semblante foi moldando do triste para o feliz aos poucos.
- Você não é patética - passei cobertura no nariz dela e lambi - na real, é bem doce.
Ela me puxou pela gola da camisa para me presentear com o beijo mais caloroso e feliz que senti na minha vida. Não queria fugir, nem chorar e nem praguejar, aquele momento eu só queria aproveitar.
- Ei, estrelinhas!!! - Tony adentrou a sala e cortou nosso barato. - Nada disso aqui sem meu consentimento.
- Mas vocês fazem Swing... - tentei argumentar.
- E isso me tira o mérito de ser careta? Não mesmo.
- É justo - falei em uníssono com Dhalia.
- Tá aqui galera - Ciele se juntou a gente - estava dando uma olhada no armazenamento e coisa do tipo. Agora podemos tirar ótimas fotos.
- Ciele, temos celulares e...
A mulher com a câmera desprezou Dhalia através do olhar.
- Vão ficar incríveis - concordou a ruiva medrosa.
- Então levantem a bunda, essa hora a iluminação da janela fica perfeito na nossa parede. Anda. - ela puxou Tony e se posicionou de costas para a janela, pareciam iluminados. - Agora.
Dhalia levantou junto comigo.
- Ei - puxou a manga da minha camisa.
- O quê?
Ela sussurrou algo sobre: "mais tarde te dou o outro presente, é um..." e seu lábios formaram um sorriso depois de falar o presente.
- Posicionados e bem juntinhos - Ciele pediu.
- Eles crescem tão rápidos - Tony limpou uma lágrima falsa no olho esquerdo.
- Tirem logo.
Dhalia fez uma pose de super heroína com os punhos em cada lado da cintura e eu só fiz um sinal de "V" com os dedos do lado da minha bochecha direita.
- Digam "x".
- X.
Um flash iluminou meus olhos, a janela atrás de Tony despedaçou em milhares de cacos, ao meu lado um vulto laranja e vermelho metálico líquido desmoronava. Assim que o êxtase passou, pude ser Ciele e Tony agachados ao lado janela e armados, o ombro de Tony sangrava, mas ele já estava providenciando os primeiros socorros.
- Vai pro lado, porra!!! - Ciele gritou, mas na minha cabeça estava baixo, como um pensamento. Olhei para o chão e vi Dhalia em uma possa vermelha e com cheiro de prego, a peguei pelos braços e caminhei rapidamente para trás do sofá, longe da janela.
- Não, não, não, não, não, não, não, por favor.
Ela gaguejou com dificuldade, estava se afogando no sangue, apoiei sua cabeça nas minhas pernas a mantendo alta, sangue saia pelo canto da boca.
- Por favor, por favor, ruiva. Ei. Não me deixa. EI!!!.
- Você... Grita... Tanto - cada palavra machucava ela.
- Ei, ei. Hoje não, é meu aniversário. Faz cinco meses que a gente se conhece, igual aquela maldita comédia romântica que você me obrigou a assistir mil vezes... Por favor. Eu não consigo - tentava tapar o buraco com a mão e me sujava mais ainda.
- Ei... - ela encontrou meus dedos e levou eles ao seu rosto.
- Eu vou te ajudar...
- Xi... - passou o polegar nos meus lábios - coça minha orelha, tá? Está me deixando doida.
E não houve mais nada, apenas o frio do seu corpo.
Encarei minhas mãos, o corpo no chão, meus olhos arderam e apenas senti meu maxilar abrir até o limite da minha boca, deixando um grito ensurdecedor sair. Meus ouvidos zumbiam, minha cabeça iria explodir a qualquer momento, corpo imóvel e sem vida.
Ao fundo apenas um silêncio e logo depois tudo se apagou.

Aqueles Perigosos Cabelos RubrosOnde histórias criam vida. Descubra agora