Rodrigo
Praticamente não preguei o olho desde a conversa na sala com Melissa, a julguei tão errado, imaginei que fosse maleável, sensata, ainda mais depois de ver quanto há em jogo, mas fui ludibriado pela minha intuição, ela não passa de uma menina fútil que teve a vida fácil, ela reclama que não teve a presença do pai, mas teve o dinheiro, enquanto eu não tive nada disso, e sigo a vida sem apontar dedos ou tentar prejudicar ninguém.
Levantei cedo por demais e logo fui caçar trabalho porque cada vez que meu corpo fica parado relembra daquela disgrama de mulher atrevida, não entendo como posso repudiar tanto as atitudes dela e ainda assim deseja-la tanto.
— Bom dia, seu Rodrigo.
— Dia, Briana eu trouxe esses ovos pro café da manhã — entrego a minha funcionária que é responsável de servir as refeições da casa grande.
— Não precisava, eu ia agorinha pedir pro Iverson buscar, a patroinha caiu cedo da cama também, se ofereceu para tirar leite da vaca.
— De quem está falando?
— Da patroinha bonitona da cidade grande.
— Diacho e ela lá sabe tirar leite?! — ela dá de ombros e lhe entrego a cesta de ovos. — Vou lá ver o que sucedeu, vá cuidar do café.
— Sim, senhor.
Caminho até o curral e vejo-a acariciar Lua, uma das minhas vacas, fico da porta a observando, tem horas que é xucra, brigona, parece uma tempestade de tão barulhenta e devastadora, e tem momentos como esses, leve, carinhosa, reparo que ainda tem a voz doce de menina, jovem demais para lidar com os aperreios da vida, não consigo decifrar Melissa Raiol.
— Eu acho que a vida das vacas são mais fáceis que a nossa, tudo bem que vocês todas dividem o mesmo boi, mas são todas bem resolvidas com isso — fala e em um primeiro momento eu acho que é comigo, mas a pego virando a cabeça para o lado esquerdo junto de Lua como se esperando a sua resposta — será que você está grávida? Rodrigo disse algo sobre o tamanho da barriga, mas posso me enganar, afinal, quando como muito a minha barriga também parece que tem um ovinho... — gargalha e me pego rindo da sua interação, achando-a tão inocente lidando com a minha vaca — minha mãe diz que não é de bom tom comer ao ponto de chegar nesse nível, mas eu amo comer, me diz, você está grávida ou é só comida?
Ela está de costas para mim, assim consigo ver os cachos hoje expostos, controlo todo o meu ímpeto de juntá-los em minha mão e tomar posse do pescoço que me deixa doido de vontade de beijar, mordiscar, dou um passos para dentro e acabo a reparando quando a respondo, cada uma de suas expressões.
— Ela está prenha, falta pouco para nascer — vira-se assustada com a mão no peito assustada e depois olha para o chão evitando de me encarar — como pretendia tirar leite?
— Bem eu achei que seria fácil, mas quando cheguei aqui percebi que não sabia nem por onde começar.
— Vou pedir que Iverson lhe ensine. — Digo e ela então me olha, do jeito que me confunde, ergue o queixo orgulhosa, porém, o olhar é doce, sinto que me esconde tanta coisa. — Eu decidi mantê-la aqui no estábulo nessa reta final ao invés de solta pelo pasto com as outras porque o último parto dela foi difícil por demais, e o bezerro acabou nascendo morto.
— Coitadinha — leva a mão a boca e em seguida olha com pesar para a vaca.
— Assim é a natureza, Mel, por mais que às vezes tenhamos a ciência a nosso favor, a natureza que dá o seu veredito.
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{Completo até 06.08}Inesperadamente Minha (Série Cowboys Obstinados)
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