O mundo de Jeon Jungkook vira de cabeça para baixo quando, de uma hora para outra, ele precisa lidar com o fato de que Saturno desapareceu do universo num piscar de olhos e está diante de sua porta, materializado num humano lindo em níveis astronômi...
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Para Jungkook, quase todas as manhãs são destinadas a sentar no beiral da janela e observar seu bonsai, cautelosamente posicionado para pegar as quantidades de sombra e sol certas, porque é nesse gesto que o moreno sente o peito se livrar da maldita pressão diária e seus pensamentos tóxicos evaporarem para fora da mente. É podando sua belíssima miniatura de árvore, em meio às cinco e meia da manhã, que Jungkook se permite pensar ser a única coisa em que toca sem destruir.
Aquela relação íntima com o objeto teve início no natal passado, quando Taehyung o levou para o shopping afim de que o moreno escolhesse seu próprio presente, evitando o potencial risco de o namorado comprar algo que não o agradasse. Jungkook, é claro, não mediu os passos para entrar na biblioteca e fuçar os livros, encontrando, logo em seguida, um de capa simples e tão fino quanto seu dedo mindinho. Bonsai, estava escrito, de um autor chileno chamado Alejandro Zambra.
Até os momentos atuais, Jungkook jamais soube o que o atrairá para aquele livro, principalmente por não ser o tipo de estilo que ele gostava; ele apenas deu uma chance por estar curioso. Mas quem sabe, talvez, se não fora a sutileza das primeiras linhas que o manteve fielmente grudado a quarenta e duas páginas inteiras?
No final ela morre e ele fica sozinho
Quando enfim teve coragem de fechar o livro, ele caminhou na direção do quarto e olhou através da fresta da porta, vendo o namorado remexer-se entre os lençóis. A sensação no peito de que havia algo grande a ser feito tomou cada célula do corpo, o impulsionando por mãos invisíveis a pegar o casaco e as chaves em cima da mesinha de centro, e sair de casa para voltar, minutos após, com um bonsai nas mãos. Pode-se dizer que é uma das poucas coisas que o mantém com a esperança pulsando no coração, porque todo o resto o consome de dentro para fora, principalmente quando se trata de guardar segredos do namorado.
- Por que será que não estou surpreso de te ver namorando sua plantinha tão cedo assim?
Taehyung estreita os olhos para a janela, incomodado pela claridade.
- O sol nem sequer apareceu ainda. - Comenta, apertando de leve ambos os ombros do mais novo.
É o começo do dia; o céu inteiramente azul e sem sombra alguma do sol lançava sobre Jungkook uma espécie de mágica universal que o fazia sentir da vida um pouco mais de esperança. Esperança para vencer, esperança para construir o próprio futuro e, o mais fundamental, esperança para se achar no meio da bagunça que acumula durante os anos. Instintivamente o moreno inclina a cabeça para trás a ponto de encostar na barriga do namorado e encará-lo nos olhos por mais ou menos dois segundos. E então sorri, virando no banquinho para rodear os braços ao redor da cintura do mais velho.
Taehyung deposita um beijo no topo de sua cabeça.
- Vou fazer o café da manhã, mas primeiro preciso descer e pegar a correspondência na portaria. Pode esquentar a frigideira para mim?
