Acordo mais cedo para uma corrida matinal, preciso queimar todo aquele chocolate de ontem, forçar o vômito não foi suficiente.
Enquanto corro meus pensamentos vão para o que Joanna me disse, eu preciso lutar pela amizade de Daniel, preciso pensar em quais passos dar. Mostrar para ele que eu me importo e estou disposta a ter a presença dele na minha vida.
Percebo que corri bastante e por mais que eu necessite correr mais, decido voltar.
Quando chego em casa vejo que minha mãe e Arthur já acordaram e estão tomando café.
— Bom dia – digo com um sorriso no rosto. É tão bom estar na presença deles.
— Bom dia, filha – minha mãe responde e eu dou um tapa na cabeça meu irmão que parece estar dormindo ainda.
— Ai – ele reclamou passando a mão no lugar em que bati — não precisa ser tão bruta. Nome de princesa mas parece uma ogra. Credo. – reviro os olhos rindo — toma o seu café e me deixa descansar os olhos aqui.
Decido pegar um cacho de uvas, por mais que eu necessite fazer jejum, minha mãe iria implicar e não quero deixar ela preocupada.
— Eu não quero dirigir hoje – olho para o meu irmão — será que rola você me esperar para irmos juntos? – junto as minhas mãos fazendo uma carinha fofa tentando convencer ele.
— Oh mãe, sua filha já passou por princesa, ogro e agora tá se fazendo de gato de botas e em menos de – olha no relógio — dez minutos. Ela acha que consegue me convencer assim... tadinha.
[...]
— Se você demorar mais um minuto, eu juro que te deixo para trás – Arthur grita do andar debaixo.
— Para de ser escandaloso, Arthur – digo enquanto desço as escadas — eu me arrumo mais rápido que você.
— Até parece, leva uma eternidade – diz pegando a chave do carro — já que me fez esperar, tenho treino depois da aula e você só vai embora quando eu for.
— Tudo bem. Eu não tenho nada mais interessante para fazer mesmo... – falo seguindo ele até o carro.
— Vocês não querem ficar depois da aula para assistir o treino dos meninos comigo? – pergunto para Sophie e Joanna assim que encontro com elas.
— Um monte de menino lindo e sem camisa? – Soph pergunta e eu sorrio em expectativa — adoraria, mas temos um compromisso em família mais tarde e não podemos nos atrasar – meu sorriso some assim que sua frase termina.
— Tudo bem, eu fico aqui – coloco a mão no peito — triste e solitária, abandonada por minhas amigas – faço um pequeno drama.
— Dramática – Jo diz rindo — você não quer uma carona?
— Adoraria – digo sorrindo pra ela — mas foi a condição que meu maravilhoso irmão me deu pela carona de hoje – elas reviram os olhos quase em sincronia.
— Você que sabe então – Soph diz — se por um acaso tiver um bem bonito e tudo mais, manda uma foto para mim disfarçadamente – me pede baixinho — pelo amor de Deus, não esquece de desligar o flash.
— Desligar o flash para que? – meu irmão diz se aproximando com Luke, - sim, ele tem ficado mais perto por conta da Soph e ela até agora não percebeu - Daniel e umas líderes de torcida que geralmente seguem eles por todo canto.
— Flash? Ah, o da minha câmera... acredita que eu esqueci de desligar e a foto tinha que ser sem? – disfarço e as meninas dão uma risadinha — sou tão desatenta.
Daniel se sentou e logo revirou os olhos. Sei que fiz merda e por mais que eu queira muito a amizade de volta e esteja disposta a lutar por isso, ele precisa do espaço dele e eu não quero deixar ele desconfortável. Ele é importante para mim, eu só demorei muito tempo para perceber.
— Puts, eu preciso ir correndo – falo levantando rápido — eu esqueci algumas coisas lá no... no – merda, não consigo pensar em nada.
— Laboratório de fotografia – Joanna completa.
— Issoo, laboratório de fotografia – aponto para um lado qualquer
— O laboratório é para o outro lado – Arthur falou dando uma risadinha
— Eu sei, claro que é – fiz uma cara de paisagem — eu só ia passar no banheiro antes... eu tenho mesmo que ir. Beijinhos.
Sai correndo, acho que ninguém percebeu. Ou será que sim?
[...]
Enquanto os meninos treinavam, meus olhos foram para o treino das líderes de torcida. Eu amo dançar, mas não tenho coragem de fazer isso na frente das pessoas.
Cheguei a pensar em fazer dança ao invés de fotografia, mas eu nem danço tão bem assim, então achei melhor seguir pelo rumo fotográfico mesmo e levar o mundo para as pessoas através das lentes.
Percebi que alguém sentou ao meu lado. Não é necessário olhar pra saber, o perfume não engana.
Ele suspirou antes de começar a falar.
— Você não precisa deixar o lugar toda vez que eu chegar – Daniel fala olhando para o campo.
— Eu só não quero te deixar desconfortável com a minha presença – falo para ele que fica em silêncio — não quero te privar de se sentir bem junto com os seus amigos só porque eu estou por perto. Não é justo – olho para minhas mãos em cima do meu colo.
— Não é necessário, se eu estiver incomodado eu mesmo me afasto, você não precisa ficar fugindo sempre – fala ainda sem me olhar — mas não é sobre isso que eu vim falar – me estendeu um papel — Bento vai fazer finalmente 6 anos e quer muito sua presença, ele me fez prometer que te entregaria o convite pessoalmente.
Pego o convite e solto um sorriso. Ele realmente é um menino especial.
— Sinto muito por ter magoado ele – falo olhando para o convite em minhas mãos — eu gosto bastante dele.
Ele só assente com a cabeça e se levanta me deixando novamente sozinha com os meus pensamentos.
Será que um dia ele vai me perdoar? Eu não posso nem querer que algo assim realmente aconteça, até porque se eu não estivesse sabendo a verdade, talvez nesse momento continuaria agindo da maneira infantil que eu estava, e não sei quando assumiria para mim mesma que eu o perdoaria um dia ou outro.
Não vou desistir dele enquanto ele não me disser com todas as letras que é isso o que ele realmente quer.
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Boreal
RomanceAos 19 anos, Aurora Scott não tem muitas amizades e nem acredita em coisas bobas, como o amor. Após três anos morando com seu pai, decide finalmente voltar para sua mãe e seu irmão gêmeo. Ao tentar surpreender seu irmão, acaba sendo surpreendida pel...