Parceira de crime nata
Era domingo, meu aniversário. Tony e Ciele sequestraram a mim e a Dhalia na saída de casa, fomos parar direto no seu apartamento cheiroso, a luz iluminava bem a janela da sala a qual ficava entre a mesa e o sofá.
Por falar na mesa, tinha um belo bolo de limão, com cobertura e recheio de limão(meu favorito). Adoro coisas cítricas, era uma coisinha casual e calma, Dhalia sorria, tentando a todo custo excluir aquilo. Era traumatizante para qualquer um matar idosos tão gentis, mas era a gente ou... Eles? Quem sabe. Ela sempre promete me contar sua história após um trabalho, mas fica dias sem falar nada - detalhe, dormindo na mesma que eu - eu compreendo, até demais.
Cabeça, braço e perna enfaixados. Os membros tiveram um total de oito pontos juntos e a minha cabeça por milagre só teve dois. Um pouco mais e eu não teria me levantado; a ruiva não me contou com detalhes como a gente escapou do crime, apenas: "Shayara livrou a gente, então nem se preocupa". Era preocupante, aquela mulher era doente, qualquer frase com duplo sentido ressoava na cabeça.
- Menino Ezio - Tony adentrou a sala com um sorriso gigante e um pacote retangular e baixo nas mãos. Papel cinza fosco e um laço. - Você vai adorar, é uma...
- No hables, pendejo - Ciele veio logo atrás com uma sacola de loja chique(a qual me nego pronunciar o nome) e uma caixa quadrada menor que a de Tony, com certeza era uma máquina de barbear ou uma carteira... Ou os dois.
- Ora ora - olhei animado para o bolo e depois fingi ligar para os presentes. - Não precisar, galera, vocês foram tão gentis esse tempo... - parei um tempo pra analisar a falsidade... - obrigado.
- Droga - resmungou a cabelo de fogo.
- O quê?
- Esqueci o meu... Bem alí - e saiu correndo pela porta atrás do suposto presente.
- O que vai ser primeiro? Bolo ou presentes? - Ciele parecia assustadora com uma faca de cortar pão na mão.
- Escolhe presentes - sussurrou Tony de ladinho.
- TONY!!! - ela parecia uma mãe nervosa.
- Por quê? - questionei.
- Ele acha que meu bolo ficou muito azedo e ele deveria ser um castigo no nosso jogo de tabuleiro - ela estava muito assustadora com aquela faca.
- Tudo bem, eu já ia escolher presentes, gosto de comer até ficar cansado.
- Ae sim!!! - ele bagunçou meu cabelo e os pontos arderam. - Me desculpa.
- Relaxa, tá sempre dolorido.
- Idiota - Ciele sussurrou.
Rimos um pouquinho daquela situação familiar.
- Beleza, primeiro o meu, alguém contra? - Tony olhou ao redor assim que colocou o presente na mesa ao lado do bolo e o empurrou para mim do outro lado. - Pelo visto não, abre, vai.
Desembrulhei o papel cinza e observei a maleta que era de um preto profundo, aquilo era caro.
- Uau, Tony... É incrível.
- Você nem abriu, achou a caixa incrível? - ele olhou para mim com certa dúvida.
- É uma bela caixa...
- Abra.
Abri a maleta e lá dentro tinha uma arma cinza do apoio preto e junto dela cinco balas que mais pareciam dedos de metal. Bem, a arma era um canhão de uma mão.
- Magnum .500, menino Ezio. Essa belezinha tem o tiro mais fodidamente poderoso feito até hoje - Tony ganhou a felicidade na voz de sempre quando falava de armas. - Cinzo cartuchos porquê não vai precisar mais do que isso, é mais um presente pra se lembrar de mim.
- Eu adorei - Por que?. - É linda, parece um monstro de destruição.
- E ela é - ele concordou firmemente. - Vai destruir tudo com um único tiro, arranca um membro do corpo com um único tiro.
Ele repetiu como se fosse algo normal.
- Uau, vou deixar bem guardada... Literalmente um canhão de mão.
- Sabia que você ia adorar, sempre com bom gosto para as coisas - ele parecia um paizão.
- Okey, chega dessa coisa de fresco. Hora do meu presente - Ciele apoiou sua caixinha na mesa, agora eu estava em dúvida entre arma, máquina de barbear ou sei lá o quê, a caixa era pesada. - Abre logo.
Mais um embrulho fácil, ele saiu voando pela casa.
- Depois você vai limpar...
- Claro - encarei o presente de Ciele, era... Um livro. - Ciele, eu, eu não sei.
- É meu livro favorito, e sei que você vai adorar. Fala sobre um canto de parede e tudo que aconteceu alí.
- Não sabia que gostava de quadrinhos - passei as folhas e vi os desenhos, lindos.
- Eu adoro tudo de bom, é isto - ela cruzou os braços orgulhosa.
