Rodrigo
— Maldição! — meu soco na mesa de madeira ecoa no pequeno cômodo que usamos de escritório, minha mãe encara-me sisuda. — O tal Bernar me garantiu que ia vender para mim a parte dele e da irmã — reclamo incrédulo.
— Acontece que nossa advogada acaba de me dizer que ele recusou a oferta, filho controle seu gênio.
Ela diz receosa e caminho pelo escritório que tenho me mantido preso tempo por demais desde que meu padrasto faleceu, eu odeio resolver as questões administrativas, sou um homem do mato, gosto de lidar com os bichos, com a roça, mas prometi ao meu padrasto que ia cuidar de tudo e que ia manter o padrão financeiro de minha mãe, não posso falhar com ele.
— O homem retrocedeu, não há o que possamos fazer Rodrigo, esse povo da cidade grande não tem lealdade pela palavra como nós, para eles o que vale é o que tá no papel — coço a testa e reflito, depois de tê-lo ameaçado com a minha espingarda, jogá-lo no chiqueiro, ainda assim o homem não desistiu, algo aconteceu.
Dois toques na porta maciça nos despertam a atenção, rosno um — entra — entredentes e vejo Jorge e Iverson entrarem, meus funcionários, quando seus olhos encontram minha mãe no ambiente, de pronto os peões retiram da cabeça o chapéu gasto, em sinal de respeito, Jorge que era o braço direito de meu padrasto no trato dos animais é o primeiro a se aproximar e beijar a mão de minha mãe, entretanto não entendo o motivo dela ajeitar a postura e colocar um cacho atrás da orelha enquanto recebe o cumprimento.
— Como passa, dona Lilian?
— Bem Jorge, faz tempo que não aparece por essas bandas.
— Tenho cuidado mais da roça enquanto Iverson cuida dos passos do tal Bernar.— A conversa acontece com as mãos ainda unidas, olho para meu amigo Iverson em questionamento pela proximidade desses dois e ele apenas faz uma careta em resposta aparentando entender menos que eu.
— Sua benção, madrinha — Iverson interrompe os dois e me faz franzir o cenho pela cara de desagrado de Jorge em perder a atenção de minha mãe.
— Deus o abençoe, Iverson, como vai o noivado? Meus parabéns.
— Vai firme como deve ser, madrinha.
— Isso mesmo, ao menos você tem juízo — minha mãe comenta olhando para mim em uma nítida implicância — se enlaçou com um moça de boa família, trabalhadeira, diferente de outros por aí que só se envolvem com rabos de saia fúteis e sem boa base familiar.
— Diacho, o que querem aqui? — encurto a prosa, o que eu menos preciso nesse dia estressante é ficar ouvindo sermão da minha mãe sobre a minha vida íntima.
— Patrão, desde que o engomado chegou aqui estou de olho nele como me pediu — olha para trás desconfiado e dá um passo em minha direção diminuindo o tom de voz — acontece que hoje ele recebeu uma ligação da irmã caçula que mudou o rumo da decisão da venda — as palavras são ouvidas de forma cautelosa entre eu e minha mãe, nem mesmo um respiro é audível.
Iverson foi criado comigo solto por essas terras, ele é como eu, deve gratidão eterna a Evandro. Enquanto começa a nos contar sua descoberta, Jorge vai sorrateiro refazendo o caminho dos dois e vistoria o corredor, em seguida tranca a porta e vem até nós e dá um aceno com a cabeça para que continuemos a prosa, confio por demais na lealdade dos meus funcionários que em sua maioria também são meus amigos.
— A filha caçula de Evandro está vindo para cá, está vindo decidida a conseguir vender a parte dos dois — corto-o:
— Pois deixe que ela venha, vai ter o mesmo tratamento Vip do irmão — esbravejo.
— Deus do céu, Rodrigo, cuida do teu gênio, não vai tratar mal uma mocinha indefesa — repreende minha mãe levantando da cadeira e vindo até meu lado.
— Mocinha indefesa nada, é uma cobra criada para nos dar o bote — reclamo.
