10 | Pequenos Sinais

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É estranho percorrer o caminho de antes - conclui, Jungkook, absorto em comparativos de quem era em sua vida de meses atrás para o que veio a se tornar no presente

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É estranho percorrer o caminho de antes - conclui, Jungkook, absorto em comparativos de quem era em sua vida de meses atrás para o que veio a se tornar no presente. Duas horas de viagem foi o bastante para espanar a poeira dos miolos e fazê-lo perceber o que teria ganhado se tivesse sido sincero com Taehyung. Sua mente fértil ensaia os acontecimentos daquele dia, onde entraria em casa com o fracasso pesando nos ombros, encontraria o namorado na sacada do apartamento e diria: "Não tenho mais emprego" . Quem sabe Taehyung não fosse empático o suficiente para abraçá-lo e decidisse cuidar de Jungkook o resto da noite? Ele nunca irá saber a resposta. Fez tudo ao contrário.

Vez em outra seus olhos expiavam as feições de Jimin que, atento a todo e qualquer detalhe ao redor, não se preocupava em dizer uma palavra sequer. E para falar a verdade, Saturno tinha que se sentir muito confortável ao lado de alguém para não permitir que o silêncio entre eles se tornasse algo tedioso e desconfortável. A sensação era quase libertadora.

Não somos tão diferentes, afinal -, pensou, Jungkook, manuseando a estranha sensação de conforto que o silencio proporcionava entre ambos os corpos.

Quando a voz robótica surge nas caixas de som para anunciar a parada esperada, Jungkook de repente perde a timidez, mas só o suficiente para encostar seus dedos nas costas da mão esquerda de Jimin, provocando no jovem um leve arrepio que ele tenta, a todo custo, evitar transparecer.

— Eu só... — Inicia, Jungkook, procurando no fundo da mente um motivo que não pareça ser tão patético para o ato — É a nossa parada. — Diz, de sobressalto.

Ele podia jurar que Jimin havia prendido a respiração por segundos.

— Quando as portas se abrirem, as pessoas vão começar a empurrar umas as outras. Só quero ter certeza de que não vou te perder — As palavras saíram de forma lenta, quase parando. Logo veio à mente de Jungkook que ele poderia ter dito "Não me perder de você", e então ele saberia que a estação do metrô era o principal assunto, contudo, na realidade, era a menor de suas preocupações. Ele já havia perdido tantas possibilidades com as próprias mentiras. Por que repetir a dose? Sem esperar nada em troca, ele apenas envolve seus dedos ao redor do pulso de Jimin que, por sua vez e sem pensar demais, se solta para agarrar a mão do moreno. Se houvesse tempo no instante em que as portas do trem são abertas, Jungkook com certeza sentiria o coração quase saltar do peito.

Ele estava certo, pensou, Jimin, lutando contra o mar de gente que saia do trem e contra as pessoas que insistiam em entrar sem se importar com o fato de não haver espaço. Ele pensou consigo mesmo que aquelas pessoas também deveriam seguir as leis da gravidade, cada qual reconhecendo seu lugar e respeitando a passagem do próximo. Seguir à risca uma fila sem ligamentos.

Uma vez do lado de fora, Jungkook guarda para si o fato da mão de Saturno ser tão leve e macia quanto uma nuvem, e a estranha sensação de não querer mais soltá-la.

— Não há mais risco — Diz, Jimin, olhando para um ponto à frente, sem tentar se afastar do jovem ao lado.

— O quê? — Questiona, o moreno. Ele não sabe dizer ao certo se a vermelhidão nas bochechas de Saturno é por causa do esforço feito na estação, ou se ele está com vergonha de algo.

— A minha mão, Jungkook — Diz, se permitindo sorrir e, em segundos após, se condenando ao ver a expressão abobalhada na face do moreno — Você não corre mais o risco de me perder...

Jungkook balança a cabeça.

— Acho que só vou acreditar nisso depois de atravessarmos — Comenta, deixando seus lábios escorregarem para lados opostos. Pouco a pouco, o moreno parava de se preocupar de estar pisando em um terreno desconhecido, acalmando-se com a ideia de aquele dia em especial, poderia ser o início de algo que almeja já faz um bom tempo. Afinal, não havia mais mentiras, ou namorados sendo enganados, ou planetas se transformando em pessoas. Apenas dois jovens comuns em um passeio comum.

