5 - Quédate aquí

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Alfonso por sua vez observava a tela do celular, lendo e relendo a notificação de que havia uma mensagem na caixa postal, e de quem se tratava. Seja lá o que Anahi tinha pra dizer naquela hora, ele sentia o peito arder só em pensar. Hesitou por alguns minutos até ouvir a bendita mensagem, arrepiando o corpo ao ouvir a voz dela, se odiando ao perceber que não trocara o endereço da entrega do terno para o casamento. Ele até pensou em retornar a ligação, mas achou melhor uma mensagem.

Obrigada por avisar.

Mensagem enviada. Recebida. Visualizada. Ele ainda esperou enquanto observava o online dela, esperou que ela digitasse algo, mas quem ele queria enganar, era óbvio que nada viria daquela resposta seca que ele dera. Bufou, jogou o celular longe e decidiu não pensar mais naquilo. Ou nela, como preferirem nomear. Tomou um banho determinado a arrancar qualquer coisa que lhe trouxesse Anahí a mente, comeu, correu, viu as horas passarem mais depressa do que ele gostaria... E era chegado o momento. Ele precisaria ir até a casa dela e pegar o traje. Sim, ele poderia pedir um taxi, um serviço de entrega, ou o que quer que pegasse aquele embrulho e o levasse ate ele, mas não, ele não queria e não conseguiria fazer isso. Engoliu a seco, vestiu uma roupa leve, e nada que apertasse sua garganta mais do que o nó imaginário que ali já tinha. E foi.

Estacionar em frente a aquela casa onde ele viveu do céu ao inferno já lhe causava arrepios. Caminhar até a porta e saber que do outro lado ela estaria a sua espera só fazia tudo piorar. Passavam das cinco da tarde quando ele finalmente tocou a campainha. Esperou, mas ninguém apareceu. Conferiu o relógio, e ousou então virar a maçaneta. Porta aberta. Deu um passo em direção a enorme sala de estar, e foi quando ele a viu, na ponta da escada. Ela fechava um brinco enquanto caminhava em direção a sala, provavelmente indo atender a campainha que tocara. Ela estava deslumbrante, e o corpo dele falhou miseravelmente ao vê-la. Já estava praticamente pronta. O cabelo em um coque solto, a maquiagem perfeita, as sandálias prateadas, e pra deixar tudo ainda pior, um hobbie de seda marcando cada detalhe do corpo esguio. Era o fim. Alfonso engoliu a seco. Uma, duas, ou quem sabe vinte vezes. As mãos nos bolsos da calça jeans, evitando demonstrar que as mesmas estavam suando.

Anahí: Me desculpe a demora, eu... Estou sozinha, estava terminando de me arrumar. – sorriu, desmontando toda e qualquer armadura pesada que ele carregasse.

Alfonso: Tudo bem. – conseguiu dizer, sorrindo, mas contendo alargar demais. Ele estava fodido. — Vi a porta aberta, acabei entrando sem avisar.

Anahí: Esta casa ainda é sua, nunca deixou de ser. – ele sabia que um soco doeria bem menos do que ouvir ela falando aquilo. Então baixou os olhos, mordeu o lábio e sentiu o impacto daquilo tudo. E a dor que aquele lugar lhe causara também. — Certo... – quebrou o silencio. — Estamos em cima da hora, você precisa se trocar. – sorriu.

Alfonso: Olivia deve estar surtando. – sorriu sincero.

Anahí: Quase vinte mensagens por minuto. – riu. — Parece que a ideia da solidão em um SPA não foi tão boa assim pra ela.

Alfonso: Eu tenho certeza que não foi. – negou com a cabeça, rindo.

Anahi: Você pode ficar. – o encarou, recebendo de volta um olhar que ela não sabia decifrar. Ele também a encarou, com um misto de sensações estranhas. De dor e de uma saudade dela que ele nem sabia que sentia, ou que se recusava a aceitar que sentia. — Ainda tem algumas coisas suas aqui Alfonso, e você poderia me dar um carona. – deu um passo na direção dele, mas ele desviou o olhar, encarando o nada enquanto procurava uma maneira de não entrar naquela teia.

Alfonso: Anahi... – tentou, mas ela deu mais um passo e o interrompeu.

Anahi: Uma trégua, sim? – segurou-o pelos ombros. — Apenas por hoje vamos ser somente os padrinhos de Olívia e Robert. Sem passado, sem mágoa, sem lembranças... – ele enfim pôs os olhos nos dela. — Apenas hoje, Poncho. Por favor. – suspirou, agoniada com o silêncio que gritava entre eles. — Eu sei que não estou mais em posição de te pedir nada, e que tudo entre nós ainda te machuca, mas apenas hoje vamos ser somente dois amigos que se dão bem, e não um casal que não deu certo.

Sob o Céu de ManhattanOnde histórias criam vida. Descubra agora