- São presentes incríveis, não sei como agradecer todas essas coisas... Valeu mesmo, vou guardar com carinho... - minha cabeça deu uma pontada por conta da cicatriz e sentei rapidamente na cadeira.
- Menino Ezio, precisa de algo?
- Eu vou pegar uma água.
- Relaxa, só foi uma pontada, não precisa de tanto. Já fizeram demais com os presentes e o bolo e tudo isso - apontei para os balões no teto.
- Relaxa, niñito. Fizemos isso porquê você merece e Dhalia mataria a gente se esquecessemos - ambos concordaram com medo.
Senti o peso do nome dela, encarei o chão para analisar tudo aquilo. Era ela, minha vida era um tédio grandioso antes dela. Por que eu? Ela escolheu a pessoa mais improvável do mundo.
- Ela gosta de você, tortuga estúpida - Ciele me tirou dos pensamentos. - Em nenhum momento ela te garantiu ser uma profissional ou coisa do tipo, ela só queria alguém que desse segurança... Mesmo você sendo um bundão na época, cinco meses e vocês mudaram tanto, né amor?
- Verdade, o olhar dela ganhou um tom mais sério, não passa mais aquele ar de ladra barata...
Tony torceu o rosto de dor no momento em que vi a perna de Ciele levantar e baixar com raiva.
- Quer dizer, ela fica feliz e segura perto de você.
- Mesmo tendo apontado uma arma pra ela.
- Ter fugido depois do primeiro sexo.
- Feito duas pessoas cometeram suicídio.
- Matado um senhor de idade.
- Tá bem, tá bem, tá bém, eu já entendi - pensei um momento. - Ela contou tudo pra vocês?.
- Pra Ciele, daí a Ciele fofocou pra mim.
- Um casal só é bom se tem fofoca.
Eles fizeram um toque de mãos.
- VOLTEI!!! - o furacão vermelho passou pela porta em alta velocidade.
- Meu deus - um quadrado gigante tapava a vista do que deveria ser o dorso de Dhalia, totalmente rosa e cheio de arco-íris.
- VOCÊ VAI ADORAR, EZIO!!! - ela colocou a caixa no sofá e limpou o suor imaginário da testa. - Ufa, elevador cansa. Termina aí e vem logo, tô animada e quase pra contar.
- Beleza - abri a sacola com o outro presente de Ciele e tirei um suéter branco com o Frank Ocean na frente. - Okey, agora eu tô chocado.
- Eu disse, só gosto do melhor.
- UAU.
- Ei - uma humana de cabelos vermelhos falou atrás de mim. - Minha vez - e apontou pra caixa gigante.
Fui calmamente até o sofá, troquei a camisa pela minha nova peça de roupa favorita, sentei e comecei a desembrulhar o presente, Dhalia parecia está ligada em uma tomada, totalmente eufórica e feliz.
- Abre logo - ela sacudia as mãos, as vezes roía as unhas e olhava nervosa pra caixa. Eu por outro lado desembrulhava devagar.
- Ezio...
- Oi?
- Abre, rápido, agora - tinha uma pausa ameaçadora entre as palavras.
- Desculpa - ri e terminei de abrir.
- Uau - ouvi Ciele de fundo.
- Uau - completei.
- O QUE ACHOU??!! - ela ia explodir a qualquer momento.
- EU ADOREI!!!! - era um fodendo telescópio, mano, a guria simplesmente ultrapassou tudo e todos.
- Que bom!!! Eu pensei muito e foi a única coisa a qual combinava com você, eu amei. Vamos usar hoje mesmo e sem "mas".
- Com certeza, iremos.
- Urru!!! - ela saltitou até perto da caixa e me explicou os benefícios daquela aquisição.
- Ei vocês - Tony interrompeu a ruiva Wikipédia. - Não vou comer essa coisa de limão sozinho, me ajudem.
Ciele deu um tapa na nuca de Tony e nos chamou para a mesa.
- Vocês vão amar meu bolo cítrico - serviu um pedaço para mim e para Dhalia.
- Enquanto vocês aproveitam - puxou o braço de Tony.
- O quê?.
- Essse bonitão vai me ajudar a caçar a câmera.
- Amor...
- "Amor" nada, você perdeu, Tony, vamos - e puxou ele para o quarto.
- Aquele último casal que veio aqui foi quem pediu por fotos - e a voz do barbudo sumiu.
- Eai?.
- O quê? - boca cheia de bolo, eu não sabia de nada.
- Tudo isso, os presentes, a festa, o bolo. Gostou? - os olhos dela brilhavam como os de uma criança.
- Eu adorei, tá sendo o dia mais normal da minha vida. Parece uma família de série.
- Não tenho história, Ezio - ela cortou tudo, sua voz mudou para um tom de melancolia e tristeza.
- Como assim? Aquele papo? Esquece...