Jimin pensa em retrucar a desculpa esfarrapada, mas desiste ao sentir o corpo sendo puxado para frente, em direção a uma avenida na qual os carros se tornavam escassos até o momento em que não se via nenhum no final da rua. Após mais algumas quadras, Jungkook localiza o imenso prédio tão familiar aos olhos. Talvez ele conseguisse encontrar o caminho para o Museu Nacional de Gwangju de olhos fechados, contudo, seria triste perder a vista tão tranquila do lado de fora. Jimin, por sua vez, e inconsciente dos pensamentos do mais novo, também concorda que a arte não se começa dentro, mas fora do espetáculo. É o caminho do ápice, nunca o ápice do caminho.

Jungkook para, virando-se para o mais velho ainda sem soltar sua mão.

— Chegamos? — Indaga, Jimin, observando o imenso prédio de arquitetura grega atrás do moreno. Não se parece exatamente como um Museu, concluiu, Jimin. Para falar a verdade, quase poderia confundir-se com um prédio comum, com exceção da presença de colunas ligando o teto com a sacada na parte de cima do edifício.

— Sim, não é bonito? — Retruca, acompanhando o olhar do mais velho.

— Parece um prédio comum...

— É, eu sei. Acho que é por isso que gosto tanto daqui... — Reflete — Você será a primeira pessoa que trago. Não sou muito fã de compartilhar os meus lugares favoritos, sabia?

Jimin o encara de soslaio e, antes que questione, ele continua:

— É simples por fora e surpreendente por dentro. Você também vai gostar daqui, principalmente porque a entrada é gratuita. — Ele sorri, mostrando os dentes perfeitamente alinhados de alguém que usou aparelho na adolescência por longos anos. Entretanto, antes do céu ser substituído por um teto angelical, Jungkook nota a resistência nos passos do mais velho.

— O que foi?

— Vamos entrar assim? — Diz, Jimin, manuseando a cabeça em direção aos dedos entrelaçados.

Jungkook não tem uma resposta pronta, muito menos coragem de dizer que, sim, ele gostaria de entrar no museu de mãos dadas com Jimin. Onde estaria o problema naquele gesto? Mas a insegurança é uma sombra traiçoeira, que se aproxima pelas costas e se gruda na alma, nos impedindo de fazer tudo aquilo que queremos de verdade.

— Acharia estranho? — Indaga, Jungkook, transparecendo um fio de medo.

Jimin, silenciosamente, se amaldiçoou por aquilo. Desde sua chegada, ele luta contra os próprios instintos em relação ao mais novo. Ele gostaria de não ter sido tão descuidado a ponto de mostrar suas rachaduras, nem de deixá-lo se aproximar o suficiente para machucá-lo no momento de partida. Sim, Saturno não estava destinado a permanecer ali por muito tempo. E embora o papel dele na vida de Jungkook fosse a de sacudir a poeira debaixo do tapete e obrigá-lo a encarar a própria sombra, Saturno tinha lá os seus atrasos e segredos dos quais tenta, a todo custo, manter fora da vista do mais novo. Como o fato de não ser capaz de se deixar levar por um sentimento tão bonito entre os humanos, do que tipo que acalenta e, ao mesmo tempo, destrói. O amor.

— Só não quero fingir sermos o que não somos — Retruca, queixoso.

Os olhos de Jungkook perdem um pouco do brilho enquanto seus dedos deslizam para longe dos de Saturno.

— E o que somos, Jimin? — Ele questiona.

De repente, não há letras o suficiente para formar as palavras que Jimin deseja.

— Eu apenas sei o que nós não somos — Finaliza, antes de caminhar por conta própria para dentro do recinto, sem olhar para trás.

"Estou certo", pensou consigo mesmo —, "Devo começar a treinar o hábito de não olhar para trás, nunca."

Jungkook se cala e retoma as passadas, deixando de lado um céu completamente nublado, sem rastros de que, horas antes, havia uma manhã gloriosa para se admirar. Ele podia jurar que, de alguma forma, os céus pudessem representar os sentimentos de Saturno.  

SATURNO NUNCA FOI TÃO BELO jjk + pjm ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora