Capítulo 11

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Roubar de madru', roupa de madame

- Menino Ezio, não é assim - Tony me ajudava a entender a arma gigante na minha frente. - Você precisa puxar aqui e começar a atirar.
- Tony, é a primeira vez que vejo essa arma. Não é nada fácil.
- Aiai, sabes qual arma é está?
- Uma M16? - arrisquei, pesquisei apenas a minha arma a qual não via fazia dias, escondida em baixo do sofá ou sei lá.
- Não, hermano. Não é uma simples M16 - Tony gesticulava muito enquanto falava, fazia sinais de objetos, as vezes letras e complementos para onomatopeias. - Esta é considerado por mim a melhor arma cívil estadunidense, uma Hk MR762A1 com munição 7.62 mm OTAN, detalhe - seu dedo indicador parou no ar pegando o silêncio, - não confuda com o cartucho russo 7,62×54mmR ou mesmo as munições de AK - ele pegou a arma e a acariciou como um filhote. - Está belezinha foi feita pra até um magrelo mini definido como você poder matar um dinossauro... Ou o presidente - essa última parte brilhou em seus olhos.
- É, se você tá dizendo, foi barato comprar quatro armas iguais? Tipo, leve quatro, ganhe uma granada e uma bandeira dos confederados.
- Não comprei quatro armas iguais, essa é a sua, sua parceira e sua dupla. A chica pelirroja e mi amor também tem ferros diferentes.
- Legal... E o que eu faço com isso? - olhei a arma inteira e analisei de que forma aquilo iria quebrar meu ombro.
- Mata os motoristas.
- E você?
- Mato o segurança.
- Isso tudo pendurado em uma corda com uma arma de 38 quilos?
- Ora, ora. Andou pesquisando?
- Fiz meus estudos.
- Legal - ele jogou a arma pra mim, segurei com uma certa dificuldade, mas era como um saco grande de arroz. - Você, garoto Ezio, vai acabar com os motoristas junto com a fuego e eu... Você já sabe, abrimos, roubamos e vazamos.
- Isso parece suspeitamente fácil demais - estreitei os olhos tentando arrancar mais alguma informação através do olhar.
- Garoto, é amanhã, relaxa.
- Não dá pra relaxar, Antônio Banderas. Eu tô surtando faz três meses que inventei de me aventurar com uma ruiva batedora de carteiras - apoiei aquele pedaço feio de ferro na mesa de centro e fitei Tony, o armário latino. - Não durmo bem, choro dia sim, dia não, vômito a maioria das coisas que como e possivelmente destruí uma família pelo simples motivo de não saber travar uma bosta de arma.
- A ruiva disse que o moço tava com uma escope...
- Tô nem aí, porra - não sabia se podia exaltar minha voz, mas fiz isso e bati na mesa. - Tem no mínimo duas semanas em que tentei engolir uma bala de tanta pressão acumulada aqui - cutuquei minha têmpora direita com ódio, - não sou covarde o suficiente nem pra me matar, minha dor neuropática tá tão forte que antes eu sentia formigas sob minha pele, agora são garfadas, estão esfaqueando meu rosto... E eu não posso fazer nada.
- Ez...
- Eu tentei ligar pra ela - minha voz vacilou, a adrenalina foi substituída por lágrimas e soluços, - queria tanto perdoar ela, queria tanto que ela... Tanto.
- Entendo você, filho. Tentei tanto apenas tirar o dinheiro, mas as pessoas brigam por isso, vão sempre morrer por isso... Também tenho sangue nas mãos e isso me dói vinte e quatro horas por dia, cada pessoa.
Tá de sacanagem, maluco na minha frente era um ladrão procurado e estava romantizando as pessoas as quais ele matou. É uma piada de mau gosto.
- É, valeu pela gentileza - limpei a umidade dos meus olhos e voltei o foco para aquela arma. - Vou pra minha casa e amanhã cedo broto aqui.
- Ir embora? - Ciele saiu do corredor com uma montanha de lençóis nas mãos com Dhalia logo atrás segurando três travesseiros igual uma bandeja. - Ninguém vai sair hoje, vamos dormir aqui para irmos direto amanhã - estendeu os edredons no chão entre a TV e o sofá em formato de "L", colocou dois lençóis em cima e a Dhalia jogou os travesseiros de qualquer jeito.
- Hummm.
- Algum problema em casa? Precisa voltar hoje? - Tony me olhou como um gatinho carente.
- Esqueci de alimentar meu peixe.
- Você não tem um peixe - a voz da ruiva era indiferente... Ou fingia não ligar.
- Tenho, comprei ele ontem. O nome é "Randolph Carter" - quis responder com o mesmo desinteresse, mas eu realmente não ligava.
A ruiva virou o rosto e foi deitar sem responder.
- Hahahahahahahaha - Tony sorriu com vontade daquela situação. - Você é incrível, garoto Ezio.

