2 - No sirve de nada preocuparse por el café derramado ...

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Ao chegar em casa naquela noite, Anahi só desejava poder mergulhar em sua banheira e ali ficar até que tudo que estava sentindo passasse. E assim ela o fez. Despiu-se ainda no closet, soltou o cabelo e por alguns instantes se pegou olhando a figura no espelho. As mãos involuntariamente passaram pelo ventre e ela fechou os olhos, afastando as lembranças que a prenderam naquela situação em que estava. Abriu os olhos rapidamente, ignorando seu reflexo e indo até o banheiro. A banheira já estava como ela gostava, e ela agradeceu mais uma vez a Deus por ter alguém tão dedicada trabalhando com ela. Assim que emergiu na água pôde sentir cada músculo do seu corpo relaxando, aos poucos aliviando a tensão que sentira e dando espaço a um pequeno momento de tranquilidade. Recostou a cabeça e os pensamentos e lembranças a invadiram. Às tantas vezes que, ali, naquela mesma banheira em que estava, ardeu de amor com Alfonso, até perderem os sentidos e as forças... Ela sorriu, mas tinha uma lágrima caindo pelo rosto no mesmo instante. Talvez chorar naquele momento fosse mesmo o que ela tanto precisava, aquele choro estava ali entalado havia muito tempo. Olhou a sua volta, a bancada enorme com as duas pias, um lado quase vazio pela ausência das coisas de Alfonso, e vazio também o peito. Outra lágrima caiu. Seguido de outra, e mais outra. As lembranças...

Sete anos antes...

Alfonso: Vai, abre logo essa porta. – ele ria do lado de fora do banheiro. — Você não pode me deixar aqui esperando!

Anahi tinha dois testes de gravidez sobre a bancada, e ria como uma criança fazendo uma travessura a cada batida de Alfonso na porta.

Alfonso: Amor, eu imploro. – riu. — Não me deixe morrer de ansiedade.

Nesse momento, finalmente, os testes pararam de piscar, mostrando enfim o resultado. Uma lágrima escapou dos olhos de Anahi, junto com um sorriso que quase não cabia naquele pequeno rosto. Grávida. Ela estava grávida. Caminhou a passos lentos até a porta, os testes nas mãos, e as lágrimas agora caiam copiosamente em um choro de emoção. Quando abriu a porta, dando de cara com um Alfonso ainda mais nervoso do que quando entrara ali, apenas assentiu com a cabeça e foi suficiente para que ele entendesse. Foi a vez dele chorar e rir ao mesmo tempo. Ele a colocou nos braços, abraçando e a levantando para cima, logo ela enlaçando as pernas em volta da cintura dele. Não precisavam dizer nada, aquele momento por si só já era suficiente pra que todos os sentimentos fossem sentidos. E ele a beijou, ternamente, com um carinho que dizia mais do que qualquer palavra era capaz.

Alfonso: Eu amo você. — disse após afastar suas bocas. — Eu amo vocês, e sou o cara mais feliz que esse país já viu, que esse mundo já viu. – ela passou a mão pela lateral do rosto dele, observando cada detalhe daquele momento.

Anahi: E eu sou a mulher mais sortuda desse mundo por amar tanto alguém como você, meu amor. – colou a testa na dele. — Agora somos três.

De volta aos dias atuais...

Diferente de Anahi, Alfonso chegou ao flat com sede. Precisava de algo forte lhe queimando a garganta para que conseguisse organizar os pensamentos e o que tinha acontecido naquele tribunal. Assim que entrou em casa, afrouxou a gravata e tirou os sapatos, deixando-os pelo caminho. Se serviu de um uísque puro, e se jogou no sofá. Poucas vezes ele parara para pensar em Anahi nos últimos meses. Tinha tanta certeza do casamento falido que sequer se permitia pensar em algo que ainda pudesse sentir por ela, e vice-versa. Mas ela queria lutar. E em um primeiro momento, precisamos dizer que, ele ficou realmente muito irritado com tal atitude da parte dela. Era como se a única saída daquele tormento fosse o bendito divórcio, e agora eles continuavam presos naquela bolha interminável de lembranças de um fracasso. Mas em um segundo momento, agora, ali sentado sozinho no apartamento escuro, banhado somente pelas luzes da noite atravessando as imensas janelas de vidro, ele pensou nela. Bebeu o copo mais rápido do que gostaria assim que a imagem dela lhe veio à mente, logo se servindo de outro, que foi bebido com ainda mais rapidez. Precisava sentir o amargo daquele líquido afetando sua sanidade, precisava sentir qualquer coisa que fosse diferente do que sentia quando pensava nela. Algumas coisas queimam o peito muito mais do que fogo, e era isso que ele sentia. O peito queimando por ela. Ainda que ele não soubesse colocar em palavras, ou pudesse explicar, a mínima lembrança dela a sua frente impecável como estava, mexia com ele. Ele não queria sentir, não queria se enganar, não depois de ver o quanto os dois se tornaram estranhos e alheios a qualquer olhar de amor. Não existia mais amor ali, ele tinha certeza, então porquê raios ele estava pensando nela agora? Porque diabos ele queria estar com ela em seus braços, se sequer sentia algo por ela? Quando o peito começou a inflamar, desistiu do copo e virou a bebida no bico da garrafa, sentindo a garganta arder como fogo. Procurou o celular no bolso e assim que ligou o aparelho, várias mensagens surgiram. Ignorou todas, apenas uma em especial lhe aliviou ao ler de quem se tratava. Paola. A mensagem falava algo sobre finalmente ele ser um homem livre, o que ele ignorou completamente, apenas precisava dela ali. Retornou a ligação e com poucas palavras pediu que ela fosse até sua casa. Alguns minutos depois a campainha tocou.

Sob o Céu de ManhattanOnde histórias criam vida. Descubra agora