Boreal

.14.

Meus amigos e eu decidimos nos reunir na casa do Daniel depois da aula para ficarmos de bobeira mesmo. A casa dele tem um pequeno cômodo do lado de fora, então ele transformou em um lugar para receber amigos, sem o pai ficar cobrando, e também compor suas músicas.

Sophie estava fazendo um vlog do seu dia - já me acostumei com a ela colando a câmera no meu rosto do nada. Daniel estava ao meu lado, meu irmão em um canto e Joanna em outro. Enquanto isso Luke apenas estava admirando Soph com uma carinha de bobo...

— Jo - chamei sua atenção – como foi a experiência de estudo com aquela sua colega?

Ela ajeitou sua postura antes de me olhar e reponder.

— Foi bem tranquilo, talvez a gente estude em dupla mais vezes...

— Que bom que deu certo então.

Ainda é esquisito estar tão perto de Daniel depois de tempos. Sem nem perceber me pego observando ele conversar com Arthur.

Ele mudou bastante desde que fui embora, fico me perguntando como seria se eu estivesse escolhido ficar por aqui. Talvez hoje seria tudo tão diferente.

Interrompo meus pensamento com a voz da Sophie.

— Olhe para o seu namorado como a Aurora olha para o dela – ela disse enquanto focava a câmera em mim. Daniel me olhou também e deu um meio sorriso. Eu to com muita vergonha.

Aí meu Deus, será que eu fiquei corada? Por favor que eu não fique vermelha, que eu não fique vermelha – imploro para o meu subconsciente.

— Ela tá toda corada – Arthur zomba de mim e eu coloco as mãos no rosto tentando cobrir um pouco a vergonha que estou sentindo. 

Daniel ri alto com a situação e eu me encolho no lugar. Ele percebe que eu estou com vergonha e entrelaça o seu dedo mindinho ao meu.

Esse pequeno gesto mexe comigo. Foi essa a maneira que encontramos desde sempre para mostrarmos um ao outro que estamos juntos independente da situação e que não soltaríamos a mão um do outro. Eu fui a primeira a soltar antes de ir embora...

— Vamos mudar de assunto – começo a pensar em algo para tentar mudar o foco – JÁ SEI – falo mais alto, sai quase como um grito e todos me olham assustados – vocês gostam de brócolis?

— Definitivamente, Aurora sou eu tentando puxar assunto com o contatinho – Soph diz rindo — você consegue ser mais aleatória que eu.

Era pra ser um elogio ou uma ofensa? Vou acreditar na primeira opção.

Pelo menos funcionou, o assunto rendeu e foi ficando cada vez mais aleatório. Quando percebemos já estava ficando tarde e decidimos ir embora.

— Você precisa de ajuda para arrumar alguma coisa? – perguntei para Daniel.

— Não preciso não, obrigado – deu um aperto no meu ombro e olhou na direção de nossos amigos que discutiam para ver quem ia pegar carona com quem — você está preparada para ir ao casamento do seu pai?

Temos que ir no final de semana, como vai ter um feriado prolongado iremos na quinta e voltaremos no domingo.

— Eu realmente não sei como me sinto sobre isso, mas acho que estou até aliviada por saber que você e meu irmão estarão lá também...

— Eu to nessa com você, independente de qualquer coisa – ele diz me olhando, com suas pupilas dilatadas, bem no fundo dos meus olhos — quando quiser conversar melhor sobre tudo, estarei aqui para te escutar.

Concordo com um leve aceno de cabeça e olhamos os dois para a direção dos outros que no momento estão nos aguardando terminar a conversa pra assim irmos todos embora.

— Acho que só falta você – uma mecha do meu cabelo cai no rosto e Daniel automaticamente e com todo o cuidado a coloca atrás da minha orelha. Baixinho ele diz — por favor, não me mata e não sai correndo.

Fico confusa, mas não demora muito para entender. Daniel segura meu rosto entre suas mãos e me dá uma selinho demorado que mexe com todos os meus sentidos. Ele se afasta lentamente e deixa um singelo beijo na minha testa, nossos olhares se encontram. Estamos em uma bolha que parece ser inquebrável...

— Ah cara, não beija minha irmã na minha frente – não tão inquebrável assim, já que o grito do Arthur nos tira do transe.

— Eu vou indo nessa – aponto para a direção deles. Eu to tão envergonhada é tão perdida que chego até a gaguejar.

— Claro. Boa noite, Boreal.