- Obrigado, vou banhar e dormir - fui e voltei pelo corredor. - Hum? Podem me emprestar uma toalha e falar onde fica o banheiro?
- Toalhas no armário embaixo da pia, banheiro é a segunda porta na esquerda e o sabonete é líquido, relaxa - Ciele falou com uma naturalidade assustadora, não era a primeira vez que falava aquilo, com certeza.
- Valeu - sai novamente rumo ao chuveiro.

Quando voltei a sala estava escura, Dhalia deitada e o casal tinha sumido, mas um ronco ensurdecedor vinha do quarto... Um trator dormia com eles.
Dhalia dormia silenciosamente apoiada na perna do sofá, possivelmente era a pessoa que adorava o lado da parede, queria conversar com ela depois daquele dia, mas até olhar me causava incômodo.
Peguei meu lençol e ajeitei a cabeça pra capotar, quando senti um travesseiro nos meus pés. O outro travesseiro.
- Pode me devolver? - Dhalia falou cansada.
- Você dorme do jeito certo?
Ela levantou o braço - travesseiro, Ezio.
- Claro, aqui - entreguei a nuvem fofinha e me virei pra contar meus carneirinhos.
- Você é um covarde - nunca havia escutado algo com tanta clareza quanto essa frase, e ela falou com gosto.
- É a única forma conhecida por mim de resolver os problemas, sua mesquinha.
- Mesquinha? - ela levantou silenciosamente e respondi com a mesma atitude, ficamos no encarando sentados no chão. - Você fugiu logo depois da... Daquilo, acha que sou tão fácil? Que dou pro primeiro magrelo esquisito com cara de sonâmbulo o qual eu vejo? Você é um babaca, só pensa em si mesmo e vive em um mundinho vitimista medíocre.
- Uau, essa doeu - a verdade é dolorosamente... Verdadeira.
- Não vou me desculpar, foi uma atitude hipócrita e egocêntrica - ela cutucou meu peito, parecia uma bala.
- Acha que eu não sei? Eu penso...
- Não pensa, não
- Cala a boca e escuta pelo menos uma vez, demonia.
- Última vez em que escutei você, terminou de um jeito bom e logo depois terminou de uma forma patética. Quer saber? Você é patético - mais cutucadas no meu peito. - Única coisa boa na sua vida são suas pernas pra correr como um mimado medroso, deveria aproveitar agora e voltar pra tua mãe, talvez ela te crie certo dessa vez...
Não pensei muito, apenas senti minha mão esquentar na hora de seu encontro com a bochecha de Dhalia. O tapa ressoou pela sala igual uma palma.
- Opa.
Quando Dhalia virou, seus olhos exalam um ódio mortal.
- Seu fudido - ela voou no meu pescoço e começou a me socar e dar tapas esquisitos. - Quem você pensa que é? Ninguém toca em mim.
- Espera, espera - segurei suas mãos. - E a deportação? Não eram 60 dias?.
- Consegui o visto até o final de agosto. Minha existência depois disso é um crime, agora cala a boca e deixa eu te socar.
- Não - empurrei seu rosto e joguei ela pra trás, caindo de bunda no edredom. - E também agradeceria se não citasse minha mãe... - minha garganta doía só em pronunciar isso, palavra inútil, doentia...
- Entendi.
- Foi mal... Por tudo, eu só não consigo conciliar minha vida com minha vida - encarei minhas mãos, memórias doem.
- Poderia ter conversado comigo, não sou a psicóloga mais bem conhecida pela região... Mas sei lá.
- Consulta meio cara essa tua... E meio ruim.
- Eu gosto do que a gente tem.
Ela falou isso com tanta naturalidade.
- Sabe.
- Quê?
- Quer saber da história?
- Óbvio, adoro quando você fala.
Ela jogou um travesseiro pra mim e mandou eu deitar. Fiz o que foi pedido e logo após Dhalia deitou - se na minha barriga.
- Pronta.
- Okey.

Aqueles Perigosos Cabelos RubrosOnde histórias criam vida. Descubra agora