— Desembucha tudo de uma vez, homem. — Jorge dá um tapa na cabeça de Iverson, o homem é tão impaciente quanto eu, sorrio aprovando a atitude enquanto Iverson solta um relincho.
— Parece que ela não quer mais tentar vender para ninguém daqui da região, a menina quer tirar fotos daqui da fazenda, conhecer bem a terra para anunciar a venda... — engole a seco e sussurra amedrontado: — na internet.
— Filha da... — Recebo de minha mãe um tapa na boca me impedindo de concluir o palavrão, com dona Lilian não importa que sou homem já feito, tenta me educar no cabresto como se eu ainda fosse um guri.
— Olha esses modos, piá — repreende com sua testa enrugada, mas logo em seguida desaba em pânico. — Minha virgem Maria, imagina essas terras que foram cuidadas com tanto esmero por todos nós nas mãos de alguém que nem mesmo conhecemos, serão nossos vizinhos de cerca, gente que nem vai ter amor a isso aqui como nós, meu filho, isso não pode acontecer — leva as mãos a boca, chocada e Jorge se aproxima e lhe toca o ombro em sinal de apoio, olho semicerrado para ele que de imediato entende e desfaz o toque, o homem tem a minha idade, não vou aceitar que falte com o respeito com a minha mãe.
— Deixa que essa patricinha venha, ela não vai ser páreo para mim.
— Sei não chefe, pela esperança que deu no irmão a achei bastante ardilosa.
Tento puxar na memória as falas de Evandro sobre a menina, tudo muito vago, ele comentava que a menina gostava muito de bonecas, mas não sei da personalidade dela agora adulta, não lembro o nome da garota, e nunca vimos uma foto sequer dela já grande, o que dificulta para mim, vou pedir os dados dela ao advogado que fez todo o inventário, mas com a proximidade do fim de semana ele deve me responder somente na segunda feira...Mas ainda assim tenho um plano em mente...
— Pois deixe avisado para todos os funcionários da Belo Amanhecer que é para ignorar essa garota, não quero ninguém de prosa, e mãe, mande que separem o quarto de hóspedes ao lado da minha suíte, quero estar com os meus olhos sobre essa menininha mimada. Não vou permitir que esses dois destruam o que ganharam de mão beijada por puro ego.
— Rodrigo, não se esqueça que os dois são filhos de Evandro — assim que minha mãe cita o nome do meu padrasto falecido eu e meus amigos nos benzemos, em sinal de muito respeito.
— Deus o tenha em bom lugar — dizemos em uníssono.
— Pois bem, tenham a cabeça no lugar, eu também não gosto dos filhos dele, porque ambos nos odeiam, mas ainda assim são os filhos dele, então não façam nada que envergonharia a alma do meu marido — concordamos apenas para dar conforto a minha mãe, porém o olhar que trocamos deixa claro que não pouparemos esforços para fazer com que a garota saia daqui fugida na primeira oportunidade.
— Quando ela vêm? — pergunta Jorge.
— Não consegui ouvir, Bernar me viu de olho na conversa e saiu de perto feito cavalo arredio. — Lamenta.
Viro para a janela a minhas costas alheio a conversa no cômodo, vejo a imensidão das terras, sei como fizemos prosperar cada pedaço desse chão. No reflexo vejo também minha mãe aflita, a venda das terras tem tirado o nosso sono, apesar da gratidão que tenho a Evandro, sei que os filhos dele nos odeiam, e não tenho bom gênio para traidores ou para uma conversa amigável.
O vidro também reflete parte do meu rosto, está ali a pele escura, minha barba sempre aparada, afinal sou um homem extremamente vaidoso como um puro sangue, o cabelo bem aparado, os lábios grossos que sorrio fácil para quem gosto, ataco quem odeio e sei usar para venerar o corpo inteiro de uma mulher.
Tanto Bernar quato a irmã se quiserem guerra terão que lidar com a minha fúria.
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{Completo até 06.08}Inesperadamente Minha (Série Cowboys Obstinados)
RomanceMais Informações em breve.