Capítulo 17

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Te juro, polícia, que eu não sei

A pior parte daquela maldita viagem não era estar num carro com assassinas, assediadores, ladrões e tudo que há de ruim. Era Dhalia, na cabeça dela era genial a ideia de sentar no meu colo durante a viagem, se mexia toda hora procurando uma posição confortável - pra ela - agora eu sabia como os bancos se sentiam, era agoniante, mas não iria reclamar. Ameacei ela de morte faz pouco tempo, era bom deixar tudo voltar ao "normal".
- Ezio - ela me encarou e sussurrou.
- O quê? - me concentrei, talvez fosse algo importante.
- Você tá muito animado lá em baixo - e abriu outro sorriso.
- Mas que inferno!
- O que vocês tanto gritam aí atrás? Odeio crianças escandalosas - Shayara já dirigia a uma hora, estava ficando assustador todo aquele mistério e aquele maldito baú com armas dentro.
- Desculpa, é que ela aqui não sabe se aquietar - dei uma cutucada em Dhalia, ela se retorceu e pisou no meu pé. - Demônio.
- Otário.
- Mimada.
- Demente.
- Vocês dois podem ficar quietos? - desviei o olhar e vi o topo da cabeça grisalha de Serdit. - São as coisas mais decepcionantes as quais já conheci.
- Achei que seu filho fosse decepcionante - o pré adolescente se meteu.
- Ele também - ela completou.
- Você tem um filho? - falei escondido atrás de Dhalia.
- Sim.
- Que louco teria relações com você? - Dhalia era bem cirúrgica.
- Muitos homens matariam para ter uma chance comigo - a velha jovem se gabou.
- Ou você mataria eles - Ian falou.
- Cala a boca, Ian.
Ian se calou.
- Uau, e quantos anos ele tem? - tentei ser o mais familiar possível.
- Não te interessa, eneádedos.
- Isso é bullying, sabia?
- Se tivesse sido mais corajoso, talvez eu falasse - ela estava me zuando? Depois de quase ter me matado?
- Você é doente, sabia? - eu continuava atrás de Dhalia me protegendo, sempre perto da arma.
- E quem não é?.
- Amém - todos da família de doentes falaram em uníssono.
Encarei a ruiva com um desconforto e ela entendeu a mensagem, aquilo já estava esquisito.

Após um tempo razoável, Shayara estacionou o carro no penúltimo andar de um estacionamento de andares, tínhamos uma boa visão daquele bairro meio morto, pichado e com cheiro de banheiro. É, com certeza estávamos ferrados, um silêncio enorme ficou entre nós seis logo após a descida do carro.
- Okey, toma - a chefa estendeu uma maleta, não era a mesma do banco de passageiros, possivelmente estava no porta molas. - Essa, meu bem. É uma HK UMP, você vai fazer "papapapapa" e seu alvo vai falar "aiaiaiai".
- Legal. Quem são os inimigos? - perguntei curioso pela aquela coisa sombria e metálica, tinha dois cartuchos de reserva e um já na arma; ambos cheios.
- Tá vendo prédio o vermelho cor de merda? - Serdit apontou para a outra rua, era visível de longe.
- Hummm - se a merda daquela mulher tinha a cor vermelha, certamente era preocupante. - Tudo bem então.
- Sim, mas antes - foi como um vulto. Shayara me socou no rosto fazendo com que eu caísse igual uma pedra. A alguns passos, Gim pegou minha arma da cintura de Dhalia e Serdit a imobilizou no chão.
- Escuta aqui - fui agarrado pelo cabelo, Gim entregou a arma para aquela mulher assustadora e ela levou o ferro direto pra dentro da minha boca. - Eu deixei passar quando você entregou isso para aquela vadiazinha, mas assim que você ameaçou as minhas crianças!!! - ela estava com raiva, muita raiva, quase quebrou meu molar em uma mexida. - Eu tive que ficar puta, querido, compreende?
- Confiendo - respondi sendo bem preenchido por todo aquele metal não saudável.
- A maior vai ficar com a sua parceira - Dhalia parecia morta, a louca havia pressionado o joelho contra as costas dela. - E você como é muito engraçado, vai levar essa paradinha do tamanho do seu pau. Okey?
Mexi os ombros confirmando.
- Fico feliz pela nossa irmandade - e se levantou, deixando a arma em cima de mim.
- Então - cuspi um pedaço de dente pro lado, quase não sobrou nenhum molar, - o que a gente tem que fazer?
- Entrem lá e matem o inquilinos do apartamento 25.
Fiquei esperando o resto.
- Só isso?
- Você é burro? Deveria tá agradecido pela gentileza de matar só alguns inquilinos - puta merda, como aquela louca era intrometida.
- Hummm - olhei pra Dhalia no fim do joelho dela. - Dá pra soltar?
- Ah, claro - ela saiu e limpou as mãos nas calças.
- Se é assim, vamos lá então.
- Espera - ruivas são bem intrometidas.
- O que é? - Serdit sempre nos odiando.
- Podemos saber o que nos espera?
- Não.
- Vão nos ajudar?.
- Essa já é a ajuda, agora vão - Shayara nos expulsou sem muitas formalidades, Dhalia pegou a arma de presente, colocou os pentes extras no cinto como se fossem espadas e descemos até a saida.

Paramos na esquina, dois loucos armados era totalmente normal naquele local. Encarei Dhalia tremendo de medo, mas ao mesmo tempo confiante.
- Desculpa não manter a promessa - falei tentando quebrar aquele clima.
- Não é sua culpa - ela parou como se tivesse achando uma ideia. - Ei, domingo é teu aniversário, vamos comemorar bastante.
- Que droga - ela tinha lembrado.
- Haha, memória de elefante.
- Tá, vamos comemorar.
- Irru.
- Mas...
- Aaaaa.
- Vamos ter que sair vivos daqui, beleza?
- Por mim tudo bem - ela pegou a alça da arma e a deixou escondida nas costas em baixo da jaqueta. - Tudo certo, não dá pra ver nada.
- Já guardei a pistola.
- Hehe - ela fez aquela cara de novo.
- Você tem o quê? Nove anos?
- Culpa sua, anda, isso tá ficando suspeito. E você surta quando tem testemunhas.
Ela estava certa, caminhamos até a porta dupla de entrada do prédio, um vidro suja e com alguns trincados.
- Ei.
- O quê?
- E se eu só tivesse mandado você embora?
- Sua vida não séria tão divertida.
- Hipocrisia.
- E você adora minha bunda - afirmou enquanto lia o nome do prédio numa placa quebrada e queimada.
- Verdade.
- Entra logo - e me empurrou pra dentro do campo inimigo.

Aqueles Perigosos Cabelos RubrosOnde histórias criam vida. Descubra agora