Boreal

.10.

Os dias foram passando de uma maneira muito rápida, o aniversário de Bento se aproximando e também o casamento do meu pai. Só de imaginar voltar para aquela cidade já me arrepio toda.

Durante essa semana deixei letras de músicas que me fazem bem nas coisas do Daniel.

Queria que mesmo no anonimato, ele sentisse que eu estava por perto. Não quero forçar a convivência, apenas me fazer presente. Se fez alguma diferença na vida dele, eu não faço ideia, mas se essa sempre foi a maneira de se expressar, então seria desse jeito que eu me comunicaria com ele.

— Ainda bem que hoje já é sexta-feira – Sophie disse se aproximando ao lado de Joanna — vamos fazer alguma coisa amanhã?

— Eu adoraria – respondeu Jo  – maaas, vou estudar com uma colega do meu curso.

— Não podia ser outro dia não? – Soph perguntou triste — você sempre gostou de estudar sozinha...

— Pois é – Jo disse olhando por todo o lugar — resolvi tentar outro método de estudo – ela pareceu nervosa ao falar.

— Se você diz – Soph levantou os braços e logo olhou para mim – e você?

— Não posso – fiz uma carinha triste para ela – amanhã é o aniversário do Bento – contei me explicando.

— Quem é Bento? – perguntou e Joanna deu um tapa na cabeça dela

— É o irmão do Dante, besta.

Eu dei uma risada da maneira que elas se tratam, as vezes interagem como duas irmãs. Acho bonita a relação das duas.

— Do que estão falando? – Arthur perguntou se aproximando silenciosamente, como sempre.

Quando ele chegou ao meu lado eu dei um tapa nele que não entendeu nada.

— Do quanto você é idiota – dei mais um tapa fraco.

— O que foi que eu fiz dessa vez? – perguntou com uma cara claramente confusa.

— Você tinha mesmo que ser popular? Quando alguém do meu curso finalmente vem conversar comigo é só para conseguir o seu número – conto chateada sobre a situação.

— E o que você fez? – perguntou em expectativa.

— Você faz muitas perguntas, credo. Eu mandei pastar – respondi como se fosse óbvio — se quer o seu número que fale com você!

Observei Daniel chegando com uma menina na sua cola, não me lembro de ter a visto por aqui antes, mas são tantas pessoas que lembrar de todos os rostos é meio complicado.

— Era só ter respondido minha mensagem, Dante – a menina disse e ele apenas se controlou para não suspirar não frente dela.

— Greta, eu não tinha visto sua mensagem – ele disse segurando o ombro da mesma, a fazendo parar — e eu não tenho como te ajudar com isso, tenho compromisso. Sinto muito.

— Por favor Dantezinho, eu te espero sair do treino – aí que brega, dantezinho é o fim.

Precisei me controlar para não rir na frente deles, e acho que não foi só eu.

— Não posso te ajudar, pede para outra pessoa. Me desculpa – a tal Greta saiu batendo os pés e ele pareceu aliviado.

Arthur esperou Daniel se sentar pra começar a zoar.

— A Greta voltou a pegar no seu pé, "Dantezinho"? – meu irmão finalmente liberou a risada por conta do apelido e eu não aguentei mais, tive que rir junto. Daniel revirou os olhos.

— Para de rir, idiota – brigou com o Arth e jogou sua mochila na mesa — eu já expliquei para ela que não quero nada, mas parece que ela não quer aceitar.

— Ei, que papel é esse saindo da sua bolsa? – Soph resolveu perguntar, como sempre curiosa.

Eu gelei, era a letra da música que mandei para ele hoje.

— Não é nada não, coisa minha — falou enquanto guardava rapidamente na bolsa com um sorrisinho leve.

O que será que se passa na cabeça dele? Será que ele imagina quem manda?

Depois de muito tempo essa é a primeira vez que venho sozinha em um shopping, podendo comprar o que eu quiser sem ter ninguém para dizer o que é permitido ou não.

Por mais que eu esteja aqui para comprar o presente do Bento, acho que não faz mal eu comprar alguma coisa pra mim também...

Primeiro vou atrás do presente. O que comprar para uma criança que está fazendo 6 anos? Uma guitarra infantil seria opção legal, mas é capaz dele ter, já que o irmão é apaixonado por música.

Entro em uma loja de brinquedos e são tantas opções nas prateleiras que não sei nem por onde começar a olhar. Sou tão apaixonada por essa criança que se eu pudesse levava a loja inteira só para ele.

Me lembro que ele estava usando uma camiseta do homem aranha na última vez que o vi, acho que vou comprar algo relacionado então.

Saio da loja feliz com um boneco do homem aranha, espero que ele goste. Decido dar uma volta em lojas de roupas. A última vez que fiz compras eu ainda morava com meu pai.

Entro em algumas lojas e experimento roupas também, mas não me sinto bem com nenhuma delas. Parece que nada me valoriza, Éric sempre me dizia que eu não posso usar alguns tipos de roupas porque elas me deixam com um formato estranho e que as pessoas me ilhariam muito.

Tento novamente em outras lojas, mas de maneira alguma eu consigo me olhar e ficar satisfeita, terei que me contentar com o que já tenho em casa. Quem sabe um dia eu não volte a tentar...

Desisto das roupa e acabo comprando só alguns produtos para a pele e cabelo e vou embora do shopping com as minhas poucas compras e nada contente.