- Não - ela interrompeu. - Minha vida não existe, vivi em um orfanato até os 18 anos, no momento em que sai arrumei um emprego medíocre e fui fazer a vida batendo carteiras e dando boa noite cinderela pra sacar dinheiro de velhos burros.
- Eu...
- Cala a boca e escuta. Não contei isso porquê você já tem problemas demais, era meu último pensamento te deixar deprimido, eu gosto de você - diferente das outras vezes, ela sentiu uma vergonha fofa da última frase. - Pareço patética agora, né?
- Nenhum pouco, não posso ajeitar teu passado, ruiva. Eu apenas aceito o que ele fez para tornar você a "eu" atual, você tem uma história - me inclinei pra sussurrar no ouvido dela - eu odeio enrolação, fico feliz pelo resumo.
Seu semblante foi moldando do triste para o feliz aos poucos.
- Você não é patética - passei cobertura no nariz dela e lambi - na real, é bem doce.
Ela me puxou pela gola da camisa para me presentear com o beijo mais caloroso e feliz que senti na minha vida. Não queria fugir, nem chorar e nem praguejar, aquele momento eu só queria aproveitar.
- Ei, estrelinhas!!! - Tony adentrou a sala e cortou nosso barato. - Nada disso aqui sem meu consentimento.
- Mas vocês fazem Swing... - tentei argumentar.
- E isso me tira o mérito de ser careta? Não mesmo.
- É justo - falei em uníssono com Dhalia.
- Tá aqui galera - Ciele se juntou a gente - estava dando uma olhada no armazenamento e coisa do tipo. Agora podemos tirar ótimas fotos.
- Ciele, temos celulares e...
A mulher com a câmera desprezou Dhalia através do olhar.
- Vão ficar incríveis - concordou a ruiva medrosa.
- Então levantem a bunda, essa hora a iluminação da janela fica perfeito na nossa parede. Anda. - ela puxou Tony e se posicionou de costas para a janela, pareciam iluminados. - Agora.
Dhalia levantou junto comigo.
- Ei - puxou a manga da minha camisa.
- O quê?
Ela sussurrou algo sobre: "mais tarde te dou o outro presente, é um..." e seu lábios formaram um sorriso depois de falar o presente.
- Posicionados e bem juntinhos - Ciele pediu.
- Eles crescem tão rápidos - Tony limpou uma lágrima falsa no olho esquerdo.
- Tirem logo.
Dhalia fez uma pose de super heroína com os punhos em cada lado da cintura e eu só fiz um sinal de "V" com os dedos do lado da minha bochecha direita.
- Digam "x".
- X.
Um flash iluminou meus olhos, a janela atrás de Tony despedaçou em milhares de cacos, ao meu lado um vulto laranja e vermelho metálico líquido desmoronava. Assim que o êxtase passou, pude ser Ciele e Tony agachados ao lado janela e armados, o ombro de Tony sangrava, mas ele já estava providenciando os primeiros socorros.
- Vai pro lado, porra!!! - Ciele gritou, mas na minha cabeça estava baixo, como um pensamento. Olhei para o chão e vi Dhalia em uma possa vermelha e com cheiro de prego, a peguei pelos braços e caminhei rapidamente para trás do sofá, longe da janela.
- Não, não, não, não, não, não, não, por favor.
Ela gaguejou com dificuldade, estava se afogando no sangue, apoiei sua cabeça nas minhas pernas a mantendo alta, sangue saia pelo canto da boca.
- Por favor, por favor, ruiva. Ei. Não me deixa. EI!!!.
- Você... Grita... Tanto - cada palavra machucava ela.
- Ei, ei. Hoje não, é meu aniversário. Faz cinco meses que a gente se conhece, igual aquela maldita comédia romântica que você me obrigou a assistir mil vezes... Por favor. Eu não consigo - tentava tapar o buraco com a mão e me sujava mais ainda.
- Ei... - ela encontrou meus dedos e levou eles ao seu rosto.
- Eu vou te ajudar...
- Xi... - passou o polegar nos meus lábios - coça minha orelha, tá? Está me deixando doida.
E não houve mais nada, apenas o frio do seu corpo.
Encarei minhas mãos, o corpo no chão, meus olhos arderam e apenas senti meu maxilar abrir até o limite da minha boca, deixando um grito ensurdecedor sair. Meus ouvidos zumbiam, minha cabeça iria explodir a qualquer momento, corpo imóvel e sem vida.
Ao fundo apenas um silêncio e logo depois tudo se apagou.
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Aqueles Perigosos Cabelos Rubros
RomansaObs: Não conto essa história porque eu quero. Mas séria um erro não falar dela Pois bem, uma noite de ano novo te proporciona todas as maravilhas do mundo. Bem, não trouxe nada disso para mim. Eai, sou Ezio, feliz ano novo. Minha maior meta? D...