Capítulo 20

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Quando Lauren acordou no dia seguinte, não entendeu porque a cama estava vazia. Não acreditou que Camila tivesse ido embora sem dizer nada. Saiu do quarto procurando por ela e encontrou o pai no corredor com uma xícara de café na mão. Ele sorriu, passou a mão carinhosamente nos cabelos da filha e perguntou:

― Bom dia! Como foi a festa? - Lauren respondeu apressadamente, enquanto caminhava pelo corredor em direção à sala. Parou quando ouviu. ― O porteiro trouxe um quadro pra você. Lindo, aliás. Parece que a Camila deixou hoje cedo. Junto com um bilhete.

Quase correu, ignorando completamente o quadro. Só queria saber do bilhete. No papel dobrado Camila tinha escrito simplesmente: "Lauren". Desdobrou e leu:

Não vou dizer que a noite de ontem não deveria ter acontecido. Nós duas queríamos e, como sempre, foi maravilhoso e especial. Mas um relacionamento não pode ser baseado apenas em noites de amor embriagantes. A luz do dia traz de volta a sobriedade e a razão. E me faz ver que nada mudou. Continuo pensando exatamente como antes.

Lolo, se você me ama mesmo, só te peço uma coisa: por favor, não insista. Entenda que acabou.

Lauren não conseguiu mais controlar a entrada e saída de ar dos pulmões. Tentava desesperadamente respirar, sufocando. O barulho já conhecido chamou atenção do pai, que a fez sentar no sofá e rapidamente trouxe a bombinha, apertando-a três vezes dentro da boca de Lauren.

A crise de asma passou, mas a sensação terrível não melhorou nem um pouquinho. Ficou ali prostrada, com o pai a abraçando, o corpo dominado por uma estranha sensação de ausência de vida.

***

Depois que escreveu aquele bilhete, Camila não voltou para casa. Foi direto para o apartamento dos pais. A mãe abriu a porta já estranhando a menor nunca ia lá aos sábados.

Assim que a viu, soube que tinha alguma coisa errada. Camila confirmou abraçando-a com força e desabando nos braços da mãe num choro convulsivo, profundamente angustiado, de uma tristeza infinita. Exatamente como se alguém tivesse morrido.

***

O tempo passou e faltavam três dias para o Natal. Indescritível o estado de espírito das duas. Lauren resistiu bravamente à imensa vontade que sentia de voltar a ficar reclusa. Era uma verdadeira tortura, porque tudo a fazia pensar em Camila. Chorava por qualquer coisa. Do nada. Ninguém entendia, nem ela mesma. Não queria ouvir conselhos, comentários, incentivos. Em sua mente, estava gravada a última frase dela: "Entenda que acabou".

Entender até entendia. Mas como fazer o coração compreender, se ele pulsava e existia além dos limites da razão?

Camila nunca tinha perdido um parente ou amigo próximo. O máximo que tinha sofrido era o término de relacionamentos que, nem de longe, tinham o significado do que tivera com Lauren. Aquela sensação de vazio, como se um vácuo a separasse do resto do mundo, como se o peito estivesse repleto de uma total falta de cor, aquela presença amputada, sufocada, com gosto escuro, sombrio. Nunca tinha sentido.

Parecia se arrastar entre as pessoas felizes e animadas pelo espírito natalino, um verdadeiro sacrifício. Lauren com certeza diria, com aquele jeitinho de sorrir irresistível que Camila adorava, que aquela tristeza imensa no meio da alegria alheia era um "contraponto de emoções" ou um daqueles termos técnicos de teatro que ela tanto gostava de usar para analisar a vida.

Mas Lauren tinha aceitado o término sem problemas. Não tinha procurado Camila nenhuma vez. Nada. Nenhuma palavra. Sequer um telefonema. Nenhuma insistência. Exatamente como Camila tinha pedido.

I Hate Loving YouOnde histórias criam vida. Descubra agora